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Nem sempre a culpa é dos planos de saúde

Muitas vezes, o plano não tem a opção de descredenciar um prestador que atrasa serviços, pois, apesar disso, ele tem boa reputação perante o cliente.
Os planos de saúde privados estão sob fogo cerrado. Não faltam razões, desde o reajuste da mensalidade até os serviços prestados. Aqui é necessário um parêntese para dizer que nunca é bom generalizar. Que, como em toda atividade, tem prestadores competentes e prestadores que não trabalham direito. Assim, se algumas reclamações são procedentes, outras não são. É o caso de bom número de reclamações que confunde o plano com o prestador de serviços. Uma operadora de plano de saúde privado não tem como obrigar o prestador de serviço a fazer mais do que ele está disposto a fazer. O plano não pode assumir a realização direta de procedimentos que são feitos por profissionais, hospitais e laboratórios especializados. Nem sempre a culpa pela demora no atendimento pode ser creditada à má vontade do plano de saúde. E esta é uma queixa que vem crescendo.
No caso da constatação de atraso, o máximo que a operadora pode fazer é descredenciar o prestador de serviços, mas isso pode ser tudo o que seu cliente não quer, o que também explica a demora no atendimento: por ser uma unidade de ponta, está sempre lotada.
Em função do crescimento do número de participantes dos planos de saúde privados nos últimos anos, uma grande parte dos hospitais e redes de laboratórios está com sua capacidade de atendimento subdimensionada. De um lado, com a inserção de milhões de brasileiros na economia formal, houve a explosão da demanda pelos planos privados, mas, de outro, não aconteceu a necessária expansão da rede de atendimento médico-hospitalar na rapidez indispensável para manter a qualidade do atendimento.
O resultado disso é que até os hospitais tidos como os mais sofisticados e caros do país têm filas de espera para exames, internação, cirurgia, parto, UTI, etc.
Eles estão lotados. E, ao contrário do que imaginam os juízes que dão liminares ordenando a imediata internação de um paciente numa determinada UTI – tanto faz se na rede pública ou privada –, a questão não é não querer atender. É capacidade. Se não é possível internar um paciente é porque não tem lugar.
Pela natureza do atendimento, não se confundem com os prontos-socorros dos hospitais que atendem o SUS, nos quais, na falta de lugar, se improvisa, colocando o paciente numa maca no corredor. Neles não há como aumentar a capacidade além daquela para a qual foram construídos e aparelhados.
A razão de ser dos planos de saúde privados brasileiros é garantir aos segurados um atendimento mais rápido, mais confortável e mais qualificado do que o oferecido pela rede de saúde pública. Por isso, é inimaginável, para alguém que paga caro para ter bom atendimento, ficar numa fila igual à do SUS.
É o paradoxo dos planos de saúde. São eles que garantem as pessoas que usam a rede privada de saúde. Como eles pagam bem, viabilizam os investimentos na qualidade do atendimento e o resultado é cada vez mais pessoas buscarem as organizações de ponta para resolver seus problemas de saúde. Aí é o que se vê: na medida em que tem mais segurados do que capacidade de atendimento, os hospitais de ponta têm fila de espera.
Em outras palavras, o sistema de saúde nacional está subdimensionado e próximo do limite. Não há mágica que resolva a superlotação, tanto na rede pública, como na rede privada.
Para mudar isso, só com investimentos consistentes. A rede privada tem investido intensamente, já o poder público tem feito demagogia.
O Brasil não precisa de mais 800 hospitais, nem importar médicos. Basta remunerar decentemente a rede hospitalar existente e os profissionais da área para que o problema se reduza rapidamente.
Em vez de criar hospitais para se transformarem em elefantes brancos, apodrecendo ao longo do tempo, é mais barato e mais eficiente dar condições de funcionamento à rede pública, além de facilitar o financiamento das ampliações da rede privada.
Se o governo fizer a sua parte, os problemas se resolvem e os titulares de planos privados terão o atendimento que esperam.
*Presidente da Academia Paulista de Letras, sócio da Penteado Mendonça Advocacia e comentarista da ‘Rádio Estadão’

Fonte: O Estado de São Paulo

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