Mercado de Seguros

Especial de seguros traz um panorama do setor

O setor de seguros vive um momento de inflexão. Pressionado por um ambiente macroeconômico desafiador, novas regulamentações e riscos emergentes — de mudanças climáticas a ataques cibernéticos —, o mercado precisa se reinventar. É este o pano de fundo das matérias que compõem o especial de Seguros que o jornal Valor Econômico traz hoje (leitura apenas para assinantes).

Mesmo diante desse cenário, o desempenho financeiro mostra resiliência: entre janeiro e junho, o lucro líquido das seguradoras chegou a R$ 16,5 bilhões, alta de 16% em relação ao mesmo período de 2024, segundo a Susep e a Siscorp. Já a arrecadação total somou R$ 206 bilhões, queda de 1,67%, puxada principalmente pelo recuo da previdência complementar aberta.

As tendências que moldam o setor incluem:

CENÁRIO DO SETOR

As seguradoras vivem um momento de inflexão. Pressionadas por um ambiente macroeconômico adverso, novas regulamentações, mudanças climáticas e riscos emergentes, como o cibernético, as companhias precisam repensar sua forma de operar, gerar receita e exercer seu papel em uma indústria em transformação. A busca por novos mercados, fusões e aquisições e o avanço da tecnologia se consolidaram como alicerces estratégicos para a próxima década.

SETOR MANTÉM CRESCIMENTO

O lucro líquido do setor de seguros entre janeiro e junho deste ano foi de R$ 16,5 bilhões, 16% acima dos R$ 14,2 bilhões registrados no mesmo período de 2024, segundo dados da Susep, organizados pela consultoria Siscorp. A arrecadação total da indústria somou R$ 206 bilhões no primeiro semestre de 2025, um recuo de 1,67% sobre igual intervalo de 2024. O desempenho mais modesto da receita se deve, sobretudo, ao comportamento da previdência complementar aberta, que responde por cerca de 40% da arrecadação total (excluindo saúde).

COP30

Mitigação de riscos, financiamento e aumento da frequência de eventos extremos. Alguns assuntos se ligam imediatamente à pauta da COP30. Os temas relacionados aos seguros também fazem parte dessa lista e estarão representados pela Casa do Seguro na cúpula do clima, em novembro, em Belém.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Novas estratégias. No setor de seguros, esse é o reflexo das mudanças climáticas. Elas nascem da constatação que os efeitos do aquecimento global como enchentes e secas prolongadas deixaram de ser uma previsão e passaram a impactar a vida das pessoas e a sustentabilidade dos negócios.

CATÁSTROFES

Com a temperatura média global 1,45 0 C acima dos níveis pré-Revolução Industrial, o ano de 2023 bateu recordes não só nos termômetros, mas também nas ocorrências de desastres naturais, como enchentes, secas extremas, incêndios florestais e furacões. As perdas financeiras associadas a esses eventos alcançaram US$ 380 bilhões, um aumento de 22% em relação à média do século XXI, de acordo com o relatório “da Aon Seguros.

MARCO LEGAL

A Lei 15.040/2024, chamada de Marco Legal dos Seguros, entrará em vigor a partir de 11 de dezembro deste ano, trazendo maior clareza aos consumidores e segurança jurídica. A principal inovação é a consolidação em um único diploma legal as regras contratuais e do relacionamento entre seguradoras e os segurados, que antes estavam esparsas na regulamentação do Código Civil.

BANCASSURANCE

Os grandes bancos brasileiros há muito identificaram a capacidade de o setor de seguros alavancar seus resultados operacionais e financeiros. A partir de seus balcões, a via primária de atração de clientes, tais instituições investiram em tecnologia e em inovação de produtos e serviços e, atualmente, despontam entre os mais competitivos figurantes dos rankings elaborados pela Susep.

FAVELAS

As soluções voltadas ao público de alta vulnerabilidade ganham força no segmento de microsseguros. Trata-se de um mercado com potencial demanda. A população de favelas no Brasil, segundo o Censo de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aumentou 43,5% entre 2010 e 2022.

MICROSSEGUROS

Regulamentado no Brasil desde 2011, o mercado de microsseguros cresce anualmente. Números da CNseg registram arrecadação de R$ 780 milhões entre janeiro e maio deste ano. Trata-se de um crescimento nominal de 18,2% e um aumento real de 12,4% em comparação com os cinco primeiros meses de 2024.

FRAUDES

Não são tantos filmes a ponto de classificar o tema como um subgênero do cinema policial, mas fraudes em seguros já tiveram papel importante nas telas. Em 1944, o cineasta Billy Wilder dirigiu “Pacto de Sangue”, pioneiro ao colocar um vendedor de seguros como protagonista de um policial “noir”, aquele gênero com histórias de detetives cínicos e mulheres fatais.

PREVIDÊNCIA

Com as sequelas da pandemia de covid-19 praticamente dissipadas, a previdência privada volta a apresentar bons resultados em termos de captação, rentabilidade dos ativos e crescimento dos investidores. Só que, agora, dentro de um novo marco regulatório que gestores e analistas consideram atrativo do ponto de vista do poupador e positivo para o crescimento do mercado.

SAÚDE

Operadoras de seguro saúde anteveem um 2025 melhor do que 2024. O primeiro trimestre deste ano foi o oitavo consecutivo de bom desempenho, com resultado líquido de R$ 7,1 bilhões – alta de 114% sobre 12 meses antes e mais de 60% do total do ano passado (R$ 11,1 bilhões), segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

AUTO

Há bem poucos anos, a Tokio Marine levava até dois dias para decidir a perda total de um veículo. Hoje, isso é feito em minutos. “O tempo de o cliente fotografar, enviar as fotos e nosso software analisar”, conta Marcelo Goldman, diretor-executivo de Produtos Massificados da seguradora.

RURAL

Sobram exemplos recentes de como o aquecimento global têm impactado o agronegócio: secas recordes quebraram safras de café em diversos países, elevando o preço da commodity no mundo inteiro, enquanto temperaturas elevadas ao redor do planeta tiveram um efeito disruptivo na cadeia de ovos e levaram com que o alimento registrasse alta de cerca de 40% no começo do ano.

SEGURO TRANSPORTE

Estimativas da Federação de Seguros Gerais (FenSeg) para 2025 indicam uma alta de 11,5% nas vendas de seguro de transporte de carga. Esse percentual é pouco mais do que o dobro da alta registrada em 2024 sobre o ano anterior, de 5,5%. No ano passado, as vendas de seguro de transporte somaram R$ 6,12 bilhões.

RISCOS CIBERNÉTICOS

A combinação do grande volume de transações digitais com as lacunas de governança e o desconhecimento sobre os riscos coloca o Brasil como alvo recorrente de ataques cibernéticos. No primeiro semestre deste ano, ocorreram 6,4 milhões de tentativas de fraude – uma a cada 2,4 segundos, com perdas potenciais de R$ 39,8 bilhões se fossem consumadas, segundo a Serasa Experian.

SEGURO VIAGEM

O interesse por turismo de aventura, baseado no contato com a natureza e muitas vezes com atividades intensas, como trilhas, escaladas ou paraquedismo, cresceu 47% no Brasil entre fevereiro de 2025 e o mesmo período de 2024, segundo a plataforma de experiências Paytour. O aumento da demanda e alguns acidentes recentes, como o incêndio de um balão em Santa Catarina, que matou oito pessoas, e a morte da publicitária Juliana Marins em uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, suscitaram os riscos envolvidos nessas atividades e a eventual necessidade de contratação de um seguro viagem para emergências.

RESSEGURO

A indústria de resseguros no Brasil passa por uma transformação que envolve a busca por produtividade, revisão da gestão de riscos, o avanço tecnológico e a abertura de novas fontes de capital. Esse cenário reflete tanto a demanda do setor por maior solidez quanto os desafios de adaptação a um ambiente global volátil.

CORRETORES

O crescimento orgânico das corretoras de seguros tende a perder fôlego diante da desaceleração do PIB e da queda nos preços comerciais de seguros patrimoniais internacionalmente. Nesse cenário, as fusões e aquisições despontam como estratégia-chave para sustentar receitas e gerar valor aos acionistas, especialmente corretoras apoiadas por private equity. Apesar das incertezas políticas e econômicas, o setor se mantém atrativo por ser subpenetrado, com oportunidades em infraestrutura, turismo, portos, aeroportos e energia renovável, segundo os CEOs de grupos mais bem posicionados para liderar a consolidação.

SEGURO DE VIDA

Ao construir uma nova imagem do seguro de vida para o consumidor, as seguradoras brasileiras têm buscado romper uma das principais barreiras que, durante muito tempo, fizeram a modalidade crescer aquém do seu potencial: o conceito de um seguro “engessado”, com coberturas apenas para casos de morte e capital segurado praticamente fixo.

CULTURA E ESPORTE SE TORNAM VITIRNE PARA SEGURADORAS

É comum uma pessoa só lembrar do seu seguro (ou da falta dele) se o carro bate, uma doença aparece ou mesmo quando alguém morre. Trata-se, além disso, de um produto que não se ostenta nas redes sociais como motos, joias e tênis de marca. São características que podem levar as seguradoras à invisibilidade ou, pior ainda, à associação com péssimos momentos. Uma maneira de virar esse jogo é estar presente em situações de beleza, prazer e euforia.

DA AJUDA MÚTUA ÀS APÓLICES MODERNAS

Hoje, o setor é uma indústria global multibilionária, interligada a bancos e fundos de investimento. Plataformas digitais permitem contratar seguros instantaneamente, personalizar coberturas e acionar sinistros via aplicativos. Ao mesmo tempo, novas ameaças, como mudanças climáticas, pandemias, ataques cibernéticos e uso ilícito e fora do controle de inteligência artificial, desafiam as seguradoras a criar produtos inovadores para riscos que antes nem existiam.

Fonte: Sonho Seguro – Denise Bueno

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