Mercado avalia impactos da crise financeira global
Um dos efeitos da crise financeira global no mercado de seguros poderá ser o fim do atual quadro de queda das taxas do resseguro (o “soft market”). Outro será o redobramento da atenção das companhias na contratação de resseguro neste momento de insegurança dos investidores. Estas foram algumas das conclusões dos palestrantes do primeiro dia da conferência “Saiba como operar após a abertura do mercado de resseguros”, organizada pelo International Business Communications (IBC), em São Paulo.
“Acredito que esta crise trará perdas maiores para o mercado de seguros do que os atentados de 11 de setembro de 2001 e do que o furacão Katrina, com indenizações que já superam US$ 40 bilhões”, disse o gerente regional das operações da XL Re Latin América, Carlos Caputo.
Todos citaram a estatização da AIG há quase um mês. “A crise já atingiu em cheio o setor. Quem poderia imaginar que a maior seguradora do mundo teria problema”, disse ele, referindo-se à AIG, estatizada pelo governo dos Estados Unidos em 16 de setembro, após receber aporte inicial de US$ 85 bilhões. “Semana passada uma seguradora japonesa também sucumbiu”, lembrou ele, em alusão à Yamoto Life Insurance, 33ª no ranking de vida do Japão.
O vice-presidente da Aon Risk Service, Marcelo Homburger, citou as catástrofes naturais. “Somente dois furacões, Ike e Gustav, já somam indenizações de US$ 12 bilhões”. O executivo da Aon também lembrou a queda das taxas de juros promovida por vários países para tentar controlar as perdas financeiras das últimas semanas. “Isso reduzirá ainda mais o ganho financeiro das companhias, trazendo conseqüências para a indústria de seguros, uma vez que elas precisarão recompor tais perdas”, avaliou.
Além das perdas com ativos financeiros e catástrofes, há o impacto propriamente da atividade de seguro com a crise, como o pagamento de apólices de responsabilidade civil de executivos, como Directors & Officers (D&O) e Erros e Omissões. “Este cenário com certeza trará uma revisão das taxas praticadas atualmente. Mas isso não quer dizer aumento de preço para todos. E sim uma revisão de tarifas, que poderá trazer redução ou agravamento, dependendo do histórico de cada cliente”, disse Homburger.
Levando-se em consideração que o volume de vendas da indústria de seguros apresentará declínio pela desaceleração da economia, chegando em recessão nos principais países consumidores de seguros, como Estados Unidos e maioria dos europeus, a recomposição das margens das seguradoras e resseguradoras conseqüentemente virá do aumento do preço.
João Marcelo Máximo dos Santos, advogado da Demarest & Almeida Advogados e ex-diretor da Susep, alertou os presentes sobre as obrigações legais de cada parte em um contrato. “Em caso de falência de uma resseguradora no exterior, a seguradora local líder terá de honrar o pagamento e entrar na fila dos credores para receber a parte daquela que quebrou”, disse. “É um risco de crédito novo para o Brasil, acostumado a ter a garantia do IRB Brasil Re, controlado pelo governo”, acrescentou.
Fonte: Fenaseg