EUA não descartam elevação de juro na reunião de março
A presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, sinalizou que o banco central americano considera a possibilidade de subir a taxa de juros de curto prazo em suas próximas reuniões, inclusive já em março. As afirmações foram feitas durante discurso preparado para sua apresentação no Comitê Bancário do Senado dos EUA. Na ocasião, também foi apresentado o relatório semestral sobre a política monetária americana.
Na apresentação, Yellen fez uma avaliação positiva sobre a evolução da economia americana. Segundo ela, se o avanço do mercado de trabalho se mantiver e a inflação continuar a subir, será apropriado um aumento na taxa de referência do Fed nas “próximas reuniões”. Foi o primeiro depoimento de Yellen ao Congresso desde a posse de Donald Trump na presidência dos EUA, em 20 de janeiro.
Na avaliação de Yellen, os ganhos na geração de vagas de trabalho nos últimos meses e a elevação salarial observada ao longo dos últimos anos são uma nova “indicação de que as condições do mercado de trabalho estão se ajustando”. “Meus colegas do Fomc [comitê de mercado aberto] e eu esperamos que a economia continue a se expandir em ritmo moderado, com fortalecimento do mercado de trabalho, e que a inflação se mova gradualmente em direção à meta de 2%”, disse Yellen.
Assim, os formuladores da política do Fed esperam que a evolução da economia “assegure aumentos graduais na taxa dos fed funds”, disse. Para Yellen, esperar demais para remover a acomodação “seria pouco sábio”, o que, potencialmente, poderia exigir do Fomc “um ritmo mais acelerado de aumentos, ameaçando os mercados financeiros, bem como mergulhar a economia em recessão”.
No depoimento, Yellen afirmou que a taxa de desemprego está agora “em linha” com a mediana das estimativas de longo prazo do banco central americano. O mercado de trabalho dos EUA teve um bom começo de ano, com os empregadores americanos criando 227 mil novas vagas de trabalho em janeiro, embora os ganhos salariais tenham continuado fracos, o que sugere que ainda há alguma folga no mercado.
Yellen disse ainda que os integrantes do Fed projetam que a inflação suba “gradualmente” até a meta de 2%. A inflação tem se aproximado do centro da meta nos últimos meses, com a medida de preços preferida pelo Fed, o índice de preços com consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês), chegando a 1,6% em dezembro.
A presidente do Fed ressaltou ainda que “incertezas consideráveis” rondam as perspectivas econômicas, que incluem possíveis mudanças na política fiscal americana, o crescimento da produtividade e desenvolvimentos internacionais. Yellen comentou rapidamente as propostas do presidente americano Donald Trump para estimular a economia com cortes de impostos e gastos públicos, dizendo que é “muito cedo para saber” quais mudanças serão implementadas ou “qual será o seu desfecho”.
A presidente do Fed disse que poderá trabalhar com o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, para cumprir a decisão de Donald Trump de uma revisão exaustiva da regulação imposta após a crise financeira. Ela afirmou que é vital para os reguladores procurarem constantemente formas de atenuar o peso das regras. Trump prometeu eliminar regulações sobre a atividade empresarial, especialmente as que dificultam a concessão de crédito.
A presidente do Fed, no entanto, jogou água fria em uma série de afirmações da administração Trump para justificar a eliminação de regulamentações sobre as empresas americanas. Em resposta a uma pergunta da senadora Elizabeth Warren, Yellen disse que dados recentes mostram que os empréstimos comerciais e industriais excederam o pico de 2008, com ajuste inflacionário. Yellen afirmou que as instituições não têm precisado de crédito, o que limitou a demanda. Os bancos americanos, disse ela, também têm conseguido lucros maiores do que os seus concorrentes internacionais, que não sofrem das supostas desvantagens competitivas.
A senadora usou as respostas de Yellen para desmentir fatos usados pela administração de Trump, alertando que a desregulamentação poderia causar uma nova crise financeira. A senadora disse que é vital confiar em “fatos reais”, não “fatos alternativos” que foram repetidos pela administração de Trump. No começo do mês, Trump prometeu desfazer uma série de restrições a instituições financeiras criadas após a crise de 2008.
Fonte: Valor