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O bom coração do médico

Hoje, a Associação Médica Brasileira reconhece, oficialmente, 53 especialidades com 54 áreas de atuação, algumas compartilhadas por duas ou mais especialidades. Tudo isso é necessário? Quem faz a pergunta é um dos mais competentes cardiologistas do país, o médico Adib Jatene, de 78 anos, meio século de atividade e ainda longe da aposentadoria. Depois de tantos anos de profissão, ele afirma que o que falta mesmo é o médico de família, o clínico-geral. É desse que o Brasil está mais necessitado e para o qual não falta emprego. De preferência, longe dos grandes centros.
Ex-ministro da Saúde por duas vezes (nos governos Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso), hoje dividindo seu tempo entre as funções de diretor-geral do Hospital do Coração (HCor) e professor emérito do Instituto do Coração (Incor) e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Jatene defende a criação de um exame semelhante ao aplicado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para o exercício da profissão de médico. Para ele, é uma forma de contornar dois problemas que afetam o ensino – a falta de qualificação profissional e a qualificação em apenas uma ou algumas poucas especialidades. “Com a multiplicação das escolas, essa medida é mais do que necessária. Não se pode autorizar o indivíduo que não está preparado a exercer a medicina”, diz.
O cardiologista: “Medicina hoje é uma profissão cuja única finalidade é cuidar de pessoas no meio de uma sociedade que não está interessada nas pessoas. Então, o médico vai ter que reforçar o sentimento do papel que ele exerce na sociedade”
No livro “Cartas a um Jovem Médico – Uma Escolha pela Vida” (Campus/Elsevier, 208 págs., R$ 29,90), ele faz uma análise da evolução que ocorreu na medicina nos últimos anos, aborda as dificuldades surgidas no exercício da profissão e levanta questões sobre a especialização e a formação do médico na escola. “As mudanças na sociedade e as deturpações da profissão fizeram que o médico se tornasse um prestador de serviços, com freqüência mal remunerado e obrigado a depender de múltiplos empregos”, critica. “Mas o médico que chega ao mercado agora precisa compreender que é um agente transformador capaz de lutar para que essa realidade se modifique e jamais ceder nos ideais que o levaram a lidar com a saúde.”
Trata-se de uma posição coerente com a carreira desse médico, nascido em Xapuri, no Acre, filho de imigrantes libaneses. Jatene conta que não estudou medicina para fazer cirurgia cardíaca, mas para voltar ao Acre e trabalhar para diminuir a desigualdade social naquela região. Quis o destino que ele se tornasse o aluno preferido do pioneiro Euryclides de Jesus Zerbini (1912-1999), na Faculdade de Medicina da USP, que realizou o primeiro transplante de coração no Brasil e o estimulou a fazer carreira nessa área. No Hospital das Clínicas, ele começou a mexer com mecânica e fazer coração artificial. Depois, no Hospital Dante Pazzenese, fabricou válvulas cardíacas artificiais, marca-passos e outros instrumentos e aparelhos, alguns dos quais possui a patente. Mas continuou preocupado com a saúde pública.

Fonte: Valor

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