Estudos de cenário fundamentam estratégias de alocação de recursos
A leitura do cenário econômico e financeiro, local e externo, é matéria-prima das mais importantes para o segmento private dos bancos. Informações transmitidas pelos departamentos econômicos e pelas mesas de operadores de Câmbio, Juros e bolsa ajudam, por exemplo, a identificar oportunidades de ganhos ou mesmo fazer mudanças na alocação de ativos na carteira dos investidores.
“Temos de estar sempre muito bem informados, com pluralidade e diversidade de dados e análises. Cabe a nós interpretá-los da melhor maneira”, explica Gustavo Schwartzmann, superintendente-executivo do private banking do Santander. Segundo ele, as fontes de informação transcendem a área de análise econômica do banco ou da gestora.
“Precisamos saber qual economista é muito bom em acompanhar atividade ou o time de análise que costuma fazer bons estudos da parte fiscal”, exemplifica. Por isso, relatórios de outras Instituições Financeiras e de consultorias macroeconômicas também servem de subsídio para o time de estratégia econômica do private. É essa área a responsável por assimilar o conjunto de informações recebidas diariamente e fazer a interpretação de indicadores importantes, como PIB.
A equipe também acompanha de perto os acontecimentos internacionais, a partir de comentários enviados por economistas baseados em países como Estados Unidos, Espanha, Inglaterra e Japão. “Boa parte dos movimentos no mercado financeiro brasileiro é ditada pela política monetária nos Estados Unidos ou por dados de atividade econômica na China”, ressalta Schwartzmann. Com a radiografia do cenário doméstico e internacional em mãos, são tomadas decisões de aumentar ou diminuir a exposição a determinados classes de ativos. Mas tudo conforme o perfil de risco do cliente.
No Bradesco, as análises do departamento liderado pelo economista-chefe Fernando Honorato – que incluem indicadores e perspectivas para Câmbio, Juros e bolsa – são a principal fonte para o private banking sobre cenário local e internacional, mas não a única. “Consultamos informações da BRAM [gestora do banco] e do BBI [banco de investimentos], assim como economistas de mercado e consultorias”, destaca Alexandre Gartner, superintendente-executivo de investimentos do private banking do Bradesco.
Munida de diversas opiniões, a equipe de estratégia de investimentos do private desenha as alocações de curto, médio e longo prazo. Para isso, entre outros ingredientes, combina visão econômica, avaliação de mercado e perspectivas para as aplicações. “Os “bankers” têm o time de investimentos como a principal fonte de informação, mas é uma via de duas mãos. Os profissionais também trazem dados que ajudam a alimentar a área”, diz Gartner.
O private do Banco do Brasil (BB) conta com uma equipe de estrategistas que atuam próximos ao departamento de assessoramento econômico, à gestora BB DTVM, além de conversar com a Brasilprev, o banco de investimento e a tesouraria. “Os estrategistas se reúnem em um fórum mensal – ou esporadicamente na presença de eventos macroeconômicos relevantes – com a participação de todas essas áreas do conglomerado e de consultorias independentes, para formar sua própria opinião”, afirma Julio Vezzaro, gerente executivo da unidade private bank do BB. Os cenários e as projeções construídos pelo time de estrategistas embasam as recomendações de alocação para os clientes.
O relatório mensal assinado pelo economista-chefe do Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, é o recurso mais usado pelo segmento private do banco para a revisão de portfólio dos clientes. Materiais de duas consultorias também orientam na construção do cenário. “Semanalmente, fazemos uma reunião com o economista-chefe para falar sobre a semana que passou e o que podemos mudar nas carteiras, de uma maneira mais tática, com visão de curto prazo”, conta Cassio Guimarães, head do private banking do Fator.
Segundo ele, a equipe do private mantém, diariamente, um contato muito próximo com a mesa de investimentos. “É o calor do mercado. Por exemplo, a curva de Juros está fechando, de repente pode ter alguma oportunidade”, explica Guimarães. Enquanto os assessores estão em reunião com clientes, recebem informações do estrategista, responsável por filtrar o conjunto de notícias sobre economia e política.
No fim do dia, o cliente quer saber se o dinheiro está rendendo, mas gosta de acompanhar a leitura do banco sobre acontecimentos econômicos e políticos. “A essência do private é o trabalho customizado”, afirma Gartner.
Fonte: Valor