ESG nos seguros: quando a regulação se transforma em oportunidade estratégica Introdução
Introdução
O mercado de seguros exerce papel central na economia ao gerenciar riscos, alocar capital e induzir comportamentos. Nesse contexto, a agenda ESG assume caráter estratégico, especialmente após a publicação da Circular SUSEP nº 666/2022, da SUSEP, que estabelece diretrizes para a incorporação de sustentabilidade, responsabilidade social e governança na gestão das supervisionadas. Mais do que atender ao regulador, o desafio está em integrar o ESG ao núcleo das decisões estratégicas e operacionais.
Metodologias ESG aplicadas ao setor de seguros
A Circular 666/2022 reforça a necessidade de políticas, processos e controles internos que considerem riscos e oportunidades ESG de forma estruturada. Essa abordagem dialoga diretamente com frameworks que tratam sustentabilidade como sistema integrado, e não como conjunto de ações isoladas. A exigência de política de sustentabilidade, definição de responsabilidades e monitoramento contínuo aproxima o ESG de modelos consolidados de governança corporativa e gestão de riscos.
A análise de materialidade dupla é um dos pilares implícitos da Circular, ao exigir que as supervisionadas identifiquem temas relevantes sob a ótica de impactos e riscos para o negócio. No setor de seguros, mudanças climáticas, inclusão financeira, diversidade, proteção de dados e conduta ética afetam diretamente subscrição, precificação, solvência e reputação. Mapear esses temas permite priorizar recursos e alinhar estratégia às expectativas regulatórias e de mercado.
A teoria da mudança complementa esse processo ao estruturar iniciativas ESG com lógica causal clara, conectando ações, resultados e impactos. Essa metodologia é especialmente aderente às exigências no que se refere à efetividade das políticas e à demonstração de resultados, evitando programas meramente declaratórios.
Já o uso de indicadores e metas mensuráveis fortalece a governança e facilita a prestação de contas ao regulador. Nesse sentido, o Balanced Scorecard com camada ESG surge como ferramenta prática para integrar sustentabilidade à estratégia. Ao incorporar objetivos e indicadores ESG às perspectivas financeira, de clientes, processos internos e aprendizado, as seguradoras conseguem atender às exigências da legislação de forma alinhada ao planejamento estratégico, transformando compliance em vantagem competitiva.
A regulação também abre espaço para inovação. Produtos voltados à mitigação de riscos climáticos, seguros paramétricos, microsseguros e soluções inclusivas dialogam com a agenda ESG e com o papel social do seguro. Além disso, a integração do ESG à gestão de riscos fortalece a relação com resseguradores, investidores e demais stakeholders, cada vez mais atentos à aderência regulatória e à sustentabilidade.
A formalização de processos, a segregação de responsabilidades e o envolvimento da alta administração, conforme requerido pelo órgão regulador, fortalecem a cultura organizacional e elevam o nível de maturidade institucional das supervisionadas.
Conclusão
A Circular SUSEP nº 666/2022 marca a consolidação do ESG como elemento indissociável da gestão no mercado de seguros. Quando apoiado em metodologias estruturadas de estratégia e sustentabilidade, o atendimento regulatório deixa de ser um fim em si mesmo e se transforma em impulsionador de inovação, resiliência e criação de valor. O ESG passa a representar não apenas uma obrigação normativa, mas um verdadeiro mundo de oportunidades para o setor segurador brasileiro.
