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Novo modelo de seguro terá público-alvo de 40 milhões de pessoas das classes emergentes

Novo modelo de seguro terá público-alvo de 40 milhões de pessoas das classes emergentes
 
Regulamentado em junho do ano passado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), o segmento de microsseguros já trabalha com números mais realistas. Inicialmente, a previsão era de um mercado de até cem milhões de potenciais segurados das classes C, D e E, mas hoje o setor já trabalha com o patamar de 40 milhões de brasileiros, principalmente os que vivem em comunidades urbanas carentes e áreas distantes dos grandes centros. O texto final do projeto aprovado estabelece requisitos específicos para as seguradoras dispostas a investir no público de baixa renda, que já era atendido por aquelas que operam no chamado “seguro popular”.
A legislação prevê a criação de microsseguros em praticamente todos os ramos (com exceção de autos, que é inviável financeira-
mente), mas a expectativa é que as seguradoras optem por produtos ligados à morte acidental e despesas com funeral, que são os casos que mais afligem a população de baixa renda. O texto estabelece o valor máximo das coberturas nas áreas de vida e patrimônio. No caso de morte natural, acidental ou invalidez permanente, a cobertura máxima é de R$ 24 mil; para auxílio funeral, o valor é de RS 4 mil. Danos em local residencial são cobertos em até RS 30 mil, podendo chegar a RS 60 mil caso o imóvel seja usado como microemprcendimento (categoria a ser atendida por produtos específicos). 0 microsseguro pode ser feito até na forma de seguro-viagem, com cobertura de RS 1 mil para perda de bagagem e RS 2,7 mil em casos de despesas com médicos e dentistas. Já o valor do prêmio e
Segundo Cláudio Contador, diretor de ensino superior e pesquisas da Escola Nacional de Seguros, que participou de parte da elaboração do projeto, o modelo brasileiro atende às necessidades da população de baixa renda e oferece soluções próprias para fomentar a comercialização fora dos padrões convencionais. Os modelos de países emergentes, como a índia, partem de uma base social muito baixa ou então estão em um estágio de menor desigualdade social. “Creio que será um aprendizado para as seguradoras apenderem a lidar com este público que não está acostumado a comprar seguros”, diz. Contador acredita que a parcela ainda presente nas classes D e E e parte da classe C não será sensibilizada pelas seguradoras, uma vez que já são atingidas pelos serviços públicos essenciais, como o Sistema Único de Saúde (SUS), a Previdência Social e ações de prefeituras, como em funerais. “Produtos alternativos podem ser oferecidos, e isso vai representar um desafio para as seguradoras”, afirma. O modelo brasileiro introduz dois novos personagens, que já vinham sendo informalmente trabalhados pelas companhias que operam com seguros populares. O primeiro é o correspondente de microsseguros, que pode ser o dono de uma lotérica ou de um pequeno estabelecimento, ou ainda um correspondente bancário já instalado na comunidade. A Susep criou também o corretor de microsseguros, que terá capacitação diferenciada dos corretores tradicionais e estará apto a vender produtos em sua localidade. São pessoas que precisam ter credibilidade nas comunidades em que vi-vem, pois serão responsáveis pela venda e cobrança dos produtos. “As seguradoras que já operam no segmento popular saem na frente”, diz Contador. Até a segunda quinzena de abril, cinco companhias já haviam recebido aprovação da Susep – Bradesco Seguros, Caixa Seguradora, Aliança Brasil, Vida Seguradora e Panamericana -, além de outras em fase de análise. Por força da lei, todas precisarão formar empresas específicas para este fim, também como forma de diferenciar o novo produto dos atuais seguros populares. Para as seguradoras, não basta migrar do modelo de seguro popular para o microsseguro. A adequação exige normas específicas no formato e no prazo máximo que passa a ser de dez dias. “Vamos em parcerias nos adequar à nova legislação e com bancos aperfeiçoar a venda por meio dos comunitários corretores de microsseguros”, afirma César Lopes, diretor de vida da Caixa Seguros, que hoje atua com o produto popular Seguro Amparo para Morte e Auxílio Funeral. Com mais de 25 milhões de apólices vendidas em lotéricas e correspondentes bancários, a Caixa pretende ampliar sua atuação em comunidades urbanas junto a pessoas não bancarizadas por meio do uso de meios remotos (como celular) de pagamento. Hoje, o prêmio varia entre RS 30 e RS 60, que são pagos em uma única parcela anual. O seguro-amparo agrega também sorteios mensais de até RS 60 mil. Já aprovado pela Susep, o microsseguro Bradesco Proteção em Dobro foi lançado no primeiro semestre nas comunidades da Rocinha e Dona Marta (ambas no Rio) e em Heliópolis (em São Paulo), áreas em que a seguradora há três anos já opera seguro popular. Oferecido no formato “combo”, o microsseguro temcoberturas para danos em residência, acidentes pessoais e auxílio funeral, com três faixas de preços: RS 4,50, R$ 5,50 e R$7,50 mensais, com respectivas coberturas de R$ 10 mil, RS 15 mil e RS 24 mil. Eugênio Velasques, diretor-executivo da Bradesco Seguros, observa que o índice de adimplência é 32% mais elevado que em outras modalidades de seguro. “Pagar em dia é uma questão de honra para a população de baixa renda”, diz. Apenas no morro Dona Marta, foram vendidas 320 apólices do seguro popular, o que reforça a confiança da empresa. Embora atue com seguros populares em parceria com o Banco Palmas, banco comunitário sediado em Fortaleza (CE), a seguradora Zurich não tem planos imediatos de avançar na área de microsseguros. “Acreditamos mais em oportunidades de produtos voltados para a classe média. Com o aumento da renda das famílias brasileiras, creio que haverá demanda maior por produtos mais sofisticados e a procura pelo microsseguro deverá cair ao longo dos anos”, afirma Richard Vinhosa, CEO de vida e previdência da Zurich. A estratégia da empresa deverá ser firmar parcerias com novos bancos comunitários, tanto na região Nordeste como em centros urbanos, como nas comunidades Dona Marta e Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Formar parcerias também será o caminho a ser seguido pela Aegon Mongeral. No ano passado, a companhia lançou o seguro popular Minha Família em parcerias com a ONG Finsol e com a cooperativa Sicoob Crediseridó, para atuar no Nordeste. O produto oferece seguro de vida, auxílio funeral e sorteios mensais e tem como principal diferencial auxílio-alimentação (cesta básica) por um ano. Já foram vendidas 25 mil apólices, o que gerou um volume de prêmios de RS 1,6 milhão. Segundo Leonardo Lourenço, superintendente de marketing da empresa, o modelo será transposto para o formato de microsseguro ainda neste ano. Já a Capemisa optou literalmente por romper fronteiras. Ainda neste ano, a seguradora carioca será a primeira companhia estrangeira do setor a ganhar autorização nos últimos 50 anos para operar em Cuba. “Eles estão interessados em oportunidades de mercado. Hoje existe apenas duas seguradoras estatais em Cuba, que não operam em ramos de vida e seguros elementares”, diz José Augusto da Costa Tatagiba, diretor-presidente da Capemisa. A seguradora irá trabalhar também com seguro-viagem para turistas brasileiros, inclusive com despesas médicas e hospitalares. E apresentar aos cubanos o modelo de capitalização. O entrave a ser resolvido é quanto ao valor dos prêmios e coberturas que precisam estar de acordo com o padrão da população, estimada em 11 milhões de pessoas, distribuídas em apenas 15 municípios. O investimento previsto é de USS 5 milhões. Até junho, uma equipe de seis brasileiros deverá se instalar em Havana e formar uma rede de corretores nas demais cidades, nos mesmos moldes do que hoje é feito no Rio de Janeiro.

Fonte: Valor

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