Expectativa de retomada este ano
Para especialistas, aprovação do ajuste fiscal cria um ambiente de investimento de longo prazo mais animador.
Lima. da Brasilprev: ações de educação previdenciária
Os últimos dois anos têm se mostrado desafiadores para a indústria da previdência aberta no Brasil. Após um 2013 turbulento, por conta das mudanças nas regras de alongamento das carteiras em meio à inversão da curva de juros, 2014 também reservou histórias difíceis de contar. Além de dois eventos como Copa do Mundo e eleições, que roubaram a atenção e plantaram dúvidas na cabeça do investidor, o mercado ainda se ressentiu com a alta volatilidade que atravessou o ano e deixou algumas seguradoras no negativo em termos de captações líquidas. Foram os casos da Metropolitan Life, Mapfre e Allianz, que amargaram mais saídas do que entradas de recursos nos planos previdenciários. As operadoras fecharam o ano no vermelho, com menos R$ 360,02 milhões, RS 169,31 milhões e RS 25,63 milhões, respectivamente, segundo estudo feito pela consultoria NetQuant com 929 fundos que consideram apenas as categorias Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL) e Plano Gerador de Recursos Livres (PGBL).
Apesar do cenário conturbado, o mercado como um todo conseguiu apresentar números consolidados melhores do que os das três seguradoras. Os dois últimos meses do ano foram em parte responsáveis por isso. Sazonalmente mais fortes, as vendas se aqueceram em novembro e dezembro, o que elevou a carteira total de investimentos em 18,4%, para R$ 442 bilhões, segundo dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). O ano passado foi difícil. O mercado de capitais é reflexo da economia, que teve baixíssimo crescimento. Com incertezas, o investidor deslocou os recursos de longo prazo para curto prazo, avalia Osvaldo Nascimento, presidente da entidade. Mas considerando todos esses eventos e com o final de ano aquecido, até que fomos muito bem, afirma.
A aposta para 2015 é de resultados melhores para a indústria, mesmo em meio a um ambiente macroeconômico e político bastante conturbados. Os três primeiros meses do ano mostram isso. O total de ativos em março bateu a casa dos R$ 460 bilhões, crescimento de 20 % em relação ao mesmo período de 2014. A explicação, para a Fenaprevi, é a expectativa positiva em relação à aprovação do ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que deve trazer maior estabilidade para a
economia no médio e longo prazos. Além disso, o setor acaba de aprovar a Resolução 4402, que veio a corrigir distorções da 3308, ao criar mecanismo mais suaves e escalonados de alongamento das carteiras em períodos de volatilidade. Até o fim de 2015, mantém-se o alongamento pelo fluxo de recursos novos. Em 2016, a duração será de um ano e somente em 2017, o prazo de vencimento da carteira subirá para dois anos. Com as novas regras, as seguradoras poderão proteger as carteiras com o uso de derivativos sem impacto nos prazo. Tudo para evitar o estresse de 2013 novamente, avalia Nascimento.
Apesar da mudança positiva em relação à remuneração das carteiras tanto em renda fixa, quanto variável -, este ano o investidor tem preferido manter suas apostas em planos mais conservadores, realizando constantes retiradas principalmente dos fundos de ações. Isso por duas razões. Primeiro, porque ainda não esqueceu o trauma das perdas ocorridas em 2013 com a bolsa caindo e juros mudando de rumo. Segundo porque com a Selic a 13,25% e a NTN-B de2024/30 remunerando os investimentos em IPCA mais 6,5%, ele não vê necessidade de sair da zona de conforto e correr riscos para engordar o bolo de suas aplicações. Ainda que alguns fundos como o Guardian FI Multimercado Crédito Privado, do Bradesco, venham liderando os ganhos do ano, com alta de 21,45% nos três primeiros meses, conforme pesquisa NetQuant No ranking dos dez melhores fundos em rentabilidade, todos são multimercados e os três primeiros estão com ganhos altíssimos, devido à forte alocação em câmbio ou dólar futuro, diz Marcelo Nazareth, presidente da consultoria.
Mas mesmo com performance de ganhos nos fundos multimercados acima da concorrência, o Bradesco Vida e Previdência ainda mantém 93% dos R$ 144 bilhões de ativos que administra em fundos de renda fixa. Porque é assim que o investidor quer. Ao final de 2014, a carteira total de investimentos estava em R$ 140,7 bilhões, crescimento de 12,8% em relação a 2013. Apesar de manter a liderança nessa indústria, com cerca de 30% das reservas totais, o Bradesco sofreu para fechar 2014 no terreno positivo das captações líquidas. A arrancada na reta de chegada compensou os outros dez meses e fez com que atingisse RS 1,68 bilhão líquidos. Sua meta para 2015 é avançar entre 10% e 12% no total de ativos.
Fizemos vários ajustes entre 2013 e outubro de 2014 para unificação das quatro áreas de negócios do grupo segurador que nos dará certa vantagem, sinaliza Lúcio Flávio Condurú, presidente da Bradesco Vida e Previdência. Essa união dará à entidade um batalhão adicional de 19 mil corretores, além dos 4,2 mil que possui e que são especializados nos planos previdenciários. O modelo é virtuoso. Especializamos uma força adicional que irá explorar o canal banco para aumentar as vendas.
Não há dúvida de que a qualificação da oferta cada vez mais fará a diferença nesse mercado. O suitability (regra da CVM que exige adequação dos produtos e serviços ao perfil do cliente), a certificação dos profissionais, taxas e serviços deverão entrar na conta do investidor na escolha pelo plano. A venda consultiva deverá se sofisticar se quiser fisgar pessoas e empresas que estão mais exigentes e querem entender as exatas vantagens e desvantagens do investimento de longo prazo. Nessa linha, a Brasilprev reforçou no ano passado as ações de educação previdenciária. Por meio dos seus canais digitais, lançou vídeos explicativos no YouTube, fez seminários sobre o cenário econômico e as mudanças nas regras da previdência, realizou 1.090 palestras com 48 mil investidores e lançou novas famílias de produtos.
Essas ações fizeram com que a empresa tivesse um desempenho acima da média do mercado, com um dos melhores índices de resgates da indústria e sem registro de captação negativa, afirma Miguel Terra Lima, presidente da seguradora que faz parte da holding BB Seguridade. A Brasilprev liderou o ranking das dez maiores captações líquidas de 2014, com R$ 18,91 bilhões. Resultado quase três vezes superiorao do segundo colocado, Itaú Unibanco, e muito distante do terceiro, Bradesco, conforme levantamento NetQuant. A seguradora também projeta crescer acima da média do setor em 2015, que prevê avançar 12%. Queremos crescer entre 27% e 36%. A Brasilprev continuará aumentando seu protagonismo na indústria, aposta Terra Lima, que destaca a importância do setor previdenciário como investidor institucional, porque o mercado tem a tivos de longo prazo, que geram recursos para financiar o desenvolvimento do país. No primeiro trimestre, a Brasilprev acumulou RS 4,94 bilhões em captação líquida.
Para o Itaú Unibanco, o ano de 2014 foi bom e de recuperação do anterior. Isso porque na sua avaliação o cliente está mais maduro e conhecedor do mercado de renda fixa. Hoje, ele sabe que renda fixa também varia. E não fica mais chateado em ver oscilações negativas. Ficava quando não entendia a funcionalidade do mercado, avalia Cláudio Sanches, diretor de investimentos e previdência do banco, que está entre os três maiores em carteira total de ativos, com RS 103,1 bilhões ao final de 2014, quando avançou 33,3% nas captações líquidas.
Todo início de ano, e neste não foi diferente, Sanches vê um esforço do mercado para capturar parte dos bônus pagos sazonalmente pelas empresas nesta época. Outro fator de oportunidade é o período de recolhimento do Imposto de Renda para quem faz declaração completa e podería deduzir 12% de seus aportes em PGBL O que faz com que se programe pensando nesse benefício para o próximo ano. Ao contrário de seus pares, ele acredita que é possível levar algumas vantagens em anos onde a atividade econômica se retrai, como neste. Isso porque a média e a alta renda ao invés de consumir, se preocupa com o futuro e investe mais. Claro que a retração econômica impacta o nosso negócio, mas enquanto houver controle do desemprego, uma coisa compensa a outra.
Sanches lembra a máxima do mercado que diz que o investidor não deve colocar todas as fichas no mesmo pacote. O ideal é que divida suas reservas em três: a de emergência, de previdência e de construção de patrimônio. Ao integrar a previdência com outros produtos de investimento é possível ter uma visão consolidada do cliente.
Aproveitando a boa onda de alta performance dos fundos, a Icatu Seguros projeta um 2015 melhor do que 2014 e vê espaço para essa indústria avançar no Brasil. Hoje, só 11 milhões de pessoas têm um PGBL ou VGBL E a maioria das pequenas e médias empresas ainda não oferecem esses benefícios. O que mostra o enorme potencial, afirma Luciano Snel, presidente da seguradora, que fechou 2014 com R$ 8,1 bilhões em ativos, incremento de 19% sobre o período anterior. Algumas razões explicam o resultado, como o aumento
de 23% nas contribuições mensais dos participantes e o crescimento das portabilidades de entrada, que chegou a RS 1,1 bilhão no ano passado, 13% maior que em 2013. O que reflete uma carteira sustentável e que permite construir uma base de reservas para o longo prazo da companhia, diz Snel. A Icatu administra dois dos dez fundos que apresentaram melhor rentabilidade nos primeiros três meses de 2015: o Icatu Bluezinger FIC H Multimercado e o Palmares F1 Multimercado Crédito Privado, com alta de 7,22% e 6,77%, respectivamente, segundo a NetQuant. Trabalha com 30 diferentes gestoras e possui 5 mil corretores ativos.
Bem mais otimista do que o resto da concorrência, o Santander prevê avançar 50% em captação líquida e 17% no total de reservas este ano. Apesar do cenário macroeconômico difícil, os efeitos na previdência não devem ser relevantes, porque trabalhamos forte a consultoria de investimentos, acredita João Batista Mendes Ângelo, diretor de previdência da Zurich Santander, que fechou 2014 com R$ 1,33 bilhão em captação líquida e ativos investidos de RS 24,5 bilhões. Tanto otimismo vem do termômetro do primeiro trimestre de 2015, com resultado líquido de R$ 267,7 milhões, 20% a mais do que no mesmo período de 2014. As atividades de investimentos de longo prazo não desaceleraram e o investidor começa a enxergar maior valor nesses aportes, diz Mendes Ângelo, que detêm 90% de seus fundos previde nciários alocados cm ativos de renda fixa.
Fonte: Valor