Nos EUA, planos de pensão têm perda de US$ 2 tri
Nos últimos 15 meses, as quedas no mercado acionário já consumiram cerca de US$ 2 trilhões das poupanças de aposentadoria dos americanos, o que poderá obrigar os trabalhadores a permanecer no emprego mais tempo do que o planejado, apertar os cintos e possivelmente desacelerar ainda mais uma economia dependente dos gastos de consumo, declarou um importante analista orçamentário do Congresso.
Para muitos americanos, as pensões e os planos de aposentadoria são a única maneira de fazer uma poupança. A redução dos seus ativos – uma queda de cerca de 20% no geral – é mais um revés num período em que muitos consumidores lutam com os preços mais altos do gás e dos alimentos, as dívidas com cartão de crédito, o valor dos imóveis em queda e menos acesso a empréstimos.
“Ao contrário dos executivos de Wall Street, as famílias americanas não têm um pára-quedas ao qual recorrer”, disse o republicano George Miller, deputado pela Califórnia e chairman do Comitê da Câmara para Educação e Trabalho. “É claro que a segurança de aposentadoria dos americanos pode ser uma das maiores vítimas desta crise financeira”.
Mesmo as pensões e planos com benefício definido, tradicionalmente considerados mais estáveis, foram atingidos pela volatilidade do mercado acionário, perdendo 15% dos seus ativos durante o ano passado, disse Peter Orszag, diretor do Escritório de Orçamentos do Congresso, ao painel da Câmara.
Apesar das perdas, as empresas serão ainda obrigadas a pagar as mesmas aposentadorias prometidas aos empregados, mas precisarão recuperar esses gastos extras de outras maneiras, disse Orszag. “Quando os ativos das aposentadorias declinam, são os trabalhadores que arcam com isso”, disse ele. “Quando são os ativos das pensões de planos com benefícios definidos que caem, cabe à empresa o ônus de cobrir a diferença. E terá de passar os custos a seus trabalhadores, acionistas ou aos consumidores”. Planos com benefício definido são programas patrocinados pela empresa que pagam um montante específico ao funcionário quando ele se aposenta, com base no salário e tempo de serviço. A empresa arca com a maior parte do investimento e risco.
Os planos de contribuição definida, como o chamado 401(k), transferem a sobrecarga ao trabalhador e estão geralmente sujeitos aos caprichos do mercado de ações. Cada vez mais, os empregadores estão transferindo seus funcionários para os chamados planos de contribuição definida. O governo federal também incentivou muito esses planos, tendo aprovado uma lei de 2007 que facilitou para os patrões o registro automático dos seus empregados em tais planos e outros similares.
Os planos de contribuição definida tendem a ser aplicados com mais peso em ações, seja através de holdings individuais ou fundos mútuos. Como resultado, disse Orszag, “o valor dos ativos nesses casos pode ter declinado ligeiramente mais do que os ativos dos planos de benefício definido”. De janeiro a setembro de 2008, a perda porcentual média do saldo de conta entre os participantes do plano 401(k) ficou entre 7,2% e 11,2%, de acordo com a análise de mais de 2 milhões de planos, feita pelo Instituto de Pesquisa de Benefícios do Empregado.
Empregados mais velhos, com 56 a 65 anos, cujo tempo de permanência ainda no emprego é menor, foram os menos afetados, enquanto aqueles com 36 a 45 anos, que precisam cumprir mais tempo de serviço, sofreram as maiores quedas, disse Jack VanDerhei, diretor de pesquisa do instituto, que tem sede em Washington D.C. Empregados mais jovens tendem a ter mais ações em seus portfólios, enquanto os mais velhos buscam investimentos mais seguros, como os títulos.
As conclusões do estudo exacerbam uma queixa entre muitos empregados e acadêmicos, de que planos como o 401(k) e similares estão exageradamente vinculados ao mercado acionário. São eles os melhores instrumentos de aposentadoria para os trabalhadores? “A perda da segurança da aposentadoria é o reverso da fortuna e o resultado de políticas governamentais falhas, que deram preferência a planos de aposentadoria como o 401(k), e não tanto o resultado de mudanças tecnológicas ou conseqüência de tendências econômicas globais”, foi o que declarou Teresa Ghilarducci, professora de Análise de Política Econômica da New School for Social Research, ao comitê.
Para outros acadêmicos e analistas, esses planos beneficiam os empregados, porque permitem que eles controlem as suas aposentadorias.
Jerry Bramlett, presidente da empresa de consultoria BenefitStreet, disse que os participantes de planos como o 401(k) devem resistir às insistências para tirarem seu dinheiro investido em ações, porque desse modo nunca conseguirão se recuperar das perdas. “
Nos últimos meses, muitos investidores vêm comprando títulos do Tesouro, que rendem menos, porque são menos voláteis. Bramlett alertou para isso, dizendo que, com isso, ficarão vulneráveis à inflação. Assim, os participantes devem avaliar seus portfólios para se assegurar de que seu dinheiro esteja aplicado em investimentos de renda fixa e ações. Devem também se assegurar de que não têm um número excessivo de ações da própria companhia.
As pensões públicas também foram afetadas. Os ativos mantidos por planos de pensão de governos municipais e estaduais caíram mais de US$ 300 bilhões entre o segundo trimestre de 2007 e o segundo trimestre de 2008, segundo o Federal Reserve. Cerca de 60% dos fundos de pensão públicos estão investidos em ações, 30% em títulos de renda fixa, 5% em imóveis e os 5% remanescentes em outros produtos.
Para Miller, as conclusões são “catastróficas para as famílias de classe média”. Vários analistas declararam ao comitê que os trabalhadores mais vulneráveis são os que estão perto de aposentar, com grande saldo nos planos de aposentadoria, que agora está encolhendo. Os orçamentos domésticos mais apertados também estão prejudicando as poupanças de aposentadoria. De acordo com pesquisa divulgada esta semana pela AARP, 20% dos “baby-boomers” (geração dos anos 50) deixaram de contribuir para seus planos de aposentadoria no ano passado por causa de problemas para manter suas finanças equilibradas.
Mais empregados já vêm retardando a aposentadoria, tendência que analistas e economistas acreditam deve acelerar por causa da situação da economia. O número de pessoas com 55 anos ou mais trabalhando em tempo integral cresceu de 22% em 1990 para quase 30% em 2007, segundo o Escritório de Estatísticas do Trabalho.
Em 2016, prevê a agência, o número de trabalhadores com 65 anos ou mais deverá subir mais de 80% e será 6,1% da mão-de-obra total. Em 2006, eles representavam 3,6% da mão-de-obra ativa
Fonte: O Estado de São Paulo