Juro menor e retomada sustentam renda variável
Com o juro básico rumo à mínima histórica e os sinais de retomada econômica, o interesse do investidor pela renda variável permanece em outubro. Mesmo depois de o Ibovespa renovar em setembro seu recorde, com ganho de cerca de 4%, a avaliação é que a Bolsa de Valores ainda tem fôlego para andar, puxada principalmente por ativos atrelados à atividade econômica, como ações de varejistas. Junto com a bolsa, os fundos imobiliários compõem o mix de recomendações dos analistas para outubro.
Embora as denúncias contra o presidente Michel Temer coloquem em risco a aprovação de reformas importantes para o mercado, como é o caso da Previdência, os analistas ainda não veem nada concreto que possa atrapalhar o desempenho da bolsa.
Para Sandra Blanco, consultora de investimentos da Órama, por mais que a bolsa já tenha subido muito, a manutenção da trajetória da queda da taxa de Juros – que pode fazer a Selic ficar abaixo de 7,25% ao ano – faz com que investimentos de renda variável continuem sendo atrativos.
“Há muito dinheiro alocado em renda fixa e o Ilan [Goldfajn, presidente do Banco Central] já falou que o ambiente é propício para o juro cair mais. Então, vai ter que ocorrer uma migração da renda fixa para a variável, para o investidor conseguir um retorno melhor. E isso deve colaborar para bolsa continuar em um bom momento”, afirma.
A expectativa do mercado é que a taxa Selic, atualmente em 8,25% ao ano, chegue a 7% ou até 6,5%. Esse cenário, além de tornar a renda fixa menos atrativa, também pode ajudar as empresas. Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor da Modal Asset, explica que a maioria das companhias toma dinheiro emprestado a um juro atrelado ao CDI – que acompanha de perto a Selic – mais um spread. Portanto, uma queda na taxa de Juros representa também uma redução na dívida das empresas.
“Daqui para frente, com Selic a 7%, 6,5%, veremos uma melhora substancial no passivo das empresas. Como elas já comprimiram margem, já reduziram custos, vamos ver o custo caindo mais ainda e as vendas se recuperando graças ao cenário de retomada. Por mais que a bolsa tenha subido muito nos últimos meses, acho que estamos apenas no início desse movimento”, afirma.
Segundo os analistas, as ações com maior potencial de ganhos são aquelas relacionadas à atividade econômica. Arnaldo Curvello, diretor da Ativa Wealth Management, aposta nos papéis de incorporadoras e de empresas relacionadas ao consumo. Para Sandra Blanco, da Órama, além das varejistas, os setores de energia e de educação também tendem a melhorar conforme a economia vai se recuperando.
“O setor de energia com a privatização [da Eletrobrás ], o varejo e o consumo em geral devem ir bem. E educação, que é um setor que temos ouvido falar e deve se aproveitar de um mercado de trabalho melhorando e da inflação mais baixa”, afirma Sandra.
Portella, da Modal, ainda destaca os papéis da Petrobras, que podem se aproveitar da estabilidade do preço do petróleo no mercado global. “O cenário para o Brasil está melhorando. O governo iniciou a privatização da Eletrobrás, e o mercado começa a olhar mais para estatais. Se começar a privatizar certas partes da Petrobrás, pode animar [o mercado]”, diz.
Os fundos de investimentos imobiliários também aparecem na indicação dos analistas justamente por se aproveitarem dos Juros baixos e da recuperação econômica. No mês até dia 28 de setembro, a rentabilidade desses fundos, medida pelo Ifix, alcançou 6,23%.
Embora os especialistas afirmem que não há nenhum sinal claro de turbulência no cenário interno, o que ocorre no exterior pode abalar o mercado. A possibilidade de conflito geopolítico entre Estados Unidos e Coreia do Norte, por exemplo, entrou no radar de várias Instituições Financeiras, que já têm discutido os efeitos que um aumento da tensão causaria.
“Não temos agido de forma proativa quanto a isso, mas temos discutido o que fazer, tanto em caso de precaução ou reação. O mercado tem que estar preparado se ocorrer tal coisa ou outra”, afirma Otávio Vieira, da gestora de patrimônios Taler Investimentos.
Para Arnaldo Curvello, da Ativa, esse pode ser um dos motivos para frear a bolsa em outubro. “O que preocupa um pouco mais são questões externas, discursos mais exacerbados na geopolítica, na relação de EUA e Coreia do Norte. O mercado se retrai um pouco e é difícil controlar internamente. Certamente, isso deve trazer mais volatilidade para a bolsa”, afirma o diretor.
No cenário interno, apesar da queda nos Juros, ainda existem boas opções de renda fixa, segundo os analistas. “Está diminuindo [a atratividade], mas mesmo se os Juros caírem a 6%, os rendimentos ainda são altos e a renda fixa vai continuar compondo a base de investimentos dos brasileiros”, afirma Sandra, da Órama. “Uma diversificação em títulos atrelados à Selic ou à inflação, com prazos longos, também são vistos com bons olhos e recomendados”, orienta.
As principais opções apresentadas pelos especialistas são justamente as de longo prazo, com período maior que cinco anos. “Se não houver surpresas, o que achamos que deve ser importante para outubro são as NTN-Bs mais longas, assim como os títulos com taxas prefixadas mais longos”, afirma Vieira, da Taler.
Na bolsa, ele recomenda carteiras de ações mais concentradas, que acompanhem mudanças setoriais e dos cenários político e econômico, a fim de obter rentabilidade superiores ao do Ibovespa no próximo mês.
Ivens Gasparotto Filho, diretor da Guide Life, também recomenda a compra de NTN-Bs, já que algumas ainda pagam rendimentos acima de 5%. Esses ativos rendem o equivalente à inflação (medida pelo índice IPCA) e pode ter um acréscimo de Juros semestrais, que aumentam de acordo com o tempo que o investidor deixa o dinheiro na aplicação. “É uma boa indicação para aqueles que aceitam risco, porque o retorno de longo prazo oscila bastante”, diz.
Fonte: Valor