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Na crise, seguradoras reagem com fusões, sem evitar perdas

Um pouco antes do início da temporada dos balanços referentes ao último trimestre e ao fechamento de 2008, os grandes grupos seguradores internacionais decidiram entrar numa onda de fusões e aquisições para aproveitar boas oportunidades e tentar minimizar a devastação causada pelo tsunami financeiro que abateu o mundo a partir de setembro do ano passado. A estratégia, entretanto, não evitará prejuízos e restruturações. O grupo financeiro holandês ING, sócio da SulAmérica no País, anunciou ontem prejuízo de EUR 3,3 bilhões nos últimos três meses do ano passado e a demissão de 7 mil funcionários.
No caso das companhias brasileiras, bem mais protegidas contra a crise por conta de duras regras de aplicações de reservas, a projeção de resultados menos imponentes em 2009 abre espaço para tendência similar no mercado nacional, embora de maneira menos intensa.
Ontem, o Santander confirmou que está negociando os 50% da carteira de vida e previdência privada do Banco Real, em poder da seguradora Real Tokio Marine Vida e Previdência, do grupo japonês Tokio Marine. A instituição espanhola passou a controlar a outra metade do negócio quando adquiriu parte dos ativos do holandês ABN Amro. Além disso, o início de 2009 foi bastante movimentado no mercado internacional de seguros. Somente na semana passada as gigantes alemãs Hannover Re, HDI e Allianz foram protagonistas de negócios bilionários. A primeira comprou a carteira de vida da resseguradora Sccotish Re, numa transação que deverá render um volume de prêmios de US$ 1,2 bilhão em 2009. A HDI Seguros, que tem forte presença no ramo de automóveis no Brasil, adquiriu a Genworth Seguros México – unidade do grupo norte-americano de seguros financeiros Genworth Financial, empresa altamente exposta a transações com subprime nos Estados Unidos. Já a Allianz recebeu autorização do Federal Reserva (Fed, o Banco Central dos EUA) para aportar US$ 2,5 bilhões na Hartford Financial Services, que também conta com operações de seguros no Brasil.
“É uma tendência natural do mercado segurador, que está imbricado nesses problemas. Um grande grupo que tem uma reserva investida de US$ 500 bilhões com certeza terá uma parte podre. Por causa da crise, a regulação será mais intensa, o regulador vai exigir que a companhia faça a composição dessa parte podre. Isso vai levar a situações de insolvência e de aperto, que resultam no movimento de “mergers” [fusões]”, explicou um experiente profissional com vínculos com multinacionais do setor.
Solicitando sigilo, a fonte disse ainda que seguradoras de bancos, por exemplo, deverão focar seu core business, podendo unir forças com empresas especializadas para operar no segmento de ramos elementares – seguros patrimoniais em geral. “Outro fator que justifica a tendência de fusões é a aversão ao riso, que é exatamente a antítese da motivação de toda essa crise. O banco de varejo não quer muito risco, além do atuarial. Ele empresta dinheiro e conhece sua capacidade de indimplência. Os bancos já estão saindo de ramos elementares e vão focar muito em vida e previdência privada, produtos de acumulação em geral”, disse.
Um exemplo desse cenário é o Bradesco, que conta com suas seguradoras para compor quase um terço do resultado total. A maior parte dessa contribuição, porém, vem das empresas que comercializam seguros de vida e planos de PGBL e VGBL.
Para o especialista Francisco Galiza, da consultoria Rating de Seguros, o mercado brasileiro poderá encarar um processo de fusões e aquisições, mas em um ritmo menos intenso. “Pode haver uma tendência, mas não será tão forte como lá fora. O que temos agora são boatos, que podem ou não se concretizar.”
Segundo Galiza, a projeção de resultados inferiores para 2009 deverá pressionar as seguradoras do País considerar uma operação desse tipo. “Já vimos resultados menores em novembro do ano passado e com a queda de receita prevista para este ano por conta da desaceleração da economia, algumas empresas podem se assustar e decidir vender ou entrar em fusões. A queda no resultado com receita menor é perigoso, mas tudo é questão de tendência”, completa.
A companhia holandesa de serviços financeiros ING informou ontem que deverá registrar perdas de EUR 3,3 bilhões quarto trimestre (estimativa preliminar e não auditada). A instituição também anunciou a renúncia de seu executivo-chefe, Michel Tilmant, e a demissão de 7 mil funcionários, com o objetivo de cortar custos. Somente na atividade de seguros, a sócia da SulAmérica registrou prejuízo de EUR 2 bilhões no período.
A seguradora brasileira emitiu nota, procurando se desvincular das medidas do parceiro internacional. “A SulAmérica informa que não mantém vínculos operacionais ou financeiros de seguros ou resseguros com o Grupo ING, com o qual mantém sociedade desde 2002. A companhia esclarece ainda que as recentes notícias sobre o ING não trazem qualquer relação com a operação da seguradora no Brasil.”

Fonte: Gazeta Mercantil

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