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Empresas dobram o atraso dos pagamentos

O aperto de crédito atingiu em cheio as empresas brasileiras no final do ano e os casos de inadimplência declarada mais do que dobraram em dezembro com relação à média do ano, segundo os números da Coface, a maior seguradora de risco de crédito corporativo do mundo, do grupo francês Natixis. “O corte do crédito acabou com as formas tradicionais de refinanciamento das dívidas das empresas”, diz Fernando Blanco, presidente da Coface do Brasil. “A água subiu e afogou muita gente”, comentou ele, em Paris, onde participou de conferência sobre risco país da seguradora.
Em dezembro, a Coface recebeu um total de 122 avisos de sinistro no mercado interno brasileiro, na comparação com a média mensal de 60 no ano. Quando o cliente segurado detecta atraso no recebimento, tem 30 dias para declarar o sinistro. Depois a Coface tem um prazo de até 60 dias para recuperar o dinheiro ou pagar a indenização ao cliente.
De acordo com Blanco, os setores mais afetados foram as pequenas redes de supermercados e de varejo de eletrodomésticos e de informática do país. Também houve casos de não-pagamento entre revendedores do setor automotivo, embora, segundo ele, “as montadoras sejam bastante cuidadosas na hora de escolher seus parceiros”.
No acumulado em 2008, a declaração de sinistros à Coface aumentou 24% em relação a 2007, atingindo R$ 24,5 milhões. O número de casos declarados no mesmo período aumentou bem mais: 139% em relação a 2007, atingindo 788 em 2008. “São as empresas menores que atrasaram mais pagamentos e quebraram no último trimestre de 2008 e portanto o valor médio do sinistro cai, apesar do aumento de casos”, diz Blanco.
Apesar disso, a Coface conseguiu ter lucro líquido com seguro no mercado interno em 2008, calculado segundo as normais internacionais (IFRS), de R$ 3,1 milhões, na comparação com os R$ 1,8 milhão de 2007, um crescimento de de 70%. “Tivemos muitas apólices novas”, afirmou. A receita de prêmios foi a um total de R$ 50,5 milhões, na comparação com os R$ 30,9 milhões em 2007, crescimento de 63%.
O risco de crédito maior fez crescer a demanda por seguro, mas o nível de aprovação por parte da Coface caiu. “Estamos com o freio de mão puxado”, diz Blanco. Segundo ele, a Coface está mais cautelosa na concessão de seguros e passou a dividir riscos com o cliente, cobrindo de 30% a 40% do total do crédito, em relação aos mais de 60% anteriores à crise.
Em um primeiro momento, o aumento de inadimplência não foi gerado por queda das vendas decorrente de demanda menor, explica Blanco. O que aconteceu foi “tranco” tão forte no crédito que tornou “inviáveis” muitos negócios. “As companhias foram pegas de surpresa, cheias de estoques, e não têm mais como rolar dívidas de curto prazo”, afirma. “Ficaram sem liquidez para pagar fornecedores”, comenta.
Com o fim do crédito em dólar, muitas grandes empresas tiveram de tomar mais recursos no mercado interno, reduzindo ainda mais a disponibilidade para as pequenas. Fornecedores se dispuzeram a financiar seus clientes, mas apenas quando conseguiam eles mesmo crédito. Essa falta de liquidez generalizada em meio às companhias “superestocadas” acabou provocando uma grande parada na produção no Brasil, comenta ele.
Agora, “o mundo todo está em meio a uma grande recessão e a dúvida é se ele vai entrar em depressão ou não”, avalia. Para Blanco, o corte de juros básicos Selic de 0,5 ponto percentual ou 1 ponto percentual não muda em nada a situação para as companhias. “As empresas pagam duas, três, às vezes quatro Selics”, comenta o executivo, para quem o importante seria a redução nos spreads bancários, o que só aconteceria em um ambiente de muita liquidez e de disponibilidade de crédito. Blanco lembra ainda que, depois de um corte na Selic, o impacto no crédito efetivo só chega dois a três meses depois.
Na área de crédito à exportação, os números da Coface para 2008 ainda não estão fechados, mas a expectativa de Blanco é de uma retração de cerca de 20% nos lucros com relação a 2007, por causa de sinistros pagos de empresas inadimplentes nos Estados Unidos e Reino Unido. O prêmio total no segmento foi a R$ 18,1 milhões, nas comparação com os R$ 14,5 milhões de 2007, um aumento de 24%. A Coface Export, que faz seguro de crédito à exportação de curto prazo, de até um ano, para as empresas, parou de cobrir a Argentina por causa do risco maior percebido. “Exportações para a Venezuela e para o Equador também vêm sendo avaliadas caso a caso”, diz Blanco.

Fonte: Valor

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