Há atualmente carência de talentos no Brasil?
A pouca disponibilidade de talentos no mercado de trabalho tem tirado o sono de muitos empresários e executivos. Existe uma grande procura de talentos no mercado brasileiro nos últimos anos e, como resultado, empresas nacionais e internacionais estão competindo pelos parcos recursos disponíveis.
A crescente exigência das diversas competências que os profissionais devem reunir, de modo a produzir os resultados sonhados pelas corporações, tem sido um grande problema para encontrar profissionais com o perfil adequado.
Falo de posições que estão no topo das organizações, os denominados CEO (Chief Executive Officers), em suas diversas áreas de atuação, como: presidentes, vice-presidentes de finanças, operações, tecnologia, comercial e, ultimamente, também outros setores como segurança e meio ambiente. Esses são os níveis em que os executivos são cada dia mais escassos e muito valorizados. A questão a que me refiro não é a quantidade de profissionais disponíveis, mas quanto a suas competências, o que faz reduzir muito a quantidade de executivos realmente preparados para enfrentar os desafios do mundo dos negócios de hoje.
A globalização tem trazido muitas vantagens e benefícios, fazendo com que tanto a informação quanto os produtos e serviços sejam disponibilizados em qualquer parte do planeta, trazendo uma democratização antes nunca vista. A tendência é que a velocidade dessa democratização aumente ainda mais rapidamente e que em poucos anos não vai fazer diferença trabalhar ou viver em qualquer continente do planeta, desde que os profissionais reunam o conjunto de competências necessárias para desempenhar suas funções. Portanto, esta mudança acarreta maiores exigências por parte das empresas e principalmente aos principais executivos, que devem ter um nível de conhecimentos e competências muito maior.
Várias empresas continuam firmes com sua cultura e direcionamento de preparar e desenvolver seus profissionais dentro da empresa, fazendo com que as pessoas sintam-se comprometidas e estimuladas a permanecer, pelas oportunidades geradas.
Um importante fator de escolha é que durante o processo de seleção os profissionais demonstrem disposição para aprender diversas disciplinas e que desejam oportunidades de mudança de funções a cada dois anos em média. As empresas que desenvolvem planos de carreira para cada funcionário têm ótimos benefícios, fornecem treinamento interno e externo, além de terem um clima de trabalho com mais autonomia e flexibilização dos horários de trabalho, em geral são as preferidas dos executivos de alto nível.
Essas são as empresas que conseguem manter com mais tranqülidade sua cultura e que passam por menor estresse quando necessitam fazer mudanças organizacionais. Sempre existem profissionais preparados para assumir os cargos mais importantes e críticos e quase todos os movimentos são planejados. Como as empresas que mantêm essa prática são poucas, o que temos visto é um crescente desafio para os “headhunters”.
Temos observado um número de brasileiros cada vez maior sendo procurados por empresas multinacionais para trabalhar fora do Brasil. O México tem sido um país que tem importado muitos brasileiros. Já existe até um grupo informal de relacionamentos de CEOs brasileiros, que conta com mais de 40 participantes. Várias empresas na Argentina também têm utilizado brasileiros nos seus comandos, além dos Estados Unidos, que há décadas têm convidado muitos brasileiros para várias importantes posições de comando. Um bom exemplo é o atual presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, que foi por muitos anos o presidente de um dos mais importantes bancos americanos.
Um caso mais recente citado na mídia é a Vale, que tem enviado muitos brasileiros para assumir os principais cargos nas empresas adquiridas no exterior.
Por que os brasileiros são cada vez mais procurados e valorizados? As principais características observadas e valorizadas nos brasileiros são sua flexibilidade de adaptação a diversas situações, a capacidade de inovar e também a coragem. Essas são as qualificações mais comentadas, mas outras características como: o bom humor, a alegria, a facilidade de relacionar-se com outros povos e culturas, que fazem toda a diferença nos profissionais brasileiros e ajudam a alcançar melhores resultados. Outro fator importante na competência do profissional brasileiro é o sentimento de responsabilidade e de confiança que se estabelece entre o profissional e a empresa.
Existem grandes desafios para nossos empresários e empresas multinacionais instaladas no Brasil, para selecionar e manter os melhores talentos. Um grande fator de motivação é a compensação salarial do profissional, incluindo benefícios diferenciados. Mas um outro grande motivador para os altos executivos tem sido a autonomia que ele pode ter para exercer seu papel e trazer os resultados comprometidos.
Do lado do executivo, o equilíbrio de vida tem sido um dos principais pontos de conflito, ou seja, não se trata apenas de ter autonomia e ter uma boa compensação salarial, mas também é importante poder ter uma vida com a família, com os amigos e praticar seus “hobbies”. Alguns profissionais tem lançado questões como estas: Para que um alto poder aqusitivo se não tenho tempo para educar meus filhos e para vê-los crescer? Quando vou fazer o que gosto?
Em alguns países já existem iniciativas por parte de algumas empresas, no sentido de discutir esses temas e adaptar suas práticas internas para que os profissionais possam também ter mais tempo fora da empresa.
A proposta é que o trabalho seja visto como uma parte importante da motivação para a pessoa, mas com o sentimento de que o trabalho é apenas uma parte, e que sempre se deve buscar o equilíbrio com os interesses pessoais.
Para podermos ter uma quantidade suficiente de talentos disponíveis no mercado, é importante refletir sobre o que motiva as pessoas a se tornarem grandes profissionais, e um grande fator que a afetará muito as futuras gerações é o equilíbrio de vida.
Fonte: Gazeta Mercantil
