Mercado Aberto – Brasil deve evitar excessos
Nos últimos dias, o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deram declarações minimizando os efeitos da crise sobre a economia brasileira. Lula chegou a dizer que seriam imperceptíveis as conseqüências da crise sobre o Brasil, e Mantega sugeriu que as pessoas não deixassem de tomar empréstimos para adquirir imóveis ou automóveis.
O Brasil está hoje certamente em melhores condições do que nas outras crises do passado, mas irá sentir tanto ou mais do que os outros países. O melhor que o país tem que fazer agora é começar a se preparar para a crise.
O economista Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central e sócio da Ciano Investimentos, considera preocupantes declarações como essas tentando negar os efeitos da crise, quando é evidente que o Brasil também sofrerá algum impacto do tsunami financeiro.
“A crise é relevante no mundo e o país tem que se preparar”, diz Goldfajn.
No momento em que o mundo enfrenta uma paralisia no crédito, a pior medida que o governo poderia tomar é abrir a torneira dos cofres públicos para manter o consumo aquecido. Mantega também tinha declarado que os bancos públicos poderiam suprir uma eventual carência de crédito no mercado.
Para Goldfajn, decisões como essas têm o mesmo efeito de querer acelerar o carro quando se tem uma parede na frente. A batida será inevitável.
O economista lembra o final dos anos 1970, durante a segunda crise do petróleo, quando o governo tomou a mesma atitude e se negou a admitir que o Brasil seria atingido pela crise. O país continuou com o pé no acelerador.
A decisão do governo de negar a crise acabou sendo a origem da recessão dos anos 1980, a década perdida. O país conviveu nesses anos com a chamada estagflação, a combinação perversa de inflação alta e crescimento baixo.
Para Goldfajn, tudo que o governo deve fazer agora é evitar excessos: excesso de gastos, excesso de endividamento, excesso de consumo e excesso de otimismo.
Fonte: Folha de São Paulo