Meirelles pede cautela
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que participou da reunião de emergência com o presidente Michel Temer, ontem à noite, pediu cautela. “Vamos ver. Vamos ver”, disse ao Valor.
Ele soube da denúncia pela televisão e aguardava uma reunião com Temer no palácio para tratar do novo Refis. Antes de assumir o cargo, Meirelles era presidente do Conselho de Administração da holding J&F, de Joesley e Wesley Batista, autores da delação premiada.
No momento em que a informação se espalhava o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, participava de coquetel oferecido à missão do Fundo Monetário Internacional (FMI). Tesouro Nacional e Banco Central terão papel relevante hoje na atuação dos mercados de juros, câmbio e ações.
Quando soube da delação premiada do grupo JBS, que o compromete, divulgada no site do jornal “O Globo” por volta das 19h30, Temer suspendeu uma agenda com governadores do Nordeste e convocou uma reunião com ministros, assessores e aliados de primeira hora no Congresso.
O presidente Michel Teme negou, por meio de nota, sua participação em esquema para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha e do operador Lúcio Funaro. Uma reunião de emergência com ministros, convocada para discutir a crise, durou cerca de três horas, até às dez da noite, quando Temer deixou o Planalto. O clima era de tensão máxima, mas a sinalização do presidente era de que lutaria para sobreviver no governo.
Ao final da reunião, um dos auxiliares de Temer disse aos jornalistas que hoje será um dia de trabalho normal no Palácio. “Tudo que tem que ser dito sobre esse assunto foi dito na nota”, disse o secretário especial de Comunicação Social, Márcio de Freitas. “Amanhã [hoje] vamos trabalhar normalmente, agora vamos descansar”, completou, sobre o dia de hoje.
A nota diz o seguinte: “O presidente Michel Temer jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar”, diz a nota, assinada pela Secretaria de Comunicação Social (Secom).
Na manifestação, Temer confirma o encontro com o empresário Joesley Batista, autor da gravação, que ocorreu no começo de março, no Palácio do Jaburu. “Mas não houve no diálogo nada que comprometesse a conduta do presidente da República”, diz a nota.
No comunicado, Temer defende “ampla e profunda investigação” das denúncias com a responsabilização dos envolvidos “em quaisquer ilícitos que venham a ser comprovados”.
Nos bastidores, assessores ponderam que não há provas de comprometimento de Temer. Na delação, Joesley afirma que ao revelar que estaria comprando o silêncio de Eduardo Cunha e do doleiro Lúcio Funaro, Temer teria afirmado: “Temos que manter isso, viu?” Mas esse áudio não foi divulgado e aguarda homologação do ministro relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin.
Com buzinaço e protestos do lado de fora do Planalto, Temer discutia, no gabinete do terceiro andar, o que dizer sobre a denúncia com os ministros e auxiliares mais próximos. Além de Meirelles, reuniram-se com Temer Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo), o porta-voz, embaixador Alexandre Parola, e do secretário de Imprensa, Márcio de Freitas.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que teve de encerrar a sessão mais cedo, chegou correndo ao Planalto. Na mesma correria, surgiu o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Ambos juntaram-se à reunião.
No momento da divulgação da matéria, no site do jornal “O Globo”, Temer estava reunido com o governador da Bahia, Rui Costa (PT), com o governador de Sergipe, Jackson Barreto (PMDB), e vice-governadores do Ceará, Piauí e da Paraíba.
A avaliação unânime no Planalto era de que a crise é gravíssima e o ambiente de incerteza. Segundo a matéria do jornal “O Globo”, a delação premiada do grupo JBS inclui a gravação de um diálogo com Michel Temer, feita em março, em que o presidente indica o deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver um assunto da J&F.
Fonte: Valor