Empresas querem uma solução rápida para crise
Em um momento em que as empresas vislumbravam melhores resultados, após a economia dar os sinais de recuperação, a citação do presidente Michel Temer na delação dos donos da JBS pode pôr tudo a perder, na opinião de executivos e empresários ouvidos pelo Estado. Para evitar que uma nova crise econômica se instale no País, eles defendem a apuração das denúncias e a manutenção da agenda de reformas.
O presidente da Suzano, Walter Schalka, que falou ao Estado por telefone, participou esta semana de um evento do Itaú em Nova York, e disse ter notado a rápida virada do humor do investidor internacional sobre o Brasil.
“Ontem (quarta-feira), a visão sobre o País era muito positiva. Hoje (ontem), todo mundo passou a vender o Brasil”, disse o executivo, referindo-se ao impacto da delação da JBS.
Schalka afirmou que a melhor solução para o País é a renúncia imediata do presidente. “Acho que a melhor alternativa para o Brasil agora é a renúncia.
A segunda melhor é a chapa Dilma- Temer ser cassada. A terceira é o impeachment. E a quarta e pior alternativa é a permanência de Temer sem legitimidade e credibilidade.” O presidente da multinacional americana Cargill no Brasil, Luiz Pretti, afirmou que a economia parecia no caminho de uma retomada, ainda que lenta, baseada na queda dos juros, na recuperação do emprego e nas reformas previdenciária e trabalhista.
De repente, frisou ele, a maré mudou. “Passei a manhã explicando a nossos acionistas nos Estados Unidos o que estava acontecendo. É difícil explicar, pois, até a semana passada, o Brasil estava indo pelo caminho certo, tinha um projeto de governo.”
Outros dois empresários – Pedro Passos, sócio-fundador da Natura, e Luiza Trajano, presidente do conselho do Magazine Luiza – lamentaram o fato de que a nova crise política pode atrapalhar as reformas econômicas no Brasil. “Adiar esse projeto (de reformas) prejudica o País e é uma involução. Essa descontinuidade do poder gerar incertezas, e não é bom para o País. Temos de ter calma”, ressaltou o fundador da Natura.
PONTOS DE VISTA
Walter Schalka.
Presidente da Suzano.
“Precisamos de gente que tenha legitimidade e credibilidade.
É a única alternativa para não interrompermos o início desse ciclo virtuoso que estávamos vivendo. Participei do congresso do Itaú, em Nova York, e os investidores estão decepcionados.
Tive reunião com investidores ontem (quarta-feira), e o clima era absolutamente positivo. Hoje (ontem), o pessoal está vendendo o Brasil.
Acho que a melhor alternativa para o Brasil é a renúncia (de Temer). A segunda melhor é a chapa Dilma-Temer ser cassada.
A terceira é o impeachment.
E a pior alternativa é a permanência de Temer sem legitimidade e credibilidade.”
Pedro Passos.
Sócio-fundador da Natura.
“Havia um consenso de que o (presidente Michel) Temer faria um governo de transição com legitimidade e teria condições de conduzir as reformas que são importantes para o País.
Temos de confiar que as instituições devem ser respeitadas e que uma solução será dada.
Adiar esse projeto (de reformas) prejudica o País e é uma involução do que já estava sendo feito. Essa (possível) descontinuidade (com a atual crise política) pode gerar incertezas para a economia e não é bom para o País. Mas temos de ter calma e buscar uma solução sobre o que é possível fazer e evitar tomar decisões no calor da emoção.”
Luiza Trajano.
Presidente do conselho do Magazine Luiza.
“Primeiro, acho que tem de ser apurado tudo direitinho, não dá para deduzir nada antes de apurar. Eu espero que (a crise política) não atrapalhe a economia e nem faça a gente voltar atrás, que o Congresso tenha o juízo de aprovar o que tem de ser aprovado. É um momento delicado, mas espero que se privilegie o País, e não as forças políticas, as forças contrárias ao Brasil. Acho que as reformas são importantes, porque o País precisa se modernizar.
Espero que não se paralise o País, que as pessoas que dirigem o País tenham alternativas rápidas para redirecionar (a economia).”
Josué Alencar.
Dono da Coteminas.
“É muito cedo para a gente fazer prognóstico (do impacto da crise política sobre a economia).
Tem de esperar um pouco…
Hoje, qualquer palavra é precipitada, qualquer que seja essa palavra. Acho que ninguém passou por uma crise dessas. Não sei se há precedentes dessa avalanche de fatos que o País foi atingido por mais de dois anos.
As notícias, infelizmente, estão cada vez mais fortes. Eu mesmo não passei (por uma crise dessa proporção). Mas a gente, quando está vivendo uma crise, sempre acha que é a pior crise de todas. Vamos aguardar. A única coisa que eu posso te garantir é que o Brasil não vai acabar.”
Luiz Pretti.
Presidente da Cargill no Brasil.
“Estamos consternados com as notícias. Recebemos tudo isso com muita tristeza. O Brasil estava indo por um caminho muito positivo. Ainda que os dados apontassem uma recuperação mais lenta, havia um caminho: queda da taxa de juros, recuperação do emprego, encaminhamento das reformas.
Passei a parte toda da manhã (de ontem) explicando para nossos acionistas dos EUA o que estava acontecendo. As perguntas giraram em torno da confiança nas instituições. É difícil explicar… Até semana passada, o Brasil estava indo pelo caminho certo, tinha um projeto de governo.”
Junior Durski.
Fundador da rede Madero.
“A solução rápida (para o problema político) não é necessariamente a melhor. Acho que é melhor sofrer mais e curar a doença do que colocar só um curativo. A radioterapia vai fazer cair o cabelo, mas vai curar o câncer. Temos de passar pela dor e resolvermos. É um absurdo quando a gente vê uma pessoa do nível do Aécio Neves, que tínhamos como uma pessoa decente, ser gravada no mês de março fazendo falcatruas.
Se fosse dois anos atrás, tinha até a desculpa que era assim que as coisas funcionavam, mas agora… Os caras não aprenderam, tem de extirpar melhor esse câncer. É incrível a que profundidade estava isso.”
Fonte: O Estado de São Paulo