Falta de gerenciamento deixa elétricas expostas aos riscos
Os riscos a que estão expostas as empresas do setor elétrico ficaram evidenciados neste ano depois de eventos como o blecaute que afetou 18 estados, os apagões na cidade do Rio, o problema com o questionamento em torno das tarifas de energia e usinas que devem atrasar. Mas uma pesquisa da Deloitte revela que apesar de tantos riscos para contabilizar, cerca de 35% das empresas do setor não possuem nenhum tipo de sistema que gerencie essas contingências. E mesmo entre as empresas que possuem um gerenciamento de risco, em cerca de 41% dos casos não existe um plano de ação para minimizá-los.
O sócio da Deloitte que coordenou a pesquisa, José Fernando Alves, chama a atenção também para o fato de que 33% dos executivos que estão em empresas que têm a gestão de risco não reavaliam suas atividades com frequência. “Isso significa que se há mudança da lei, por exemplo, as empresas não se preparam para a nova realidade”. A pesquisa foi realizada em conjunto com a Fundação Coge e ouviu 76 executivos do setor, que representam 25 entidades, entre os dias 25 e 26 de agosto deste ano, antes do último apagão.
Outro ponto que chama a atenção da pesquisa é que nos principais objetivos do processo de gestão de risco, apenas 47% estão ligados à resposta a regulamentações, apesar de tratar-se de um setor altamente regulado. A gestão ainda está muito voltada para estratégias de organização e de governança corporativa, com 83% das respostas, e seguido da prevenção a fraudes e irregularidades dentro das companhias, com 82%.
No processo de identificação dos riscos a que as elétricas estão expostas, 39% dos executivos dizem que é insuficiente a análise daquilo que é considerado não rotineira e 27% dizem que os riscos não são identificados em tempo hábil. “Os maiores impactos estão justamente nesses processos que não são rotineiros”, diz Alves. Ele lembra o caso dos investimentos em derivativos que gerou perdas de centenas de milhões de reais em algumas empresas e que são justamente atividades não rotineiras da empresa. Outro exemplo é o caso do blecaute que atingiu boa parte do país no início de novembro e que deve gerar uma contingência grande de reclamações nas distribuidoras de energia por consumidores que tiveram seus aparelhos elétricos queimados.
Na análise do nível de excelência na identificação de riscos, a avaliação positiva foi feita em torno da atualização dos orçamentos e planejamentos financeiros. O nível foi considerado ótimo ou bom por 87% dos executivos. Também a contabilidade é bem avaliada, e suas políticas são bem cotadas também por 87% dos executivos. A contabilidade é também um risco ainda sendo avaliado pelas empresas do setor em função da mudança das regras que devem valer a partir do próximo ano.
O sistema financeiro é hoje o setor mais preparado para a gestão de seus riscos. As elétricas, apesar de estarem ainda engatinhando nesse processo, estão melhores se comparadas a indústria brasileira como um todo. No início do ano a Deloitte aplicou pesquisa semelhante com executivos de todos os setores e observou que 39% das empresas não possuem um sistema de gestão implantado.
Fonte: Valor
