Hora de Manter a Aposta e Avançar
Brasil venceu a inflação e atingiu a estabilidade monetária, mas ainda precisa de reformas para consolidar as conquistas e crescer mais e de forma sustentável.O seminário “Guardiões da Estabilidade” resgatou parte da história da revolução da economia brasileira após o Plano Real e lançou luz sobre o que ainda precisa ser feito para o País retomar o crescimento e estimular o desenvolvimento sustentável.
O fim da espiral inflacionária foi o resultado mais imediato e aparente da adoção do real, em primeiro de julho de 1994. Mais do que ajudar a arrumar as finanças domésticas, a nova moeda trouxe um efeito virtuoso que rende frutos até hoje.
O País amadureceu ao apropriar-se de uma moeda forte e aposentou soluções heterodoxas, como a tablita, o gatilho salarial ou os contínuos cortes de zero e trocas de moedas. O País das moratórias internacionais de 1982 e 1987, e do confisco da poupança de 1990, finalmente encontrou sua autoestima e passou a ser encarado com mais seriedade.
O otimismo do BC Alexandre Tombini diz a executivos e empresários que o crescimento do PIB irá se acelerar nos próximos trimestres.
O Brasil ganhou respeito internacional, e os investimentos cresceram. Manter o otimismo e a confiança no Brasil, mesmo em tempos de crise, fez a diferença nos últimos anos e continuará a fazer no futuro, afirmaram os convidados da Editora Três, que lançou a DINHEIRO em 1997 apostando na transição definitiva para um novo modelo econômico sólido e que propiciasse o crescimento duradouro.
“O sucesso da ISTOÉ DINHEIRO é, em parte, resultado dos acertos de nossa equipe editorial, mas também da visão otimista e desenvolvimentista que a revista assumiu em função do sucesso da própria economia do Brasil”, disse Caco Alzugaray, presidente-executivo da Editora Três, na abertura do evento. Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil:
“este é um momento ímpar para avaliar as medidas que levaram o país a conquistar uma economia sólida”. “Vivemos a era da estabilidade, da moeda forte, do respeito às regras e da credibilidade internacional.” A confiança conquistada no Exterior traduziu-se no crescimento exponencial do ingresso de capitais: o estoque de investimentos diretos estrangeiros, que somava US$ 44 bilhões, em 1995, chegou a US$ 579 bilhões, em 2010, lembrou o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco em sua palestra.
Reconhecer as vitórias no caminho é fundamental para mirar o longo prazo. Mas, diante do pessimismo dos mercados financeiros com a crise europeia, é preciso sangue-frio para não ser contaminado pelas dúvidas a respeito da capacidade brasileira de superar mais esse percalço.
Durante o debate, que teve a presença de economistas, empresários e executivos influentes, como Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, André Esteves, sócio do BTG Pactual e Gustavo Marin, presidente do Citibank, muitas perguntas do público recaíram sobre as atuais dificuldades, como a recente redução do fluxo de recursos para o País e a necessidade de reformas para aumentar a competitividade da indústria.
Os protagonistas do evento, no entanto, enxergam esse movimento como natural. “Nos últimos dez anos, não me lembro de ninguém que não tivesse uma visão mais positiva para o Brasil do que a minha”, disse Armínio Fraga, sócio da Gávea Investimentos. “Mas havia um certo exagero nessa visão.
“Ivo lodo, presidente do Banco BVA: “o BC tem instrumentos eficazes para lidar com qualquer movimento que possa afetar a estabilidade”. O ex-presidente do BC durante o governo Lula (2003-2010), Henrique Meirelles, lembrou que a atual aversão ao risco no mercado global repete o movimento de 2008, quando houve a quebra do banco Lehman Brothers, nos Estados Unidos, e a fuga de capitais do País atingiu níveis históricos.
O movimento, porém, foi revertido em questão de meses, pois o potencial do País voltou ao centro das atenções depois da turbulência. “O Brasil viveu décadas de crises periódicas, e quando entrou em processo de estabilização, o entusiasmo era a ordem”, explicou Meirelles. Para ele, há um ajuste da imagem brasileira no mercado internacional atualmente, o que é saudável, pois euforia prolongada é perigosa.
Caco Alzugaray, presidente-executivo da Editora Três: “vivemos a era da estabilidade econômica, da moeda forte, do respeito às regras e da credibilidade internacional”. “Quanto mais cedo houver esse ajuste, melhor.” Será preciso, de qualquer modo, encarar um crescimento mais modesto do que havia sido previsto inicialmente.
“Houve uma desaceleração mais prolongada na economia mundial do que se imaginava”, disse Persio Arida. “Ao que tudo indica, o Brasil vai crescer abaixo de 3% em 2012.” Mesmo para alcançar esse patamar de crescimento, os empresários temem os efeitos da inadimplência em alta, um assunto que despertou o interesse da plateia durante o encontro, em São Paulo.
“Houve um crescimento extraordinário do crédito, mas a inadimplência será um novo elemento que deve ser considerado nas próximas decisões do BC nessa fase descendente dos juros”, avaliou Gustavo Franco, hoje sócio da Rio Bravo Investimentos.
Por ora, o crédito avança com os estímulos do governo e a queda de juros, ainda que o efeito na ponta não seja o esperado. Só no mês de maio, a busca por crédito no setor privado cresceu 6,7% em relação a abril, segundo a empresa de informações financeiras Serasa. O Banco do Brasil, que liderou o movimento de redução de juros de seus financiamentos, também constatou uma elevação na procura por crédito.
“O desembolso para pessoas físicas praticamente dobrou em maio, comparativamente à média mensal do primeiro trimestre”, disse à DINHEIRO, o presidente do BB, Aldemir Bendine. Homens-fortes da economia:
Alexandre Tombini (ao centro) conversa com quatro ex-presidentes do BC: Gustavo Franco, Pérsio Arida, Henrique Meirelles e Armínio Fraga. Para o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, a expansão do crédito é um dos fatores que garantirão a retomada da economia nos próximos meses.
“Os efeitos da criação de empregos, da expansão da renda real e do crescimento de crédito, combinados com estímulos monetários e financeiros, irão se manifestar plenamente ao longo dos próximos trimestres”, disse ele, durante sua apresentação no evento. As projeções do BC estão em linha com a percepção do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco.
“Tivemos um primeiro trimestre mais fraco, mas a situação deve mudar no segundo, de tal sorte que as políticas monetárias e fiscal darão bons frutos no final do ano”, disse Trabuco. O PIB na plateia: debate em comemoração aos 15 anos da DINHEIRO reuniu empresários e banqueiros em São Paulo. “As medidas de estímulo devem aquecer o crédito nos próximos trimestres e a nossa carteira pode crescer perto de 15%.” O presidente da Federação Brasileira de Bancos, Murilo Portugal, também está confiante.
“O cenário está mudando”, disse. Os incentivos ao consumo promovidos pelo governo, por sua vez, como a redução do IPI para bens duráveis, são celebrados pelo presidente da Cielo, Rômulo Dias. “Há impacto, principalmente no segmento de eletroeletrônicos e linha branca”, disse Dias. “Para o nosso negócio é importante, pois significa mais vendas.
” O real desvalorizado nos últimos meses também funcionou como incentivo importante para a empresa de brinquedos Estrela. “A taxa de câmbio, neste ano, já é mais favorável à produção”, diz Carlos Tilkian, presidente da Estrela. O setor de brinquedos deve se beneficiar, ainda, de uma política de isonomia de preços com os importados. “São medidas que aquecem as indústrias no Brasil.
Estamos otimistas.” Criar um ambiente favorável ao investimento é decisivo para que o País não só retome o ritmo de crescimento, como continue avançando nas reformas necessárias para que a expansão seja sustentável. “É preciso zelar pra que a economia, como um todo, poupe e invista o suficiente e o faça bem, pois economia que investe mal não cresce”, alertou Armínio Fraga.
Fonte: Revista Apólice