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O que diferencia o aprendizado dentro do próprio trabalho

Para tentar elevar o percentual de adultos com curso superior, a Inglaterra, há vinte anos, promoveu uma reforma universitária cujo objetivo era oferecer novas oportunidades de graduação no ambiente de trabalho. O método intitulado “Work Based Learning” (WBL) foi aplicado de diversas maneiras, através de parcerias entre o governo e algumas universidades.
Nesse processo, para aprender, o trabalhador não precisa se deslocar do local de trabalho ou fazer um curso on-line, cujo conteúdo está pouco relacionado com seu dia-a-dia. No WBL, o programa de certificação é elaborado pelos acadêmicos, mediante a observação da rotina descrita pelo próprio profissional. Ele diz quais são seus “gaps” e os professores desenvolvem um curso customizado para atender suas necessidades imediatas. O uso dessa metodologia contribuiu para que a Inglaterra baixasse nesse período o percentual de adultos sem diploma de 70% para 30%, segundo dados do Núcleo de Inteligência Coletiva Aplicada à Educação (Nice).
O professor Michael Eraut, um dos principais pesquisadores britânicos em WBL, participa na próxima quarta-feira, em São Paulo, do “I Seminário Internacional de Aprendizagem pelo Trabalho”. O evento promovido pelo Nice, no auditório do CIEE, pretende esclarecer aos brasileiros a aplicação dessa metodologia e como ela pode criar oportunidades de aprendizagem para profissionais maduros.
Eraut começou a se aprofundar no assunto em 1994, época da publicação do livro “Desenvolvendo o Conhecimento e Competência Profissional”. Professor da Universidade Middlesex, ele defende a tese de que as pessoas aprendem com tudo que realizam no trabalho, apenas não sabem reconhecer isso. “Claro que tudo depende do trabalho que a pessoa realiza, se é desafiador”, disse ao Valor em entrevista pelo telefone.
Para Earut, a simples observação de um colega no trabalho, seu gestual, a forma como ele conversa com um cliente, é uma forma natural de aprendizado. “Muitas coisas acontecem e você não mantém na memória por muito tempo”, diz. Através do WBL é possível sistematizar esse conhecimento tácito. “Isso pode ser muito útil quando as pessoas trabalham em grupo”.
A diferença do WBL e o que as universidades corporativas costumam oferecer é que este método não segue meios formais de treinamento. “Ele cria qualificações particulares e é muito mais flexível”, explica. A iniciativa é da empresa, do empregado, e ambos em parceria com uma instituição de ensino desenham como será feita essa aprendizagem.
A participação das universidades é fundamental para que o WBL funcione. “Elas têm o expertise para ajudar as companhias e as pessoas a adquirirem o conhecimento. Também sabem como gradua-los”, diz. Para Eraut, quando o trabalhador aprende fora do ambiente de trabalho, em um curso de especialização, por exemplo, terá que dedicar um tempo extra para estudar. Além disso, muito do que foi ensinado não será utilizado na sua rotina. “A diferença é o tipo de conhecimento que você obtém na universidade e o que você necessita para fazer coisas práticas. É difícil para as pessoas transferirem esse conhecimento de um contexto para outro”, diz. Mas, sem dúvida, a melhor maneira de encorajar o aprendizado é oferecendo certificações.
A pesquisadora do London Knowledge Lab da Universidade de Londres, Carmem Maia, que também participa do seminário, diz que na Europa existem várias experiências de sucesso baseadas no WBL. “Vários grupos profissionais já aplicaram este método”, conta. Eaut inclusive coordena um projeto chamado Linea (Learning in Nursing, Engineering and Accountancy) nas universidades de Brighton e Sussex, com vários grupos de diferentes áreas.
Para Carmen, autora de vários livros sobre educação a distância no Brasil, o WBL é uma alternativa para este tipo de ensino que acaba repetindo os modelos utilizados em sala de aula, onde existe pouca interação com o aluno”, diz. “Quando a pessoa participa do processo de criação do curso e vê um sentido, entende melhor o significado do que está aprendendo, tudo fica mais simples

Fonte: Valor

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