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Ele é o novo membro do clube

Aos 61 anos, o empresário Jayme Garfinkel, controlador da Porto Seguro, torna-se um dos homens mais ricos do mundo — mas permanecer nesse clube não vai ser fácil
Até dois anos atrás, a lista de bilionários divulgada pela revista americana Forbes era um tédio no que diz respeito aos super-ricos brasileiros. A relação se resumia a repetir, ano após ano, os mesmos sobrenomes, sempre ligados a tradicionais grupos familiares, como Safra, Ermírio de Moraes e Diniz. Com o renascimento da bolsa de valores brasileira, no entanto, a publicação passou a trazer uma série de novidades — e em 2006 a coisa começou a mudar. Naquele ano, entraram na lista de mais ricos do mundo os empresários Elie Horn, dono da construtora Cyrela, os quatro irmãos Constantino, controladores da Gol, e os fundadores da Natura, Luiz Seabra e Guilherme Leal. Em 2007, foi a vez do usineiro Rubens Ometto, da Cosan. A lista de 2008 trouxe duas caras novas. Uma delas, o empresário carioca Eike Batista, dono do grupo EBX, teve enorme repercussão. Dois meses antes da publicação do ranking da Forbes, em entrevista a EXAME, Eike já se autoproclamava o homem mais rico do Brasil. A outra novidade foi uma surpresa:
O discretíssimo Jayme Garfinkel, controlador da seguradora Porto Seguro, é o mais novo membro do clube. Ele ocupa a 843a posição na lista das pessoas mais ricas do mundo, com uma fortuna estimada pela revista em 2,3 bilhões de reais.
Nascido em uma família de classe média (seus pais chegaram ao Brasil no começo do século passado, fugindo da perseguição aos judeus no Leste Europeu), Garfinkel foi responsável por multiplicar o tamanho da Porto Seguro. Quando herdou a seguradora de seu pai, há 30 anos, a companhia era a décima no ranking brasileiro. Hoje, a empresa é a terceira maior do mercado e líder no seguro de automóveis, com receita anual de 5 bilhões de reais. Segundo especialistas, o principal motivo para essa expansão foi uma estratégia adotada por Garfinkel desde o final da década de 80: a associação de produtos e serviços aos seguros. A Porto Seguro foi a primeira a oferecer aos clientes acessórios para automóveis — que vão de pequenas luzes de freio instaladas no vidro traseiro do carro a localizadores GPS — e serviços extras, como o rastreamento de veículos. Graças a esses mimos, a empresa pôde cobrar mais caro pelas apólices, o que a tornou uma das companhias mais lucrativas do setor. A rentabilidade no ano passado foi de 26% antes uma média de 20% dos concorrentes diretos. A estratégia também conquistou a fidelidade de boa parte dos clientes. Cerca de 80% dos segurados pela Porto Seguro renovam seus contratos — ante 70% dos concorrentes. Procurado por EXAME, Garfinkel não deu entrevista.
Com a abertura de capital da empresa, há quatro anos, o trabalho de Garfinkel foi recompensado. Sua participação de 56% no capital da Porto Seguro passou a valer dinheiro — cada vez mais dinheiro, vale dizer. Desde o final de 2004, os papéis da empresa tiveram valorização de 297%. No mesmo período, o Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da bolsa, subiu 159%. A Porto Seguro se valorizou mais que empresas como Vale e Gerdau. Além de ter tornado Garfinkel bilionário, a abertura de capital resolveu um problema societário. Por quatro anos, o empresário esteve envolvido numa disputa com seu sócio e cunhado Jaime Blay (que tinha cerca de 20% das ações da empresa). As discordâncias em relação aos rumos da Porto Seguro eram tantas que Blay chegou a contestar na Justiça as decisões tomadas por Garfinkel. A abertura de capital proporcionou uma porta de saída a Blay, que vendeu a maior parte de suas ações e deixou de interferir na administração da companhia.
A EXPERIENCIA RECENTE dos novos bilionários brasileiros tem mostrado como é dura a vida de quem tem seu patrimônio atrelado aos humores da bolsa de valores. Neste ano, os quatro integrantes da família Constantino deixaram o grupo de mais ricos do mundo devido à queda de 30% no valor das ações da Gol no ano passado. Já Ometto, da Cosan, por exemplo, continua na lista, mas sua fortuna caiu à metade em apenas um ano. Para permanecer na elite do capitalismo mundial no ano que vem, Garfinkel enfrentará um enorme desafio. Os motivos são diversos. Primeiro, a oferta de serviços e produtos aos segurados — principal razão para o sucesso da Porto Seguro –não é mais exclusividade da empresa. Todas as concorrentes oferecem serviços similares.
Começou na Porto Seguro, aos 26 anos, como assistente do pai, Abrahão Garfinkel, então dono da empresa. Apenas seis anos depois, Jayme assumiu o comando da companhia posição que ocupa até hoje.
Além disso, a Porto Seguro enfrentará uma concorrência muito fortalecida. As grandes empresas do setor, mesmo aquelas especializadas em seguro de saúde, despertaram para o mercado de seguro de automóveis — origem de mais de 60% do faturamento da companhia de Garfinkel. O motivo é o crescimento recorde nas vendas de veículos. O rival que tem demonstrado mais agressividade é o Bradesco, maior banco privado do país. Segundo um relatório do Santander, o Bradesco deu início no ano passado a uma “guerra de preços” para ganhar mercado. Para isso, o banco está disposto a sacrificar sua rentabilidade imediata. Hoje, suas despesas com o conserto de carros e a reposição de veículos roubados somam 77% do total de vendas, maior que a média de 67% do setor. Além disso, apenas 33% da frota de carros do país tem seguro (na Europa esse número chega a 85%). Na opinião do analista Henrique Navarro, do Santander, com essa estratégia, o Bradesco deve atingir a liderança em seguros de carros em, no máximo, dois anos, ultrapassando a Porto Seguro. A companhia de Garfinkel já começou a sentir os primeiros reflexos do novo cenário. No ano passado, suas vendas cresceram 12%, abaixo dos 18% registrados em 2006. “O mercado de seguros nunca esteve tão competitivo quanto agora”, diz João Augusto Frota Salles, economista da consultoria de investimentos Lopes Filho. “E pode-se esperar que a briga por preços diminua as margens das seguradoras.” Resta saber se no ano que vem, acossado por tanta competição, o discreto Jayme Garfinkel conseguirá permanecer no clube dos mais ricos do mundo.

Fonte: Escola Nacional de Seguros

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