DiversosNotícias

“É estatística”, diz ministro da Saúde sobre mulheres trabalharem menos

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou nesta quinta-feira (11) à Globonews que a declaração sobre homens trabalharem mais que mulheres – e, por isso, irem menos ao médico – é “estatística”. A declaração foi dada enquanto o ministro deixava o gabinete da Casa Civil, à tarde.

“É estatístico. É só pegar o Ipea [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada]”, declarou.

A afirmação contraria dados da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, feita em 2014 e divulgada em 2015. O relatório mostra que as mulheres têm mais horas de trabalho semanais, somando a função remunerada e as tarefas domésticas – é o que se chama de “dupla jornada”.

Por telefone, o Ministério da Saúde afirmou à GloboNews que o ministro Ricardo Barros se baseou na População Economicamente Ativa (PEA), e não no Ipea, e que também usou como parâmetro a Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE.

Segundo o instituto, o termo PEA não é utilizado desde fevereiro, quando a Pesquisa Mensal de Emprego foi extinta. A última Pesquisa de Orçamentos Familiares foi feita em 2009 e, de acordo com o IBGE, não é adequada para analisar o tema porque não tem foco em trabalho e rendimento.

Após a publicação desta reportagem, o Ministério da Saúde entrou em contato com o G1 e informou que o ministro Ricardo Barros, na verdade, se referia ao total de homens e mulheres que trabalham fora de casa, e não à carga horária de cada um. Segundo a pasta, esses dados comprovam a afirmação do ministro, mesmo nas pesquisas indicadas pelo IBGE.

Dupla jornada
Para analisar a quantidade de trabalho de homens e mulheres, o IBGE recomenda a análise da Síntese de Indicadores Sociais. O documento mostra que, em média, os homens brasileiros trabalham 41,6 horas fora de casa e 10 horas no ambiente doméstico, por semana – são 51,6 horas no total.

Para as mulheres, os números são diferentes. Elas passam 35,5 horas semanais no “trabalho principal”, mas também empregam 21,2 horas nos afazeres domésticos – mais que o dobro do trabalho doméstico masculino. No somatório, são 56,7 horas semanais de trabalho, 9,8% a mais que os homens.

O documento aponta ainda que, mesmo trabalhando mais, as mulheres recebem menos por hora trabalhada. Em média, a mulher que trabalha (no mercado formal ou informal) recebe 77% do salário registrado pelo homem.

Mais pesquisas
Os dados mostrados pela Pnad de 2015 não são novidade. Em julho de 2012, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou estudo mostrando o mesmo resultado. Segundo o documento, as mulheres trabalham cinco horas a mais por semana, porque dividem o tempo entre a atuação no emprego e em casa.

Para Laís Abramo, diretora da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, esse quadro mostra que são importantes políticas de conciliação entre trabalho, vida pessoal e vida familiar.

“É muito importante que haja políticas públicas e empresariais que facilitem a conciliação. Tem a ver com a disponibilidade de creches, com a melhoria do transporte, e com a questão das jornadas flexíveis, além de um compartilhamento maior dos afazeres domésticos”, avaliou ela, em 2012.

Saúde do homem
O plano lançado nesta quinta pelo Ministério da Saúde quer aumentar as estatísticas de atendimento a homens na rede pública de saúde do Brasil. Segundo o ministro, os dados são baixos porque os homens não têm tempo de ir ao médico.

“Eu acredito que é uma questão de hábito. Os homens trabalham mais, são os provedores da  maioria das famílias e não acham tempo para a saúde preventiva. Isso precisa ser modificado. Nós queremos capturá-los para fazer os exames e cuidar da saúde. A meta destes guias é fazer que nossos servidores  orientem os homens, que normalmente estão fora [de casa], trabalhando”, disse.

Com a iniciativa, a pasta quer aproveitar o momento em que a gestante faz o pré-natal acompanhada do marido para “capitanear” o homem, que está em um momento “mais sensível”. A entrega de duas cartilhas deve ser realizada por agentes comunitários de saúde.

De acordo com o levantamento, homens de 20 a 59 anos morrem mais que mulheres por doenças relacionadas a circulação e aparelho digestivo. Em média, os homens vivem 7,3 anos a menos que mulheres.

Fonte: O Globo

Falar agora
Olá 👋
Como podemos ajudá-la(o)?