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Indústria decepciona em novembro e piora PIB do 4º trimestre

O crescimento modesto da produção industrial em novembro – de 0,2% sobre outubro, feito o ajuste sazonal -, além de frustrar as projeções de alta mais consistente do indicador no período, sinaliza que a atividade nos últimos três meses do ano registrou desempenho tão ruim, ou pior, que no terceiro trimestre, quando o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 0,8%.

Ao lado da queda expressiva de 1,2% em outubro, o dado de novembro da Produção Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF) representa herança estatística negativa de 1,9% para o trimestre. Assim, mesmo a alta preliminar esperada para a produção em dezembro, em torno de 0,5%, não seria suficiente para evitar mais um resultado negativo no período. A surpresa com a fraqueza dos números teve repercussões imediatas no mercado de juros e nas previsões de analistas para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana.

“A frustração foi generalizada”, afirma o economista do Santander Rodolfo Margato, que esperava aumento de 2,2% em novembro. A média de 23 estimativas colhidas pelo Valor Data apontava alta de 1,8%. O ramo de alimentos, que recuou 0,3% sobre outubro, quando já havia contraído 3,3%, e o de coque, produtos derivados de petróleo e biocombustíveis, com queda de 3,3%, foram, em sua avaliação, os principais destaques negativos.

Mesmo os segmentos que cresceram, contudo, como a categoria de bens intermediários, avançaram menos que o previsto. Esta última, formada principalmente por insumos industriais, fabricou 0,5% mais no confronto com outubro, quando a produção tombou 2%. “Houve um descolamento importante dos indicadores antecedentes em dezembro”, ele completa.

A primeira alta na fabricação da bens de capital nos últimos 5 meses – de 2,5% em novembro sobre outubro, na série com ajuste sazonal -, também não veio na magnitude esperada pelo economista Daniel Silva, da Modal Asset. O número positivo, diz, foi concentrado no avanço observado pelo segmento de veículos automotores – que, por sua vez, avançou 6,1%, na mesma comparação. Conforme o IBGE, o índice de difusão da categoria de bens de capital foi de 51,3%, ligeiramente superior ao observado em outubro, 48,7%, quando a produção recuou 1,8%.

O aumento na fabricação de automóveis, aliás, foi o principal destaque positivo da divulgação. Sem ele, segundo cálculos do Haitong, a produção teria recuado 0,4% no período. O bom momento do setor, que se repetiu em dezembro – conforme dados de ontem da Anfavea, a produção voltou a crescer – deve-se especialmente ao aumento das exportações, lembra o economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

A liberalização do câmbio na Argentina impulsionou o fluxo veículos para aquele país, que, ao lado do México, tem sido destino de boa parte das vendas de automóveis para o exterior. “Isso ajuda a diminuir a ociosidade, mas não é suficiente para resolver o problema”, afirma Cagnin, destacando que as montadoras instaladas no país têm como principal foco o mercado doméstico.

O gerente da coordenação de indústria do IBGE, André Macedo, acrescenta entre as explicações para a alta observada no segmento, além das exportações, a baixa base de comparação dos meses anteriores, que registraram resultados bastante negativos, e a retomada da produção na fábrica da Volkswagen – as atividades foram interrompidas por cerca de um mês em setembro por causa de problemas com fornecedores.

“Não necessariamente esse comportamento positivo na margem significa uma trajetória de reversão dos resultados negativos”, acrescenta o pesquisador, destacando que ainda não é possível ver sinais de inflexão da tendência negativa para o setor industrial nos dados da pesquisa. Na comparação com novembro do ano passado, o indicador recuou 1,1% e acumula perda de 7,5% nos 12 meses até novembro, no confronto com o período imediatamente anterior.

Para Silva, do Modal, a recuperação da fabricação de veículos não deve manter o ritmo observado em novembro. “A alta pode ter refletido uma antecipação do setor ao aumento do minério do ferro e do preço do aço, anunciado hoje [ontem]”, ele justifica.

O desempenho da produção industrial frustrou a estimativa do Modal, que era de 1,2%, e abre espaço para maior “decepção” com o número de dezembro, para o qual o economista calcula, preliminarmente, alta de 0,5%. A manutenção do cenário negativo na indústria, contudo, com postergação do horizonte de retomada apenas para o segundo semestre de 2017, justifica a expectativa de retração de 0,8% do PIB no quarto trimestre de 2016. “Dependendo do comportamento dos indicadores do comércio e serviços, essa queda pode ser ainda mais relevante”, diz. O Bradesco tem projeção semelhante (- 0,9%).

Após a divulgação da pesquisa, o Santander piorou a projeção para o PIB no período de contração de 0,2% para recuo de 0,5%. “E não dá para descartar queda pior”, diz Margato. Com o resultado, o produto cairia 3,5% em 2016, com herança estatística negativa próxima de 1 ponto percentual para 2017.

Diante da fraqueza da atividade e do prolongamento da recessão, diz Silva, do Modal, o Banco Central deve levar a taxa básica de juros dos atuais 13,75% a 9,75% no fim do ano, de acordo com a projeção da instituição. “Resta saber como será a composição desse afrouxamento, se o BC cortará mais agora ou deixará mais para o fim do ano”, afirma. A expectativa de Silva para a próxima reunião do Copom é de corte de 0,5 ponto na Selic. “Mas vai ter gente reclamando que poderia ter sido 0,75, como teve gente que reclamou na última reunião que o corte poderia ter sido de 0,5 [quando foi de 0,25].”

Fonte: Valor

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