Mercado de SegurosNotícias

Médias empresas descobrem na crise uma oportunidade para crescer

Em uma situação de turbulência na economia, a rapidez de decisão é fundamental assim como a estrutura enxuta. São grandes vantagens dos negócios de menor porte em relação às grandes empresas
No ano passado, um negócio fundado há uma década em São Paulo pelo empresário Daniel Turini conseguiu obter receita de R$ 20 milhões, 20% a mais do que seu faturamento em 2008. O desempenho invejável em um período turbulento para a economia tem fácil explicação. A Crivo, que desenvolve tecnologia para ajudar na análise e decisão de crédito e riscos, conseguiu ter flexibilidade para aproveitar as oportunidades geradas pela crise. Mesmo afetada pela desaceleração no primeiro trimestre de 2009, a empresa não deixou de investir.
Sua maior aposta se deu no desenvolvimento de um novo serviço de inteligência de crédito. O sistema permite a padronização e o cruzamento de informações de diversas bases de dados e as analisa de acordo com a política de crédito ou risco definida pelo cliente. Trata-se de uma ferramenta essencial em um país em que o financiamento para a baixa renda está em franca expansão.
“O sistema teve uma excelente repercussão e conseguimos fechar novos contratos.
Ampliamos outros e aumentamos nossos cases de sucesso nos setores-chave de atuação da empresa: finanças, seguros, telecomunicações, varejo, indústria e consórcios”, comemora o empresário.
O desempenho da Crivo é apenas um exemplo entre vários que ilustram uma vantagem chave das empresas de menor porte, as chamadas emergentes, em momentos de fragilidade econômica e de mudanças no país. “Em uma situação de turbulência na economia, a rapidez no processo decisório é fundamental. Essa é uma das grandes vantagens dos pequenos e médios negócios em relação às grandes empresas, que podem levar meses para adotar uma nova estratégia de atuação”, explica o economista e professor de Empreendedorismo da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), Silvio Passarelli.
Em outras palavras, empresas leves e ligeiras, com estrutura organizacional mais enxuta e menos níveis hierárquicos, podem tirar vantagem dessas situações.
De acordo com o especialista, ser pequeno também aparece como vantagem quando o assunto é investir em inovação e tecnologia: as empresas emergentes não têm a mesma necessidade de uma grande indústria de investir em equipamentos de última geração. Adquirir tecnologia com duas ou três gerações de defasagem não é algo que necessariamente vai impactar negativamente os negócios.
Além disso, dependendo do ramo de atuação, é possível optar por uma compra fragmentada, adquirindo equipamentos em partes.”No quesito qualidade, há também uma grande vantagem, uma vez que nas pequenas empresas o controle não se faz por amostragem. Ou seja, é possível conferir a qualidade de praticamente toda a produção”, destaca Passarelli.
Como em qualquer setor produtivo, as MPMEs também carregam o ônus do tamanho.
O capital de giro não é grande e o custo do dinheiro no Brasil é absurdamente alto. Os investimentos em inovação e Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) estão quase que exclusivamente restritos às grandes companhias e, nas pequenas empresas do país, estão longe dos níveis de países desenvolvidos, onde até mesmo empresas com quatro ou cinco funcionários possuem tecnologia de ponta. Entre as razões para isso, estão a falta de políticas e programas de governo voltados para o desenvolvimento tecnológico e o difícil acesso a recursos para esse tipo de investimento.
MUDANÇA DE PERFIL
Para Ricardo Tortorella, do Sebrae, não há dúvidas de que o setor de micro, pequenas e médias empresas evoluiu muito nos últimos anos, sobretudo por conta de uma mudança de perfil do empresariado, mais preparado e preocupado em investir em capacitação e oferecer produtos e serviços de qualidade. Uma consequência disso é a queda da taxa de mortalidade das pequenas empresas no primeiro ano de vida, de 45% para 22%, amenizando um problema histórico do setor. O setor é o principal responsável pela geração de empregos no Brasil, com 60% do total de carteiras assinadas. “Mas ainda há um longo caminho a percorrer, principalmente no sentido de tornarmos as pequenas e médias empresas mais produtivas e competitivas”, conclui Tortorella.
Dados referentes a 2009 da pesquisa GEM (Global Entrepeneurship Monitor) dão uma ideia das restrições que ainda existem na direção de aumento de competitividade: mais de 83,5% dos empreendedores que estão começando um negócio não pensam em inovar, frente a 5,4% dos que acreditam que seus produtos ou serviços são considerados novos por todos.
Na página ao lado, selecionamos três histórias de empresas de pequeno porte, de diferentes regiões do Brasil, que crescem ao apostarem produtos inovadores.
PESO NA ECONOMIA
A participação dos pequenos negócios no Produto Interno Bruto é de 20% EMPREGOS A participação de trabalhadores do setor privado nas pequenas empresas é de 67%
Em uma situação de crise, a rapidez no processo decisório é fundamental.
Essa é uma das vantagens das pequenas e médias empresas em relação às grandes Silvio Passarelli, professor de Empreendedorismo da FAAP
PCTel Goiana oferece sistema para gravar negociações empresariais Primeira empresa incubada de Goiás, a PCTel é uma daquelas histórias de sucesso que unem empreendedorismo e inovação. O empresário Alexandre Costa enfrentava problemas com um fornecedor e procurou um sistema de gravação que lhe permitisse gravar as negociações. Não encontrou e decidiu criar ele próprio uma solução que armazenasse no computador as conversas feitas a partir da linha telefônica convencional. Ao comentar o feito com um de seus clientes, que operava uma central de call center, este encomendou o sistema. Nascia assim a PCTel, que em 2002 lançou seu primeiro modelo de gravador telefônico para computador. Vários outros modelos vieram desde então, a uma média de quatro a cinco novos produtos por ano.
Hoje, a lista de clientes da empresa ostenta nomes como Petrobrás, Vale, Rede Globo e Perdigão, além de delegacias e órgãos da Polícia Federal.
Os sistemas da PCTel operam em redes analógicas, digitais e de voz sobre IP (VoIP) e ganharam visibilidade a partir de dezembro de 2008, com a nova lei do SAC, que tornou obrigatória a gravação e o armazenamento por até 90 dias das ligações telefônicas feitas para as centrais de atendimento ao cliente. As centrais de atendimento são o maior mercado da PCTel, respondendo por 80% da receita de R$ 4 milhões registrada em 2009.
A empresa começa a explorar novas oportunidades, a começar pelo mercado externo. Os sistemas de gravação da PCTel são exportados desde 2005 para países da América Latina e Europa, mas Costa quer alavancar isso.
“Queremos parceiros para distribuir nossos produtos no exterior”, diz.
O primeiro passo foi criar uma nova empresa, a Auvo, com foco no mercado externo. “A marca PCTel já existia lá fora”, justifica o empresário. Ele também partiu para o desenvolvimento de um novo produto: um monitor cardíaco que permite transmissão de dados via rede celular de terceira geração.
“Aproveitamos o know how da digitalização para explorar um novo mercado”, explica. A intenção é facilitar o diagnóstico online, pois os dados podem ser enviados para o médico à distância.
Ainda em fase de protótipo, o produto deve chegar ao mercado até 2011.
Armtec
Cearence aposta em robô mergulhador para pré-sal Saci, Caipora e Iracema não são apenas personagens da cultura brasileira.
Para a empresa cearense Armtec, esses nomes são siglas que batizam os seus robôs, com a intenção de divulgar nossa cultura no exterior. Saci foi o primeiro produto da companhia e é sigla para Sistema de Apoio ao Combate de Incidentes, um robô de combate a incêndio nascido a partir do trabalho de conclusão de curso do então estudante Antônio Roberto Lins de Macedo, em 2004.
O projeto valeu o primeiro pedido de patente de um aluno da graduação da Universidade de Fortaleza e um incentivo para montar a empresa com o apoio do Sebrae. O Saci faz do Brasil o quarto país do mundo a ter um robô de combate a incêndio, hoje em sua quarta versão e em negociações avançadas com a Rússia, embora nenhuma unidade esteja em operação em território nacional.
Do Saci veio inspiração para o Caipora (Carro Automatizado Instrumentado para Perícia, Observação, Resgate e Ataque a artefatos suspeitos e cargas perigosas), um robô multiplataforma para uso do exército e da polícia, especialmente em ambientes hostis e ações perigosas.
Dependendo da plataforma montada sobre o chassi, o equipamento se presta a desarmar bombas, disparar projéteis ou fazer observação de terrenos.
A grande aposta da Armtec é a exploração do pré-sal, para a qual a empresa desenvolveu um autônomo que foi batizado de Samba (Submarino de Avaliação de Estrutura Marítimas, Fluviais e Meio Ambiente Brasileiro Automatizado), em parceria com a Marinha, que já chamou a atenção da Petrobras.
Trata-se de um robô mergulhador não-tripulado para operações de alto risco, como explosões e vazamentos, capaz de transmitir imagens e realizar estudos de fauna e flora aquáticas.
“Também pode ser usado para o desarme de minas marítimas”, explica Macedo. De acordo com o executivo, a receita da Armtec, por enquanto, vem principalmente da área de pavimentação, segmento para o qual a empresa cearence desenvolveu um robô para ensaios em campo com o objeto de avaliar a durabilidade do asfalto.
DAccord
Pernambucana desenvolve software para aprendizado de instrumentos
A música está no DNA da DAccord, empresa do Porto Digital, no Recife, que nasceu em 2002 vendendo software para o aprendizado de diferentes instrumentos, como o violão, flauta, teclado e bateria. Apesar do ineditismo da solução, a empresa percebeu que precisava explorar novos mercados para crescer, mas sem abandonar aquilo que conhecia: música. Foi assim que em 2007 a empresa criou uma unidade de desenvolvimento de games musicais – a MusiGames – para explorar o crescente mercado de jogos pelo celular.
A divisão é sucesso desde o primeiro jogo: o Drums Challange, que simula uma bateria, chegou à quinta posição entre os games de música mais vendidos pela Apple Store em março do ano passado. Para este ano está planejado o lançamento de oito jogos, sendo um para o iPad, o tablet da Apple que chega ao mercado em 3 de abril, e outro para o Android, a plataforma do Google para celulares.
Os jogos representaram 20% dos R$ 300 mil faturados em 2009 e a participação deve subir para 50% este ano, para uma receita prevista de R$ 800 mil. Um dos sócios fundadores da DAccord, Américo Amorim, explica que os softwares para aprendizado de música devem ganhar novo impulso a partir deste ano com a obrigatoriedade da inserção da música na grade do ensino fundamental, prevista por lei para 2011. “É uma grande oportunidade para nossos softwares”, diz. A empresa criou cinco módulos de ensino para escolas, começando pela flauta, passando pelo violão e pelo teclado, até chegar na criação e mixagem.
Detentora de inúmeros prêmios de empreendedorismo e inovação, a DAccord foi contemplada este ano com recursos do Criatec, fundo de investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) destinado a empresas emergentes inovadoras. A linha de crédito é dada em contrapartida a uma participação do BNDES no capital da empresa, que normalmente fica entre 30% e 45%. Os aportes atingem até R$ 1,5 milhão na primeira etapa, podendo alcançar R$ 5 milhões.
Como parte da expansão do negócio, a empresa lança em abril o seu primeiro jogo para a rede social Facebook e estuda jogos em terceira dimensão.

Fonte: Brasil Econômico

Falar agora
Olá 👋
Como podemos ajudá-la(o)?