Mercado descarta surpresas na reunião do Copom
A expectativa de uma taxa de juros de um dígito no fim deste ano é praticamente consensual entre os economistas do mercado financeiro, assim como o espaço para um corte adicional da taxa em 2018. Mas poucos acreditam que o Banco Central (BC) vá acelerar o ritmo de queda, mesmo com as recentes surpresas positivas com a inflação. A comunicação recente do BC, reforçando a ideia de que o 0,75 ponto é o novo ritmo do ciclo de alívio monetário e que a opção por uma dose mais forte de queda só ocorreria caso surgisse um elemento inesperado no cenário de atividade, desencoraja as apostas na aceleração do passo.
De 45 economistas ouvidos, 40 esperam que a Selic tenha apenas um dígito até o final de 2017. Os outros cinco acreditam que a taxa estará acima de 10% em dezembro. Para o encontro desta semana, 43 preveem que a redução da Selic será de 0,75 ponto, e 2 contam com um corte de um ponto.
A maioria dos analistas conta que o BC não deve voltar a surpreender, como fez em janeiro, quando a Selic teve uma queda de 0,75 ponto – e não de 0,5 ponto, como a maioria esperava. Em encontros recentes com o mercado, o BC esclareceu que a decisão de intensificar o corte, sem que esse movimento tivesse sido sinalizado, ocorreu porque o resultado do IPCA de dezembro, conhecido no dia da reunião do Copom, veio abaixo do que a autoridade monetária e os agentes de mercado esperavam, em grande parte por causa do efeito da recessão sobre os preços. Agora, explicaram os dirigentes do BC, seria necessária uma surpresa ainda mais expressiva para que esse novo ritmo voltasse a ser acelerado. É verdade que o cenário geral para a inflação só melhorou desde o último encontro de política monetária. A inflação corrente segue em queda, como mostrou o IPCA de janeiro, que avançou 0,38%, abaixo da estimativa de 0,42% do mercado. As expectativas também caíram mais. Na última edição da Focus, a mediana das projeções para o IPCA em 2017 estava em 4,47%, abaixo da meta, portanto, ante 4,80% na semana da última reunião do Copom. Já o câmbio passa por um processo de valorização inesperado e na última quinta chegou à mínima de R$ 3,03 intradia. Na sexta, fechou a R$ 3,09.
Se esse cenário justifica a expectativa de um ciclo ainda prolongado de corte de juros, a falta de nova sinalização por parte do BC, depois da redução mais forte da Selic em janeiro, ainda freia apostas na aceleração do movimento. Grande parte do retrocesso das expectativas de inflação se deve exatamente pela postura mais cautelosa sustentada pela autoridade monetária até agora. Acelerar ainda mais o corte da taxa básica poderia colocar esse ganho em risco.
“O ritmo de corte da Selic poderia ser ampliado para 1 ponto percentual – de 13% para 12% em fevereiro – como resultado da combinação de alguns fatores”, comenta Eduardo Velho, economista-chefe e diretor de fundos da INVX Global Partners, para quem isso não deverá acontecer porque o BC deseja preservar “a credibilidade da gestão, mas sobretudo a comunicação da política monetária e a ancoragem das expectativas conquistada nos últimos meses”.
Velho lista como fatores que justificam a aceleração do corte da Selic: o recuo da mediana das expectativas do IPCA para 2017 e 2018, inferiores à meta central no Top Five, mesmo incorporando a trajetória descendente dos juros; as surpresas inflacionárias adicionais nos índices de preços ao consumidor de janeiro e fevereiro; o risco Trump monitorado; a expectativa _ já precificada _ de nova alta gradual dos juros do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) até o fim do primeiro semestre; e a revalorização do real beneficiada pela expectativa de tramitação das reformas, fluxo de capital estrangeiro para a bolsa e elevação dos preços das commodities, que tendem a gerar aumento em valor das futuras exportações brasileiras.
Rafael Gonçalves Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval, espera um corte de 0,75 ponto da Selic, mas considera elevada a probabilidade de a redução ser maior, de 1 ponto percentual, devido aos dados recentes. Em especial, a queda da inflação mais acentuada. “Em função do juro real maior, caso o Copom confirme 0,75 ponto no próximo encontro, acreditamos que o BC deverá acelerar o ritmo de corte. E de que forma isso pode se dar? Com uma leitura mais positiva dos dados e evidenciando que o ritmo do ajuste depende da evolução dos dados e não é estático visando reduzir os juros reais de forma mais célere”, afirma. Ele observa que o Copom tem dado peso maior à atividade econômica, que passa por um processo de desalavancagem financeira. “A duração dessa alavancagem dependerá fortemente dos juros reais”, completa Cardoso.
Outro fator colocado neste momento de inflação e expectativas em queda é a discussão sobre a mudança da meta. David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch no Brasil, avalia que a queda da inflação abre espaço para mudança. “A mudança e intensidade dependerá da queda na expectativa de inflação para 2018 e 2019 nos próximos meses.”
Paulo Gomes, economista-chefe e estrategista da Azimut Brasil Wealth Management, concorda com Beker que há espaço para meta menor e supõe que a de 2019 [a ser definida no fim de junho] seja reduzida para 4% ou 4,25%.
Thais Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Consultores, também vê espaço para meta de inflação menor. “As surpresas benignas no curto prazo em alimentação e reformas estruturais que beneficiam o fiscal no médio e longo prazo poderão abrir espaço para uma inflação mais baixa, o que auxiliaria na redução dos mecanismos inerciais e ampliaria a eficácia da política monetária.”
“Há espaço para discussão sobre mudança de meta, dado que a inflação em 12 meses estará abaixo do centro. Mas em nossa opinião a meta não deveria ser reduzida neste momento dado que faz sete anos que temos uma inflação anual distante do centro da meta”, pondera Juan Jensen, sócio da 4E e professor do Insper. O economista acrescenta que antes da mudança seria importante cumprir a meta e não ter só a expectativa de que será cumprida. “E a mudança de meta, por mais que afete as expectativas dos agentes do mercado, sobretudo aqueles que contribuem para a Focus, certamente afetará a política monetária em 2018.”
Fonte: Valor
