Mulheres são mais colaborativas e têm visão mais humana do negócio
Mulher, de origem negra, nordestina e criada na periferia de Diadema, na Grande São Paulo. “Eu sou um kit diversidade”, se apresenta Ana Fontes, idealizadora da maior rede de apoio ao empreendedorismo feminino no Brasil.
O G1 publica esta semana uma série de 5 reportagens com mulheres empreendedoras que comandam negócios de impacto social.
“Em alguns ambientes mais elitizados esse kit não é bem aceito. Sinto que tenho que batalhar mais do que os homens, porque a quantidade de obstáculos é maior para as mulheres”, afirma.
Para diminuir essas barreiras, a empresária criou em 2010 a Rede Mulher Empreendedora, e hoje reúne 1 milhão de pessoas em busca de apoio para desenvolver seus negócios.
Ana Fontes começou a empreender em 2008, cansada do trabalho formal em uma multinacional. Em sociedade com dois amigos, criou uma plataforma de recomendações positivas na internet. Segundo ela, foi um momento de muitos erros.
A virada de chave aconteceu quando foi selecionada em um programa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que capacitava mulheres com pequenos negócios sem recursos financeiros. Ana foi uma das 35 selecionadas entre mais de mil inscritas.
Conhecimento compartilhado
Pensando na injustiça que era não ter esse conhecimento compartilhado com as outras mulheres, Ana escreveu um bilhetinho para uma colega: “A gente podia criar uma rede para mulheres empreendedoras”.
Foi assim que surgiu um blog para dividir a experiência que tinha no curso da FGV: “Eu traduzia tudo em uma linguagem minha, muito simples”.
Um ano depois, a empresária tinha 100 mil mulheres acompanhando essas postagens. Algumas colegas do curso da FGV também colaboravam escrevendo sobre suas experiências, sempre de empreendedora para empreendedora.
“A rede foi crescendo, mas só a partir do terceiro ano se tornou um negócio formal, uma plataforma social de apoio às mulheres”, conta.
Círculo de apoio
Muitas mulheres não empreendem por vontade própria, mas por necessidade. Elas estão em busca de flexibilidade, explica Ana.
“Muitas vêm do ambiente corporativo, que é um ambiente hostil para mulheres, principalmente as que têm filhos pequenos”, afirma.
O foco da Rede Mulher Empreendedora é estimular a autoconfiança dessas mulheres e ajudá-las a abrir e manter seus negócios através de cursos, mentorias, formação de rede de conexões, aceleração, busca de capital e, em alguns projetos, até a doação de recursos financeiros.
“A ideia é que, quando essas mulheres estejam estabelecidas, possam ajudar outras empreendedoras e assim fomentar um círculo positivo de muita força e união”, conta.
Fazer parte da rede não custa nada para as mulheres, porque no modelo de negócios adotado por Ana o dinheiro chega das grandes empresas, através de doação, patrocínio ou compra de consultoria. Apenas alguns programas específicos são pagos.
“A gente acredita que é muito importante incluir. As mulheres já foram excluídas de todo o processo a vida inteira e a questão do dinheiro não deve ser uma forma da exclusão”, ressalta a empresária.
Veja abaixo alguns trechos da entrevista do G1 com Ana Fontes.
O poder das mulheres
“As mulheres hoje são a maioria da população do planeta e são mães da outra metade. Mas ainda, infelizmente, em 2021 não têm as mesmas condições e oportunidades, e nem têm os seus direitos respeitados” .
De acordo com a empresária, as características da liderança feminina são muito interessantes para os ambientes empresariais.
“Mulheres são mais colaborativas e têm uma visão mais humana do negócio. Elas conseguem olhar para todos os pontos de um problema e solucioná-lo”.
Estilo diferente de empreender
Para Ana, homens e mulheres têm formas diferentes de olhar para os problemas que surgem no caminho.
Durante a pandemia do coronavírus, por exemplo, as mulheres focaram em mudanças estratégicas em seus negócios, enquanto os homens buscaram cortar gastos e obter empréstimos, de acordo com pesquisa da Rede Mulher Empreendedora.
“Elas foram mais atentas, inovadoras, buscando informação e capacitação e pensando também no cenário pós-pandemia. No estilo de empreender, as mulheres saem na frente dos homens”.
Estudo do Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae) também mostra que durante a pandemia as mulheres foram mais rápidas que os homens em inovar, oferecer novos produtos e serviços e usar a tecnologia para ampliar as vendas.
“Não está fácil e ninguém está vivendo uma vida tranquila, muito pelo contrário. Mas a mentalidade das mulheres é de solução e sobrevivência”.
Diversidade nas empresas
Para Ana, as empresas estão tomando consciência da importância da diversidade, mas ainda há uma jornada para que a ação seja mais efetiva.
“É preciso dar oportunidades iguais, oferecer um ambiente interno respeitoso e considerar a diversidade incluindo todas as mulheres, as negras, as trans e as com mais de 50 anos”.
O que precisa melhorar
As mulheres precisam ter mais acesso ao crédito, o que, na opinião da empresária, ainda é muito negado no Brasil. Capacitação e acesso ao mercado também são importantes.
“Precisamos ter políticas públicas de inclusão, grandes empresas comprando de pequenos negócios. Tem que colocar dinheiro na mesa, acesso ao dinheiro é fundamental para os negócios dessas mulheres se desenvolverem”.
Outro ponto importante, de acordo com a empreendedora social, é rede de apoio e creches disponíveis para os filhos dessas mulheres.
Conselho para quem quer empreender
Ana acredita que o empreendedorismo traz oportunidades de resolver problemas reais.
“Através da criação de negócios a gente pode trabalhar problemas reais da nossa sociedade para construir coisas que venham a melhorá-los”.
Fonte: NULL