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O Papel dos Homens no Combate ao Feminicídio é Urgente!

O feminicídio tem crescido no país, e, mais alarmante ainda, tem se tornado cada vez mais brutal. Isso não acontece no vácuo. É fruto de uma cultura que, por décadas, normalizou comportamentos masculinos baseados em controle, posse, silenciamento e desumanização das mulheres. Quando um caso aparece no noticiário, muitos homens se apressam em dizer: “Eu nunca faria isso.” Mas essa frase, vazia e individualista, falha em compreender o tamanho do problema e, em vez de preveni-lo, frequentemente apenas reforça a omissão coletiva.

Quando fale-se que a maior parte da violência contra mulheres é cometida por homens, não é para distribuir a culpa indistintamente, é para uma responsabilidade estrutural. Trata-se de reconhecer que, como grupo social, precisamos agir de forma ativa. Isso passa por oferecer apoio real às vítimas, acreditar em seus relatos e compreender que sair de uma relação violenta envolve medo, manipulações, dependências emocionais e financeiras. Exige também repensar como educamos meninos: permitir que expressem emoções, que aprendam a lidar com frustração, que compreendam limites e que se libertem de padrões de masculinidade que associam poder e autoridade ao uso da força.

A violência de gênero também se reinventa e ganha força em espaços digitais. Fóruns e comunidades online transformam misoginia em “debate”, ódio em “opinião” e preconceito em “liberdade de expressão”. Movimentos como o redpill vendem a ideia de uma masculinidade ameaçada, estimulando comportamentos de rivalidade com mulheres e alimentando uma visão distorcida de papéis sociais. Entre jovens, esse discurso encontra terreno fértil, porque oferece respostas fáceis para inseguranças profundas: e é exatamente por isso que homens adultos precisam reconhecer esses ambientes, contestá-los e orientar os mais novos.

No nosso cotidiano, a violência raramente aparece em sua forma final. Ela começa pequena, nas atitudes de homens próximos: ciúme doentio, imposições, humilhações, vigilância constante, explosões de raiva que são tratadas como “temperamento”. Quase sempre sabemos quando algo está errado, mas escolhemos não intervir. Essa escolha, mesmo silenciosa, permite que a violência cresça até limites irreversíveis. Confrontar um amigo, conversar com um colega, alertar um familiar, isso não é invasão de privacidade; é um ato de cuidado coletivo.

Também é essencial se afastar de rodas que reforçam misoginia e violência. O ambiente importa — e muito. Às vezes, ser um homem melhor significa sair de um grupo de mensagens, recusar uma piada, interromper um comentário que todos fingem ser inofensivo. Pequenas ações têm impacto acumulado e ajudam a reconfigurar a cultura ao nosso redor. Preservar “o jeito que sempre foi” é aceitar que os problemas persistam exatamente como estão. Pertencemos à sociedade e, por isso, não podemos nos isentar do esforço de transformá-la.

Além disso, precisamos abandonar discursos prontos que tentam transformar desigualdade em privilégio. Narrativas que dizem que mulheres são “beneficiadas”, “interesseiras” ou “exageradas” servem apenas para esvaziar denúncias e colocar em dúvida histórias de dor reais. Esse tipo de fala não é neutro; ele alimenta o descrédito das vítimas e fortalece o terreno psicológico e social no qual o feminicídio se sustenta.

Combater o feminicídio é um trabalho de toda a sociedade — homens e mulheres —, mas exige que os homens assumam seu papel de forma consciente. Trata-se de um compromisso ativo: repensar comportamentos, educar meninos com responsabilidade emocional, enfrentar nossos pares, romper silêncios, rejeitar discursos violentos e construir ambientes sociais mais saudáveis. A mudança não virá de fora, nem de um dia para o outro. Ela começa em nós: nas conversas que escolhemos ter, nas atitudes que decidimos cultivar e nos comportamentos que deixamos de tolerar.

Não é sobre buscar uma perfeição inalcançável. É sobre assumir responsabilidade. E, acima de tudo, é sobre fazer parte da solução, não apenas repetir a confortável frase: “Eu nunca faria isso.”

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