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O controle de riscos evolui

A expressão “errar é humano” é quase um mantra que vem sendo repetido desde o começo da civilização. Somos todos passíveis de errar. Mas insistir no erro e, pior, possibilitar um ambiente em que um mesmo equívoco seja novamente cometido, pode ser imperdoável, do ponto de vista pessoal ou profissional.
No âmbito dos controles internos e do gerenciamento de riscos, o erro beira o inconcebível. Aliás, não é por acaso que a sociedade demonstra mais confiança em empresas que previnem perdas e, por essa razão, contam com mecanismos para mitigá-las, do que nas que as negligenciam. Por conta disso, desde a década de 1940 se iniciaram, nas empresas norte-americanas, os primeiros movimentos rumo à gestão de riscos e controles internos.
Na indústria de seguros e previdência complementar, em meio a uma plêiade de diferentes categorias de risco, dois deles se destacam. O primeiro é o risco de subscrição, também conhecido como risco de produto ou atuarial e que está relacionado às perdas oriundas da inadequação da metodologia e/ou das premissas atuariais adotadas pelas companhias, inclusive falhas na especificação dos produtos e nas condições de aceitação e precificação. Como as outras categorias de risco, precisa de monitoramento e acompanhamento. Um exemplo é a longevidade dos participantes que, devido ao aumento da sobrevivência, deve ser considerada nos compromissos contratados. Em suma, falo do improvement, que considera o aumento da longevidade do cliente versus a necessidade de honrar o compromisso de remunerá-lo no prazo e nas condições acordados.
O outro é o risco de mercado, que está relacionado à possibilidade de haver perdas para a seguradora decorrentes de mudanças não esperadas dos preços, indexadores, moedas, taxas ou prazos de direitos e obrigações. Neste sentido, imagine o tamanho dos prejuízos que uma empresa de previdência privada, que possui compromissos de longo prazo, pode vir a ter em decorrência de reinvestimento de passivos num período de muitos anos à frente. As decisões precisam ser tomadas hoje para mitigar perdas futuras. Os cuidados com riscos sistêmicos vêm, progressivamente, passando por um processo de evolução. No Brasil, em especial, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) adota modelos baseados em fórmulas de países ou regiões que têm mais histórico do que o nosso, como é o caso da adotada pela Associação dos Supervisores de Seguros (IAIS, na sigla em inglês), que dita, entre outras, as regras de solvência.
Focar nos controles necessários com vistas a mitigá-los é premente. Uma vez que riscos podem gerar importantes e lamentáveis perdas, há que se fazer com que estes não mais se repitam e, para isso, aconselha-se registrar tais erros. É evidente que há resistência entre os colaboradores neste processo, mas hoje ela é cada vez menor. A cultura de gerenciamento de risco vem se formando e consolidando e, hoje, sabe-se que a criação de um banco de dados de perdas operacionais é fundamental para o acompanhamento destes riscos. Falar em gestão de riscos, portanto, que antes era um “tabu”, torna-se cada vez mais comum, principalmente nas seguradoras. Cada vez mais são implementadas melhores práticas, muitas com decisões compartilhadas no intuito de diminuir futuros riscos.
Para tal, estruturam-se comissões e comitês específicos, segundo as complexidades e riscos aos quais estão constantemente expostos, e as medidas são tomadas a partir de pontos de vista de pessoas advindas de diferentes áreas e cujo consenso se dá depois nas comissões e comitês. O fato é que as companhias de seguros e previdência deveriam ser mais rígidas no que se refere a riscos do que as empresas de outros setores da economia. O ERM ainda é um tema muito discutido no mercado brasileiro, porém, ainda estamos alguns passos atrás dos mercados europeu e americano. Esses movimentos que ao longo de décadas vêm se aperfeiçoando, representam a constatação de que há, também nessas empresas, a marca da evolução que, vale evidenciar, deu início às questões relacionadas à governança corporativa e aos controles internos.
A regulação brasileira contempla a necessidade de controles internos e de transparência. E é a soma desses fatores que torna o segmento solvente, confiável e, com o perdão do trocadilho, seguro.
Celina da Costa Silva é superintendente de serviços técnicos e atuariais da Brasilprev Seguros e Previdência S.A.

Fonte: DCI OnLine

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