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Estrangeiro aposta em menos populismo na eleição de 2018

A onda compradora que levou o Ibovespa a subir 26,28% e atraiu um volume de R$ 14,84 bilhões de capital externo neste ano está baseada não apenas nos fundamentos econômicos positivos, mas também em uma aposta política. Estrategistas e gestores de instituições estrangeiras consultados pelo Valor afirmam que, em seus cenários, estão considerando a vitória na eleição presidencial de um candidato menos populista, comprometido com a agenda de reformas e o ajuste fiscal. Isso significa que a proximidade do pleito em 2018 pode trazer volatilidade cada vez maior, especialmente caso haja uma reversão dessas expectativas.

O bom humor dos mercados locais tem sido interrompido por correções de curto prazo, mas, no geral, o ânimo dos investidores continua sustentando um impulso relevante até agora. Na sexta-feira, o Ibovespa teve baixa de 0,73%, aos 76.055; na semana, porém, o ganho acumulado alcançou 2,37%. Já o dólar comercial encerrou a sexta com leve alta de 0,11%, a R$ 3,1571, mas em queda de 0,28% na semana.

“Depois de 13 anos de um tipo específico de gestão, está claro que precisamos de mudanças, então um candidato reformista e com uma cabeça pró-mercado está na aposta de quem investe”, afirma Roberto Rocha, diretor de renda variável do Citi Brasil, em entrevista ao Valor.

Ele afirma que, neste momento, os riscos eleitorais não são uma preocupação do investidor que está olhando para Brasil e buscando oportunidades, mas essa aposta pode encontrar, a partir do ano que vem, um limitador. “A grande chave para uma mudança real não é a eleição, mas alterações na política monetária internacional que afetem a liquidez global”, diz.

Quem também enxerga essa possibilidade a partir de 2018 é Martin Castellano, economista-chefe para a América Latina do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês). “A margem para populismo no Brasil depois das eleições presidenciais de 2018 é estreita, pois uma combinação de moderado crescimento e frágil posição fiscal devem favorecer políticas mais prudentes”, afirmou ele, em posicionamento recente. “Distúrbios políticos de longa data estão longe de diminuir, mas todos parecem estar seguindo em frente.”

Além da expectativa de menor populismo, gestores avaliam que o interesse pelo Brasil em termos econômicos tem ofuscado os riscos eleitorais. “Temos uma retomada da economia que conta com certo grau de automatismo, em que o ruído político se torna menos relevante”, diz Paulo Pereira Miguel, sócio da GPS Investimentos, gestora de patrimônio integrante do grupo Julius Baer. “Enquanto permanecer essa perspectiva, a tendência do mercado é seguir para cima.”

Apesar das avaliações políticas benignas, o fôlego do crescimento econômico, principal catalisador da busca por rentabilidade no Brasil, ainda continua atrelado ao resultado das urnas. Chefe global de pesquisa da gestora britânica Ashmore, Jan Dehn, aponta que a atividade só deve “realmente decolar com a chegada do novo governo após 2018 e a conclusão de reformas, especialmente a da Previdência”. Ele trabalha com o cenário no qual será eleito um governo “amigável ao mercado”, mas isso exige que “[o ex-presidente] Lula seja impedido de concorrer e outros candidatos menos palatáveis não avancem”.

A leitura da Ashmore é de que há valor em aplicações de renda fixa, mesmo com a trajetória de queda nos Juros. Faria sentido, inclusive, começar a construir posições em papéis ligados à inflação. Isso não se deve a um risco vindo da pressão sobre preços, “mas simplesmente porque os títulos se tornaram muito baratos”. Olhando para frente, conforme a economia ganhar força, será “prudente” migrar de títulos nominais para ações.

É com uma expectativa de melhora mais consolidada da economia que Paulo Pereira Miguel, da GPS, elevou a sua exposição a ativos de renda variável, embora a estratégia central da casa seja focada em renda fixa. “E o viés é de aumento dessa posição, apesar de sabermos das oportunidades para realização de lucros. A tendência ainda me parece de compra em Brasil.”

Mesmo com apostas firmes em torno de um cenário político mais benéfico, a volatilidade pode aumentar conforme a visibilidade sobre o tema cresça. O economista sênior Vladimir Miklashevsky, do Danske Bank, na Finlândia, destaca que os eventos políticos no Brasil são seguidos de perto pelos investidores estrangeiros. Com a diminuição da incerteza política e mais clareza no cronograma de reformas, os títulos de longo prazo se tornariam mais interessantes. Por ora, o especialista ainda vê valor em taxas de Juros reais e no real. “A desinflação mantém as taxas reais elevadas e conduz fluxos positivos para o real”, afirma.

Para Peter Taylor, diretor das operações da gestora Aberdeen no Brasil, a avaliação do investidor estrangeiro é pautada por um sentimento global e pelas oportunidades em relação aos demais mercados emergentes. “O fluxo de capital observa os riscos políticos, mas não especificamente no Brasil. Assumo que aspectos políticos serão mais importantes no ano que vem, mas a economia está mudando independentemente do drama político e algumas pessoas apostam no progresso das reformas”, diz.

A exposição do investidor estrangeiro ao Brasil também tem se dado não somente pela visível alocação na renda variável, mas também pelos investimentos diretos na economia, o que reforça a tese de que as oportunidades permanecem. “O investidor estrangeiro olha mais para o crescimento potencial nos próximos anos e isso o Brasil apresenta”, diz Andrea Cattaneo, diretor da área de Securities Services do BNP Paribas Brasil. “O cenário econômico mais estável está facilitando a decisão de investimento, mas certamente a segurança desse fluxo vai depender da evolução dos aspectos políticos e, principalmente, econômicos.”

Fonte: Valor

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