Juros caem com cenário benigno para inflação
A semana marcada pela decisão de política monetária do Banco Central começou com firme queda nas taxas de juros de mercado. O noticiário de inflação, a percepção de que a atividade segue fraca e a trégua no ambiente político deram o tom na renda fixa, combinação que acabou reduzindo prêmios de risco também no câmbio.
Investidores aproveitaram para montar posições “baratas” com um BC possivelmente mais agressivo no corte de juros. Esse movimento elevou a cerca de 20% a probabilidade de redução de 1,25 ponto percentual da meta Selic amanhã. A chance majoritária, de 80%, ainda diz respeito a um declínio de 1 ponto do juro básico.
Operadores chamaram atenção para o fato de a inflação projetada pelo mercado na pesquisa Focus ter vindo abaixo de 4,5%. O documento mostrou taxa estimada de 4,46%, ante 4,50% da divulgação anterior.
O alívio das projeções de inflação na Focus teve influência ainda no mercado secundário de títulos públicos, do qual são extraídas taxas de inflação implícita. A inflação implícita acumulada até agosto de 2018, por exemplo, caiu a 4,08% ao ano, ante 4,17% da sexta-feira.
A inflação corrente também deu argumentos para o mercado cogitar chances de um Copom ainda mais agressivo. A primeira prévia de abril do IGP-M teve deflação de 0,74%, mais intensa que a queda perto de 0,4% que chegou a circular no mercado.
“Há todo um conjunto de informações que não deixa dúvida alguma de espaço para o BC acelerar a queda da Selic”, diz Paulo Celso Nepomuceno, da Coinvalores, lembrando que a atividade econômica fraca e a inflação surpreenderam para baixo.
No fim do dia, a taxa de juros com vencimento em julho de 2017 – que reflete apostas para as reuniões do Copom de abril e maio – teve ajuste de 10,79% ao ano, frente a 10,854% na sexta-feira. O dólar caiu 0,38%, para R$ 3,1378.
A expectativa de queda dos juros segue expressa nas estratégias de alguns fundos de investimento. A equipe de gestão do fundo multimercados Paineiras Hedge FIC FIM, acredita que o juro real neutro poderá cair ainda mais, com a taxa real devendo ficar abaixo do patamar neutro diante da necessidade de estímulo à economia. “Se a expectativa de inflação de longo prazo se situar entre 4% e 4,5%, a taxa de juros nominal neutra poderá se situar ligeiramente abaixo de 9%”, dizem os profissionais.
A equipe de gestão do fundo Verde FIC FIM, encabeçada por Luis Stuhlberger, mantém recomendação em juro real mais baixo, mas elevou posição comprada em dólar ante o real, citando aumento da percepção de risco derivada das dúvidas fiscais.
“O governo perdeu a batalha da comunicação, e a resistência da população à reforma parece crescente”, dizem os gestores, que veem o mercado como “complacente” às incertezas com a aprovação da reforma da Previdência. O fundo retorna 2,59% no acumulado de 2017, contra CDI (taxa de juros de referência entre bancos) de 3,03% no mesmo período.
Fonte: Valor