Dobram os ativos no exterior de companhias brasileiras
Os ativos de companhias brasileiras mais que dobraram no exterior entre 2005 e 2006, tornando o país o segundo maior investidor externo entre nações em desenvolvimento no ano passado, só atrás de Hong Kong.
É o que mostra um estudo da universidade americana de Columbia e da Fundação Dom Cabral, de Nova Lima (MG), sobre o fluxo de investimentos estrangeiros diretos (IED) de empresas brasileiras.
“As multinacionais brasileiras decolam num ritmo mais rápido que as russas ou indianas no momento”, diz o professor Karl Sauvant, diretor-executivo do Programa de Investimentos Externos da Universidade de Columbia, de Nova York.
Em todo caso, é minúsculo o grau de inserção de capitais brasileiro, chinês, indiano e russo nas economias desenvolvidas. E as multinacionais brasileiras ainda são de fato empresas regionais. Das 20 maiores, dez concentram suas atividades na América Latina, dando pouca atenção a Europa e Ásia.
A internacionalização tem sido liderada por Vale do Rio Doce, Petrobras e outras companhias de recursos naturais, que detêm 70% do estoque total de investimentos estrangeiros diretos brasileiros, de US$ 108 bilhões no exterior.
A Vale tem 46% de seus ativos no exterior e a aquisição da companhia canadense Inco por US$ 18 bilhões explica a posição do país como grande investidor externo em 2006.
A lista das 20 maiores inclui grupos industriais, empresas de construção civil e de tecnologia, como Embraer, Odebrecht e Itautec.
No entanto, é a Gerdau que lidera o “índice de transnacionalidade” entre as empresas do país. Esse índice calcula a participação de ativos, empregados e vendas externas no total de negócios da companhia, que no caso da Gerdau chega a 54%.
Mas o resultado teria sido diferente se Odebrecht tivesse sido considerada sem a petroquímica Braskem. Sozinha como empresa de construção civil, a Odebrecht tem índice de 57% de transnacionalidade, o mais elevado entre as brasileiras.
As 20 principais múltis do país têm US$ 56 bilhões de ativos no exterior, mais da metade do fluxo de investimentos estrangeiros diretos. Isso representou 20% de seus ativos totais em 2006, comparados a 12% no ano anterior. É abaixo da média de 33% para as 200 maiores empresas de países emergentes, refletindo a ainda tímida presença brasileira no exterior comparada a concorrentes asiáticos.
A produção e venda por filiais no exterior aumentam de importância e cresceram 14% no ano passado. O total foi de US$ 30 bilhões no ano passado para o grupo das 20 maiores, pouco mais de 15% do faturamento geral das empresas. Seis tiveram produção e venda superiores a US$ 1 bilhão no exterior. Petrobras foi a campeã, com mais de US$ 10 bilhões. Se às exportações das principais multinacionais (excluindo Petrobras e Natura) forem somadas a produção e venda de suas filiais, seus negócios externos representam 44% de suas vendas totais.
As empresas brasileiras empregam 77 mil pessoas no estrangeiro – cifra idêntica aos funcionários do grupo farmacêutico suíço Roche no exterior. Três firmas, lideradas pela Odebrecht, têm mais de 10 mil funcionários fora do país – na média, representa 19% do total dos empregados. Já as maiores múltis do grupo de nações em desenvolvimento têm em média 33% dos funcionários no exterior. O estudo nota “com surpresa” que oito das 20 maiores brasileiras declararam que espanhol e/ou inglês são língua oficial, junto com o português.
Refletindo a internacionalização, as aquisições brasileiras alcançaram US$ 26,8 bilhões entre 2005 e novembro deste ano. Além disso, investimentos em projetos novos fora do país somaram US$ 6,4 bilhões desde julho de 2004. Nesse ritmo, o estoque de investimentos estrangeiros diretos de empresas brasileiras de US$ 108 bilhões só é superado por Hong Kong e Cingapura entre nações emergentes.
Há investimentos de 885 empresas brasileiras em 52 países, o que indica que também pequenas e médias companhias começam a se instalar no exterior. Na média, as múltis brasileiras estão presentes em três países. A liderança fica com Votorantim, Camargo Correia, Odebrecht e WEG, cada uma presente em 12 nações fora do Brasil.
Para Sauvant, da Universidade de Columbia, o fluxo de investimentos estrangeiros diretos brasileiros deve diminuir neste ano, mas ainda continuará elevado porque a presença no exterior é “uma exigência da concorrência mais dura, e dá mais acessos a novos recursos, inclusive financeiros, tecnológicos e de talentos, para melhorar a competitividade”.
Fonte: Valor
