Microfinanças podem assegurar sustentabilidade aos ganhos de renda da população
CEBDS lançou nessa terça-feira, 29, estudo que traz raio-X do setor e traça ações futuras para estimular desenvolvimento econômico sustentável do país
O Conselho Empresarial Brasileiro para Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) lançou nesta terça-feira (29) a publicação Microfinanças: Microcrédito e Microsseguros no Brasil: O papel das instituições financeiras, na sede da Allianz Seguros, em São Paulo. O evento reuniu cerca de 50 profissionais dos mercados financeiro e segurador para debater os desafios e oportunidades de negócios para atender às demandas das classes C, D e E da população.
O estudo evidencia que o segmento se consolida hoje como o mais adequado para a população de baixa renda, tradicionalmente excluída do sistema financeiro, já que no Brasil 52,8 milhões de pessoas acima de 16 anos estão excluídas do mercado financeiro formal e 40% da população economicamente ativa vive na informalidade. Além disso, o estudo mostra que a microfinança tem o potencial de minimizar a desigualdade social e gerar sustentabilidade financeira para o Brasil. Os programas de microfinanças incluindo crédito, seguro e outros produtos do mercado financeiro para pequenos empreendedores, formais ou informais estão entre as mais promissoras estratégias de combate a` exclusão social na atualidade, afirmou Marina Grossi, presidente do CEBDS.
Os bancos Bradesco, Santander, Itaú, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e as seguradoras Allianz Seguros, BB e Mapfre e Bradesco Seguros participaram da publicação e contribuíram com seus cases e experiências de implementação desses produtos em suas carteiras de vendas. No mundo, cerca de 25 bilhões de dólares são aplicados por ano pelo setor de microfinanças. Essa quantia, suficiente para atender apenas 10% da demanda (pessoas economicamente ativas em microempreendimentos), é insignificante quando comparamos com os 225 trilhões de dólares que o mercado financeiro global movimenta anualmente. Já no Brasil as carteiras de microfinanças operam com 1,8 bilhão de reais (ou 540 milhões de dólares), patamar igualmente pequeno quando observamos nossa demanda reprimida.
Cláudio Boechat, professor da Fundação Dom Cabral, defendeu a ideia de que o assunto é de ampla discussão.Temos que tratar não só de microcréditos e microsseguros, por isso propomos o tema microfinanças como um todo, para que possamos imaginar nosso país nesse processo de fato inclusivo, por meio do mercado financeiro, declarou.O estudo aponta que as seguradoras estimam que há um público de 100 milhões de pessoas para adquirir microsseguro. De abril a agosto de 2013 (depois da regulamentação do produto microsseguro) três seguradoras venderam R$4,51 milhões em prêmios de acordo com a Susep. Segundo projeções da CNSeg, o setor tem potencial para fechar o ano com R$16,49 milhões em prêmios e quintuplicar esse montante em 2016.
De acordo com Maria Elena Bidino, Superintendente de Relações com o Mercado da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), o seguro, de maneira geral, tem uma penetração pequena em todas as classes, especialmente para a população de baixa renda. As empresas estão estudando como entrar no mercado de microsseguro. Temos que desenhar um produto específico, que tenha a linguagem adequada e atenda as necessidades. Esse é o grande desafio. É preciso quebrar paradigmas no seguro, afirmou.
O estudo ainda evidencia que, ao contrário das iniciativas filantrópicas, os programas de microfinanças geram benefícios para todos os atores envolvidos: para o empreendedor e seus vizinhos, já que 70% da renda gerada pelos pequenos empreendimentos circulam dentro da comunidade em que vivem; para as empresas, a prospecção desse novo negócio tem forte potencial de expansão, valoriza os ativos intangíveis das instituições financeiras, fortalece o mercado formal e o consumo de produtos e serviços; o setor governamental amplia sua receita com a geração de renda e aumenta sua capacidade de investir em programas de saneamento e recuperação ambiental, educação, mobilidade, segurança e tantas outras demandas.
De acordo com o Banco Central um quarto da população brasileira é de microempreendedores, que com crédito orientado poderiam fazer crescer seus negócios. Mas apesar desse cenário favorável, ainda há uma série de dificuldades e peculiaridades regionais que dificultam essa inclusão: mudança de linguagem, treinamento, educação financeira e distribuição. Uelinton Rolim, do Santander Microcrédito, que já foi agente de crédito na Paraíba disse que o mercado da classe D e E é muito exigente. Eles querem não só um produto barato, querem qualidade e ser bem atendidos, afirmou.
Dados comparativos dos bancos, que participaram da publicação:
Banco
Iniciativas de microcrédito
Banco do Brasil
Iniciou as atividades de microcrédito em 2004.
Até março de 2013 tinha 774 mil clientes e saldo de R$ 837 milhões em empréstimo.
Bradesco
Iniciou parceria com Correios (Banco Postal) em 2001.
Conquistou, somente em 2012, mais de 1,3 milhão de novos clientes das classes D e E.
Abrem cerca de 8 mil contas por dia de pessoas com renda de até 2 salários mínimos.
Caixa Econômica
Iniciou as atividades de microcrédito em 2002.
Tem uma base de 15 milhões de usuários no Conta Simplificada.
Itaú
Iniciou as atividades de microcrédito em 2003.
Apenas com o produto Microinvest realizou 45 mil financiamentos com R$ 146 milhões em empréstimo (desde 2003).
Aplica, em média, R$ 320 milhões por mês em microcrédito, por meio das operações 1º e 2º piso.
Santander
Iniciou as atividades de microcrédito em 2002.
Evoluiu de 80 clientes, em 2002, para 270 mil clientes em 2013.
Só este ano investiu R$ 500 milhões em linha de microcrédito, o que representa 14% do mercado de microcrédito nacional.
Fonte: Revista Cobertura