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Microsseguro cresce na pandemia

Que a pandemia atingiu em cheio o mundo dos seguros ninguém contesta, mas alguns produtos da indústria têm passado por uma mutação muito mais profunda sob efeito das transformações ocorridas na esteira do combate ao coronavírus, conta o Valor Econômico.

Nesse cenário, os ramos massificados e os microsseguros têm se tornado peças-chave para suprir as lacunas de proteção das classes com menor poder aquisitivo, como serviços de saúde. Também se revelam um laboratório de ensaio de novos modelos de atendimento e serviços que tiram os produtos habituais do setor da tradicional passividade

“Quando a gente se depara com uma situação tão dura como é a pandemia, isso desperta a população para a questão do risco e para as escolhas que devem ser feitas”, pondera o presidente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada, Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), Marcio Coriolano. “E [o medo] atacou todo mundo indistintamente, não teve estrato de renda, nem classe social.”

Para Coriolano, esse ambiente tem impulsionado uma busca por serviços diferenciados e a necessidade de maior acesso aos produtos. Nos cálculos da CNseg, o mercado de seguros para baixa renda soma cerca de 100 milhões de indivíduos adultos.

No cenário mais agudo da pandemia, a Axa e a Pernambucanas, que renegociaram a parceria de distribuição de seguros no fim do ano passado, decidiram criar produtos que vão muito além das indenizações em caso de sinistros.

O microsseguro “Cuidar Mais Pernambucanas” agrega serviços de saúde, que o cliente pode utilizar a qualquer momento, às tradicionais coberturas de morte e invalidez. A solução disponibiliza uso ilimitado de consultas de telemedicina e oferece diárias de internação, além de descontos em atendimentos presenciais, exames e medicamentos em uma rede de prestadores cadastrados.

Segundo o CEO da Pernambucanas, Sergio Borriello, “os planos de saúde de maneira geral são muito caros e o atendimento do SUS é, em geral, demorado e ruim”. Por isso, acrescenta o executivo, “acabamos chegando a uma solução que supre essa lacuna, com a possibilidade de o segurado ter acesso à consultas de telemedicina, uma rede de desconto para exames e internação, fora a própria indenização em caso de acidentes ou fatalidade”.

A CEO da Axa Brasil, Erika Medici, reforça o conceito geral do produto. “A gente endereça uma situação como falta de plano de saúde, conseguimos dar um suporte de emergência nos momentos mais adversos.”

Na previsão da executiva, o microsseguro, distribuído pela rede de lojas e pelo canal digital da varejista, pode alcançar 4 milhões de clientes. Os planos são comercializados por valores de R$ 44,99 por mês, no caso de cobertura individual, a R$ 70,99 mensais, com inclusão de três dependentes.

De acordo com Erika, a ideia não é substituir o plano de saúde, um produto com abrangência e complexidade muito maiores. “Queremos oferecer um apoio básico, que possa suprir a necessidade de atendimento específico para os usuários”, explica. As consultas por telemedicina, por exemplo, podem ser feitas a qualquer horário e dia, inclusive fins de semana. Os médicos que atendem pelo canal digital, seja celular ou computador, podem prescrever medicamentos. “A telemedicina é uma conquista que acabou ocorrendo devido à pandemia”, explica a CEO da Axa.

Os custos de um microsseguro são mais acessíveis às classes C, D e E. Para se ter uma referência, simuladores on-line mostram que planos de saúde por adesão na faixa etária acima de 33 anos têm preços a partir de R$ 220 ao mês. Para indivíduos acima de 44 anos, o preço sobe para cerca de R$ 300 mensais. Dentro da parceria, a Axa e a Pernambucanas desenvolveram ainda outros microsseguros nos quais o maior apelo está justamente na utilização de assistências.

O produto “Mulher Pernambucanas” endereça uma questão de saúde feminina, o câncer de mama, útero, ovário ou próstata. Além de indenizações, no caso de sinistros, a cobertura oferece consultas médicas e checkups regulares para o acompanhamento da saúde da usuária e proporciona descontos em uma rede de fornecedores cadastrados para exames e medicamentos.

O microsseguro de “Proteção Digital”, por sua vez, oferece suporte técnico remoto que funciona 24 horas nos sete dias da semana, para resolver problemas e tirar dúvidas de tecnologia. Também disponibiliza um serviço de monitoramento familiar para o beneficiário acompanhar o que os filhos acessam na internet. Na BB Seguridade, segundo o CEO, Marcio Hamilton Ferreira, “no auge da pandemia, praticamente todo mundo foi rever seu seguro de vida, se estava adequado”.

Os sinistros relacionados à covid-19 na holding de seguros, previdência e capitalização, controlada pelo Banco do Brasil, atingiram R$ 135 milhões e 2 mil casos até o terceiro trimestre. As vendas de seguros de vida dentro dos canais digitais subiram 38% de janeiro a setembro na comparação com o mesmo período do ano passado.

O novos produtos de vida lançados em plena pandemia pela Brasilseg, que faz parte da BB Seguridade, trazem diversas assistências. No segmento de seguros populares, no plano mais completo, batizado de “Vida Total”, os benefícios incluem o monitoramento da qualidade do sono, ritmo cardíaco, contagem de passos e outras indicadores de saúde por meio de uma pulseira inteligente oferecida aos usuários do serviço.

O produto oferece ainda terapia on-line, voltada ao bem-estar emocional, além de mapeamento genético, que permite ao usuário conhecer aspectos específicos do DNA, desde a origem ancestral até características hereditárias que podem ajudar na adoção de hábitos saudáveis. O pacote de serviços, na verdade, pode trazer ainda muitas outras opções como orientações fitness, nutricional, psicológica e até consultas veterinárias para os animais de estimação. “Nós não oferecemos mais um seguro de vida, mas um seguro para a vida”, afirma o presidente da Brasilseg, Rodrigo Caramez. “A gente traz benefícios para que as pessoas possam usar no dia a dia”, diz.

O presidente da Brasilseg explica que as inovações aceleraram na pandemia. “Ficou muito evidente que o foco tem de ser no cliente, na sua experiência. Esses benefícios tornam a vida do cliente mais saudável e isso é só o começo”, afirma o executivo. Outra seguradora, a Icatu, lançou em maio uma parceria com o Banco do Nordeste (BNB) para a distribuição de microsseguros. “O propósito da companhia ganhou ainda mais relevância durante a crise atual, no caso do acordo com o BNB, de democratizar o acesso a produtos de vida e previdência”, afirma o CEO da companhia, Luciano Snel.

Para o executivo, “a experiência é o produto atualmente”. Segundo Snel, “com a pandemia veio a tona essa questão da vulnerabilidade e vemos uma demanda crescente por serviços agregados” nos seguros. A telemedicina é um dos serviços oferecidos nos produtos da parceria da Icatu com a instituição financeira. Mas, segundo o CEO da seguradora, outros benefícios serão agregados.

“Estamos aprendendo com essa assistência. Teremos novas assistências que são valorizadas pelos clientes. Faz parte, inclusive, de estudos do Icatu Labs entender quais assistências para os diferentes perfis de clientes e em cada região podemos oferecer.”

Antes da parceria com o BNB, a Icatu já tinha lançado um produto de previdência popular oferecido em conjunto com a varejista Marisa. “A gente tem uma parceria de um produto de previdência popular, a partir de R$ 70 por mês, que são pagos por meio do cartão da varejista e que combina previdência com produto de vida”, conta Snel.

Fonte: NULL

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