Expansão econômica pode superar 3% em 2018
A alta de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre trouxe sinais importantes de que a reação do crescimento é sustentável, avalia Maurício Molan, economista-chefe do Santander. A absorção doméstica – soma do consumo das famílias, dos investimentos e dos gastos do governo – finalmente voltou ao campo positivo, destaca Molan, impulsionada pelo primeiro componente, tendência que deve continuar.
O consumo respondeu à liberação do saldo de contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e à desaceleração da inflação, fatores que devem perder importância daqui para frente. Por outro lado, a redução do comprometimento de renda das famílias vai se acentuar, como reflexo do afrouxamento monetário, afirma Molan, dando início a um ciclo de retomada da demanda. O investimento, porém, só deve voltar a crescer em 2018, ano para o qual o Santander estima aumento de 2,5% do PIB.
A expansão da economia no próximo ano “pode facilmente superar 3%”, aponta o economista-chefe do banco, cenário condicionado à aprovação das reformas estruturais. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Valor: Como o sr. avalia os resultados do PIB do segundo trimestre?
Maurício Molan: O dado foi muito bom, até melhor do que o esperado, porque mostrou duas coisas muito importantes. É a primeira vez que o PIB entrou no terreno positivo, na comparação com igual período do ano anterior [alta de 0,3%] desde o fim de 2013 e início de 2014, e houve finalmente crescimento da demanda doméstica, algo que não tinha aparecido no primeiro trimestre. Essas são duas mensagens muito importantes para apostarmos na sustentabilidade dessa recuperação.
Valor: A recessão realmente ficou para trás?
Molan: A recessão claramente ficou para trás. Mas ainda vamos levar um tempo para voltar aos patamares máximos de renda atingidos em 2013. O PIB per capita caiu mais de 10% e, para recuperar essa queda, vamos levar entre cinco e dez anos.
Valor: Houve algum efeito da crise política sobre a atividade?
Molan: Aparentemente, se houve, não foi relevante. Poderíamos medir isso através dos indicadores de confiança das empresas e das famílias. No auge da crise política, eles caíram, mas muito pouco, e já voltaram a crescer. A queda foi pequena e já superada.
Valor: A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) seguiu em queda e a taxa de investimento está em nível bastante baixo. Nem esse componente do PIB foi afetado pela crise?
Molan: Existem coisas muito maiores limitando o investimento. Há ainda um estoque grande de imóveis à venda, o que desestimula uma retomada dos investimentos no setor de construção civil, e tem muita capacidade ociosa na indústria, o que desestimula o investimento em capital. Então primeiro vamos ver alguma expansão mais consolidada da demanda das famílias para depois vermos uma retomada do investimento. Os fatores de confiança vão ser um pouco menos importantes neste caso.
Valor: Quando o investimento deve voltar a crescer?
Molan: Projetamos um crescimento superior a 5% da formação bruta em 2018, puxado tanto pelo fim do ciclo de estoques na construção quanto pela retomada dos investimentos em capital, principalmente a partir de um ciclo de reversão do crédito. A retomada do crédito para pessoas jurídicas vai ajudar muito no ano que vem, com aumento da oferta e da demanda e taxas de Juros mais baixas, que significam redução do custo de capital e resultam em mais projetos de investimentos atrativos.
Valor: O consumo das famílias teve expansão de 1,4% no segundo trimestre, depois de oito trimestres de queda seguidos de estabilidade. Isso indica o início de novo ciclo?
Molan: O crescimento do consumo se deveu a alguns fatores, com o FGTS, a queda da inflação, que ajudou a reforçar a renda, e a queda da taxa de Juros, que reduziu o comprometimento de renda das famílias com o pagamento de Juros e amortizações. Daqui para frente, os dois primeiros fatores serão menos importantes, mas a redução do comprometimento de renda vai se acentuar muito. Portanto, acreditamos que está em curso o início de um ciclo de retomada importante do consumo.
Valor: O que o sr. espera para a evolução do PIB neste ano e no próximo?
Molan: O PIB deve ficar ao redor de 0,5% em 2017 e para o ano que vem projetamos 2,5%, mas a alta pode facilmente superar 3%. O que contribuiria para o impulso maior seria um bom andamento das reformas, que consolidaria o processo de retomada de confiança e de investimentos.
Valor: E se o próximo presidente eleito não tiver uma agenda reformista, como fica o cenário?
Molan: Se tivermos uma eleição que aponta para incertezas em relação ao processo de reformas, isso trará volatilidade para o mercado e abortará uma retomada do crescimento que, por enquanto, parece promissora. Mas acreditamos que a sociedade tem se convencido da necessidade de reformar o Estado e da importância do reequilíbrio das contas públicas. Isso deve se refletir nas eleições de 2018.
Fonte: Valor