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Mercado encolhe e se volta para as empresas

Empurrados pela explosão dos custos médicos e prejuízos crescentes, as
operadoras e seguradoras de saúde estão diminuindo em quantidade e, quem
fica, passa por profunda reorganização de seus negócios. A fase em que os
prestadores de serviços (médicos e hospitais) apresentavam seus custos e as
seguradoras pagavam, acabou. Gerenciamento de gastos virou palavra de ordem
e programas de prevenção de doenças dos segurados estão sendo cada vez mais
reforçados, tanto em operadoras quanto em seguradoras de saúde.
Em 2005, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) interveio em 40
empresas, entre elas grandes e conhecidas como Interclínicas e Unimed São
Paulo, mas a maioria era de pequenas empresas de atuação local. Entre as
seguradoras, muitas já vinham deixando o negócio e vendendo suas carteiras.
Sobraram uma dezena delas no mercado, das quais as duas maiores (Bradesco e
SulAmérica) dominam cerca de 80%, e mesmo assim pararam de vender planos de
saúde individuais.
O impasse na saúde suplementar está na regulamentação, criada com a Lei
9656/98. Ao mesmo tempo em que exigiu a cobertura de doenças pré-existentes
e garantiu amplo atendimento aos usuários, a lei limitou o repasse dos
aumentos das despesas para as mensalidades, definindo os reajustes a partir
de uma média anual. Com o tempo, a diferença entre os reajustes e os custos
médicos fez com que os planos ficassem financeiramente desequilibrados.
Até outubro, último dado disponível, de 2,1 mil empresas com registro
provisório na agência em 2004, pouco mais de 1,6 mil apresentaram
documentação para renovação de licenças em caráter definitivo. Das 500
restantes, 46 foram retiradas do mercado por não atenderem aos requisitos
mínimos técnicos, administrativos e financeiros. As demais simplesmente
preferiram não renovar a licença. Desde 2000, quando a ANS passou a
regulamentar o setor e havia cerca de 3,5 mil operadoras e seguradoras de
saúde em atividade, foram cancelados os registros de 1.196 empresas e 48
entraram em liquidação extrajudicial.
Este é um mercado cada vez mais concentrado, com 85% dos usuários atendidos
por 171 empresas, reconhece Alfredo Cardoso, diretor de normas e habilitação
da ANS. Para ele, é um movimento natural: “Todo mercado regulado passa por
uma fase de concentração”. Além disso, a saúde suplementar está se
transformando em uma opção apenas para os trabalhadores formais, ao
contrário do que se pretendia com a aprovação da Lei em 1998, que era
ampliar o atendimento médico de qualidade a todos.
O alvo das operadoras e seguradoras hoje é a venda de planos corporativos,
principalmente para as pequenas e médias empresas, onde a legislação permite
a livre negociação de reajustes. “A regulamentação desestimula a venda de
planos individuais”, afirma Jin Whan Oh, presidente da Medial Saúde, que
passou a ser mais seletiva e cautelosa na venda de planos individuais e
centrar todos os esforços na venda para pequenas e médias empresas.
“As pessoas estão ficando sem alternativas”, afirma Marilia Ehl Barbosa,
presidente da União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde
(Unidas). Valter Hime, presidente da Gama Saúde, administradora de planos de
terceiros, vê uma tendência de “verticalização via redes próprias”, com o
objetivo de aumentar o controle de gastos e a negociação de preços.
Com a saída das seguradoras dos planos para pessoas físicas, as medicinas de
grupo tomaram parte do espaço. Mas, para Cardoso, a tendência é de
concentração: “As grandes têm o benefício da escala. Nas menores, além da
falta de escala, vemos que o risco tornou-se menos previsível e elas têm
mais dificuldades com os custos ascendentes”. A ANS calcula que 75% a 80%
desses custos são assistenciais (consultas, internações e exames), as
despesas administrativas estão em torno de 11% nas seguradoras, 15% a 16%
nas cooperativas e 17% a 18% nas empresas de medicina de grupo. “Houve
redução nos custos assistenciais baseada em negociação e também o
enxugamento das despesas administrativas. Há ainda uma revisão das despesas
de comercialização”, diz Cardoso.
Segundo a ANS, o número de usuários cresceu cerca de 2 milhões em 2005,
totalizando 42,4 milhões de pessoas, sendo que a maior parte desse
crescimento se deu nos planos exclusivamente odontológicos. Mas o mercado
questiona esses números. Arlindo de Almeida, presidente da Associação
Brasileira das Empresas de Medicina de Grupo (Abramge) calcula em 35 milhões
o número de usuários de planos e seguros de saúde e 5 milhões em planos
odontológicos, num total de 40 milhões de pessoas, em comparação a 42
milhões em 1999, um ano após a entrada em vigor da Lei 9656/98. “O mercado
continua estagnado se se considerar o crescimento vegetativo da população,
principalmente no que diz respeito a planos individuais e familiares”,
afirma Almeida.
Para Almeida, o número maior de usuários apontado pela ANS é resultado de
uma atualização do cadastro da agência, com a incorporação de clientes das
cooperativas (segundo maior grupo de assistência médica, com 10,5 milhões de
clientes), que só há alguns meses assinaram um acordo com a agência para
abertura de suas estatísticas. Ele concorda com Cardoso, porém, no que diz
respeito à tendência de concentração: “Hoje o plano de saúde tem que ter
escala”. Almeida acha que o futuro da saúde privada “não é dos mais
promissores” porque a evolução da medicina, com novos procedimentos cada vez
mais caros, o envelhecimento da população e o aumento da sobrevivência,
complica a situação. “Este é um problema não só no Brasil mas em todo
mundo”, conclui o presidente da Abramge.
A autogestão tem sido uma saída para as empresas que também sofrem com
aumento dos custos dos planos para seus funcionários. Sem fins lucrativos
por definição, os planos de autogestão já atendem 5,3 milhões de segurados e
faturaram R$ 6 bilhões em 2005. Segundo Marilia Ehl Barbosa, presidente da
Unidas, entidade que reúne 152 operadoras de autogestão, o sistema consegue
melhores resultados porque parte de um princípio de atendimento a grupos
menores com perfil específico. “A autogestão permite ter dados gerenciados e
fazer programas de prevenção”, diz.

Fonte: Valor

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