Fundamentos, o que são e como usar
25 de Maio de 2006 – A maioria dos artigos sobre investimentos menciona como justificativa para compra ou venda de ativos o estado dos fundamentos macro e microeconômicos. O mesmo ocorre quando os presidentes de empresas anunciam e explicam os resultados de suas corporações. Analistas e gestores de fundos também fazem o mesmo ao dizer que essa ou aquela ação tem fundamentos sólido. Afinal, do que estão falando e como usar tais fundamentos para decidir onde investir?
A análise fundamentalista refere-se ao estudo a purado de todo dado disponível para explicar os condicionantes de performance de um ativo, com exceção do histórico de movimentação de suas cotações, a chamada análise técnica. Ao contrário dessa última, e valendo-se do mercado acionário como exemplo, a análise dos fundamentos busca criar um retrato da empresa e identificar o valor intrínseco ou fundamental para o preço de suas ações e, com base em tais dados, comprar ou vender esse ativo.
Assim, os fundamentos no caso de uma empresa listada em bolsa, dizem respeito a seu fluxo de caixa, seu custo de capital ou financiamento no mercado, o retorno que tem proporcionado aos acionistas, a qualidade de sua gestão, a transparência na divulgação de dados e no relacionamento com suas contrapartes (fornecedores, clientes, acionista e funcionários, etc).
Para explicar o funcionamento da análise de fundamentos o economista Benjamin McClure faz um paralelo com o comportamento dos consumidores em um shopping center, onde as ações seriam os bens disponíveis para venda nas diversas lojas. A análise técnica sugere ignorar os bens colocados à venda e recomenda ao consumidor focar sua atenção nas lojas mais cheias como a forma de decidir o que comprar. Se a loja de computadores está lotada, a análise técnica irá sugerir a compra apostando que a aparente forte demanda por esses bens irá se traduzir na alta do seu preço de mercado.
Por outro lado, a análise fundamentalista procura entender porque a loja de PCs está lotada e, importante, se a procura por tais computadores permanecerá elevada nos próximos meses. Além disso, os fundamentos de cada empresa produtora e comercializadora serão analisados com cuidado para definir se os preços praticados no mercado já embutem ou não as perspectivas de evolução futura dos negócios desse setor ou empresa.
Algumas medidas analisadas são bastante objetivas, como fluxo de caixa e taxas de juros disponíveis para a empresa, e outras mais subjetivas, como a expectativa de evolução da c oncorrência e a qualidade da gestão da empresa analisada. No final, o analista colocará todas essas características de fundamentos juntas para definir sua estimativa de valor intrínseco ou fundamental para o preço da ação. Ao comparar tal valor ao vigente no mercado, é possível tomar a decisão de comprar ou vender essa ação.
Uso aqui um exemplo do mercado de ações, mas o mesmo processo, ainda que baseado em medidas de fundamento distintas, é levado a cabo para os ativos de renda fixa pública e privada, assim como para os diversos instrumentos de derivativos. Realizar a análise fundamentalista não é algo simples e é exatamente esse seu maior atrativo.
Ao ir fundo nos diferentes aspectos que condicionam a performance de um ativo, o investidor aprende a diferenciar o que é ou não relevante para a decisão de investimento e, eventualmente, identifica tendências e oportunidades de posicionamento. Isso não significa que os ativos irão sempre convergir para seu valor intrínseco. O que é observado, na prática, é uma flutuação ao redor desse valor.
Muitas vezes a cotação permanecerá distante do valor intrínseco por longos períodos e isso tende a abalar a crença na análise dos fundamentos. Em um mercado de alta é fácil para o investidor tomar decisão ou ao menos ter uma impressão de acerto. No entanto, em momentos de realização ou incerteza, a análise dos fundamentos proporciona uma segurança adicional e uma bússola para discriminar ativos sólido de aplicações menos atraentes no longo prazo.
A forma mais prática para o investidor pessoa física valer-se da análise de fundamentos é selecionar um gestor de fundos de investimento que utilize tal técnica no seu dia-a-dia de gestão de ativos. Nesse aspecto, a consistência de retornos ao longo de tempo, cobrindo bons e maus períodos do mercado, ainda parece ser mesmo a melhor forma de seleção de um gestor a quem delegar o destino de suas finanças pessoais.
Fonte: Gazeta Mercantil