Depois da defesa, o ataque
Por Daniele Camba
02/08/2006
Depois de três meses de alta volatilidade e uma piora repentina e acentuada de humor do mercado acionário, influenciada pelas incertezas com relação aos juros dos EUA, a bolsa enfim pode retomar o caminho da recuperação neste mês. O motivo que fez as ações entrarem numa tendência de queda desde maio deve ser o mesmo que deverá deflagrar um movimento de valorização dos papéis. Com a expectativa de que o processo de alta dos juros americanos chegue ao fim na próxima reunião do Federal Reserve (Fed – o banco central dos EUA) dia 8 deste mês, as corretoras participantes da Carteira Valor voltaram a recomendar papéis que são os primeiros a se beneficiar da volta do investidor estrangeiro e da alta da bolsa. Ao mesmo tempo, com o cenário externo preocupando menos, o crescimento econômico local ganhou importância e, com ele, os papéis ligados ao varejo, consumo e concessão de crédito pelos bancos. No mês passado, a Carteira Valor subiu 3,47%, para 1,22% do Índice Bovespa.
“Estamos mais otimistas e o grande motivo que fará a bolsa voltar a subir é a possibilidade de o Fed parar de puxar os juros”, diz o chefe de análise da Itaú Corretora, Marcos De Callis. A queda do ritmo de crescimento do PIB americano – de 5,6% no primeiro trimestre para 2,5% no segundo – mostra que o aumento dos juros já se reflete na economia. Isso só reforça a tese de que o Fed não irá mais subir os juros ou, na pior das hipóteses, fará um último aumento de 0,25 ponto percentual na reunião de terça-feira. Seja qual for o resultado, será positivo para o mercado. “Se não subir é excelente para a bolsa e, se subir apenas mais uma vez, será bom”, diz.
O fim do temor sobre os juros americanos trará de volta às bolsas dos países emergentes o fluxo de investidores estrangeiros que foi embora em maio. Nessa briga pelo capital internacional, o Brasil leva vantagem, pelos bons fundamentos macroeconômicos e pelo fato de a Bovespa estar mais barata que bolsas como a do México e a do Chile. Nessa linha, as corretoras estão recomendando para a Carteira Valor deste mês estratégias mais agressivas, com papéis de alta liquidez, preferidos pelo estrangeiro e que sobem na primeira recuperação do mercado. “Com exceção de Saraiva, todas as nossas apostas são de papéis mais líquidos, a preços convidativos, de empresas com bons resultados e que ganham com a volta do estrangeiro”, diz De Callis, que mantém a projeção do Ibovespa em 50 mil pontos no fim do ano.
Entre os papéis com maior número de indicações estão ainda papéis de varejo e consumo, como Net, com quatro recomendações, Lojas Americanas e Porto Seguro, com três indicações cada um. “A evolução do consumo interno é a grande alavanca do mercado”, diz a chefe de análise da Corretora Unibanco, Tânia Sztamfater. Além do crescimento econômico, a renda média do brasileiro também vem crescendo. Sem contar que houve uma mudança cultural da população de pegar crédito para o consumo, afirma Tânia. “A idéia de se endividar, que era um tabu, agora é natural”, diz.
A corretora está recomendando as ações preferenciais (sem direito a voto) da Net e das Lojas Americanas. A primeira se beneficia com o aumento da renda disponível, com um consumo maior tanto de TV a cabo quanto de banda larga, que já vem ocorrendo. Já Lojas Americanas deve registrar ganhos de sinergia com a incorporação da Americanas.com, completa Tânia. No caso de Porto Seguro, a empresa ganha com o crédito dos bancos direcionado ao financiamento de carros e vem registrando resultados crescentes, lembra Eduardo Kondo, da Concórdia. “Anualizando o resultado que a empresa teve até maio, o seu lucro no ano pode chegar R$ 380 milhões frente a R$ 250 milhões o ano passado”, diz Kondo.
Fonte: Valor