Itaú inaugura tendência de consórcio em grandes riscos
Ao vencer a licitação para fazer o seguro da Petrobras, a Itaú Seguros deu início ao que pode ser uma tendência no mercado segurador de grandes riscos corporativos brasileiro: a formação de consórcios de seguradoras nas apólices corporativas.
Conforme anunciado dia 26, a Itaú ganhou a concorrência para assumir as principais apólices de seguros da Petrobras, no valor total de US$ 50 bilhões. O contrato inclui toda a operação de exploração de petróleo e gás doméstica em terra e no mar (“on shore” e “off shore”), refinarias, usinas térmicas, gasodutos e a Responsabilidade Civil (RC) das aeronaves que transportam pessoas e cargas entre as plataformas em alto mar e a base em terra, além de outros vários ativos.
Trata-se da maior apólice de seguros do Brasil, custou cerca de US$ 50 milhões em prêmios à Petrobras e já estava com a Itaú desde 2008, tendo sido apenas prorrogada em 2009. Este ano a Itaú venceu uma concorrência com outros dois consórcios incluindo grandes empresas nacionais e estrangeiras como a SulAmérica e a Ace. No entanto, a seguradora do grupo Itaú Unibanco vai ficar com apenas 50% do novo contrato, o restante será dividido em 30% com a seguradora alemã Allianz e 20% com a espanhola Mapfre.
Segundo Antonio Trindade, diretor de Produtos Corporativos do Itaú Unibanco, o cosseguro com outras seguradoras muda a lógica econômica do contrato.
Na apólice anterior, a Itaú estava sozinha no contrato. Repassou uma parte maior para a estatal IRB Brasil Re e o restante para outras três ou quatro resseguradoras, retendo em seu portfólio uma parcela mínima do valor da apólice, menos de 10%.
Porém, pelas regras de solvência do órgão regulador – a Superintendência de Seguros Privados (Susep) – a seguradora é obrigada a manter capital alocado para 100% do risco assumido, mesmo que tenha retido apenas parte.
“O capital é gerencial, alocado (pelo grupo controlador) de acordo com o risco de crédito (do cliente). Em 2009 eu tinha 100% do risco de crédito (da Petrobras)”, explicou Trindade, acrescentando que o percentual retido, que é o que gera rentabilidade, será o mesmo no novo contrato.
“Este ano, o capital necessário é 50% menor, só que a retenção é a mesma, então a rentabilidade sobre o capital alocado é maior”. Segundo Trindade, a lógica será aplicada a todos os seguros de grandes corporações. “Não queremos vender por vender. Nos grandes riscos, nossa estratégia é crescer em prêmio retido fazendo parcerias”.
A Itaú Seguros é líder na área de grandes riscos corporativos. Além da Petrobras, estão em sua carteira as apólices de grandes grupos de petroquímica e mineração como Braskem e Vale do Rio Doce, projetos de infraestrutura do porte da usina hidrelétrica do Rio Madeira e as maiores indústrias do país em diversos setores, de construção, automóveis e autopeças a alimentos e varejo.
No ano passado, faturou R$ 1,2 bilhão com grandes empresas, volume que respondeu por 7% do faturamento total em prêmios e contribuições do grupo no ano, de R$ 16,873 bilhões.
Os principais negócios do grupo Itaú Unibanco em seguros são os relacionados ao varejo, perfil que se repete nos grandes grupos seguradores do país. Segundo Trindade, os seguros de vida e previdência vendidos na rede de agências representam 60% do faturamento em prêmios.
Dos 40% restantes, 30% são a garantia estendida (que ampliam o prazo de garantia de fábrica de produtos das linhas branca e marrom). Grandes riscos concentram 6,5% e outros segmentos, 3,5%.
A fusão entre as seguradoras Itaú e Unibanco, em 2008, criou uma operação de seguros, previdência e capitalização que representa cerca de 24% dos lucros do grupo, que em 2009 foram de R$ 10 bilhões aproximadamente.
As receitas de prêmios e contribuições totalizaram R$ 16,873 bilhões (sendo R$ 5,849 bilhões de seguros, R$ 9,216 bilhões de previdência, R$ 1,808 bilhão com capitalização), incluindo a área de automóveis e ramos elementares que foi agregada em uma empresa em separado, em sociedade com a Porto Seguro Seguros.
O executivo contou que a prioridade do grupo para 2010 é finalizar a integração com as operações do Unibanco, as quais, na área de seguros, será completada este mês. No restante do banco a integração deve superar os 90% até o fim do ano. “O primeiro mandamento hoje aqui é integração. O segundo é melhorar a qualidade de atendimento ao cliente. Nosso alvo é ser referência em qualidade”.
A exemplo dos principais concorrentes – Banco do Brasil, Bradesco e SulAmérica – a Itaú Seguros pretende ampliar a presença em seguros massificados e microsseguros. A ideia é usar o seguro prestamista e a estrutura de microcrédito do Unibanco para atingir o público-alvo (renda abaixo de R$ 1 mil mensais).
Fonte: Valor