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FMI aponta demora na retomada do Brasil

Os indicadores de atividade econômica do Brasil apontam para uma demora na recuperação do país, e um cenário de recessão, em 2017, não foi descartado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). A instituição verificou que o PIB continuou a se contrair no terceiro trimestre de 2016 e espera que o crescimento real seja mínimo, de 0,2%, ao fim de 2017.

A projeção anterior, realizada em outubro, era de 0,5%. Como o número está cada vez mais próximo de zero, é possível uma nova recessão, advertiu Alejandro Werner, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI.

De acordo com ele, a expectativa do Fundo é a de que a economia brasileira deixe de se contrair e tenha ligeiro crescimento. “Não concordo com a visão de pessimismo. Estamos incorporando um cenário de 2016 em que a economia se retraiu. Mas vemos um ano de 2017 em que a economia deve se estabilizar”, explicou.

Essa expectativa está baseada na recuperação do investimento e na estabilização do consumo, além das reformas do governo na área fiscal, como a implementação de um teto de gastos para o setor público e o envio da reforma da Previdência ao Congresso. As reformas regulatórias e as medidas para reduzir a burocracia também são importantes para o país voltar a apresentar PIB positivo.

Nesse cenário, Werner reconheceu que a faixa de crescimento ainda é pequena. “Existe a possibilidade de recessão em 2017”, pontuou. “Claramente, uma estimativa de 0,2% abre a porta para que o crescimento seja de 0,7% ou de menos 0,2%. Nós temos a confiança de que as mudanças que foram implementadas no Brasil, nos últimos 12 meses, podem levar a economia a deixar de se contrair. Se isso se manifestará em 0,2%, 0,4% ou em menos 0,1%, será algo estatístico. Mas, do ponto de vista qualitativo, acreditamos que foram implementadas medidas corretas, que o país tem que seguir nessa direção e a queda que estamos vendo na inflação e no risco país, somada à estabilidade que tem se visto na taxa de câmbio, vai levar a uma recuperação das taxas de crescimento do investimento. Isso vai fazer com que a economia brasileira estabilize seu crescimento, que deverá ser ligeiramente positivo. Claramente, outros cenários são possíveis, mas seguem representando uma mudança em relação aos dois últimos anos, com queda de mais de 3%.”

A fraqueza da economia brasileira contribuiu para a baixa projeção do PIB da América Latina, estimado em 1,2% para 2017. A Argentina, que iniciou reformas antes do Brasil, está com previsão de 2,2%. As perspectivas para a Argentina estão, no entanto, sendo afetadas pelo Brasil. “Os prognósticos (para a Argentina) estão sendo afetados por uma economia brasileira que está se recuperando lentamente e a Argentina depende das condições internacionais”, afirmou Werner. “Mas destaco que a recuperação está rápida, pois vem de menos 2,4% [em 2016]”, completou.

Mesmo o México, que está sofrendo ameaças constantes do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e viu um recuo muito forte do peso em relação ao dólar, está com perspectiva melhor que a brasileira: 1,7%. A pior projeção na região é da Venezuela: -6%. A projeção para a América do Sul é de 0,8%.

O FMI recomendou aos países que busquem o espaço necessário para calibrar o ajuste fiscal de suas contas públicas, “uma vez que a expectativa é que os preços das matérias-primas continuem baixos em relação a seus níveis históricos, apesar da alta recente”. “O ritmo do ajuste necessário dependerá dos níveis de dívida e das pressões do mercado”, disse Werner.

A instituição também indicou a realização de reformas estruturais, como a redução da informalidade e da burocracia, a melhoria da qualidade da infraestrutura, o reforço da educação e a ênfase nas regras de Estado de direito para apoiar o crescimento no médio prazo.

No caso brasileiro, o FMI verificou que está sendo feito um ajuste fiscal no plano federal, mas advertiu que há problemas nas contas de alguns estados. O Fundo elogiou o anúncio de medidas para reduzir a burocracia e atrair investimentos. Por outro lado, o tempo de implementação das reformas e dos seus efeitos na economia pode ser mais longo do que o esperado, dados os fracos índices de crescimento registrados no fim de 2016.

O FMI apontou ainda como fator positivo a queda de inflação, que passou a figurar dentro dos limites da meta estabelecida pelo Banco Central, de 4,5% com margem de tolerância de dois pontos para mais ou para menos. O indicativo de inflação para 2016 foi de 6,29%, segundo o IBGE.

“Citando um crescimento inferior ao previsto, a desinflação mais rápida do que a esperada e avanços da reforma fiscal, o BC, na sua mais recente reunião, acelerou consideravelmente o processo de flexibilização da política monetária”, afirmou Werner, referindo-se à queda de 0,75 pontos na taxa de juros que foi determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), deixando a Selic em 13%, na semana passada.

Fonte: Valor

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