Crescem fusões nas seguradoras
Altamiro Silva Júnior, De São Paulo
O mercado brasileiro de seguros passa por uma nova onda de fusões e aquisições. Hoje, a seguradora americana Metlife anuncia a compra de uma nova empresa. É o terceiro negócio no setor em apenas uma semana. Na semana passada, a Zurich anunciou a compra da Minas Brasil e o Banco do Brasil a aquisição de 30% do capital que a Aliança da Bahia tem na Aliança do Brasil.
O setor de seguros passa por mudanças estruturais, que incluem a abertura do mercado de resseguro (o seguro do seguro) em abril e as novas regras de solvência da Superintendência de Seguros Privados (Susep), que entraram em vigor este ano e prevêem reforço de capital extra e ajustes constantes. Quanto mais a companhia cresce, mais capital terá que ter para fazer frente ao maior risco que assume.
Aliado a essas mudanças estruturais, o crescimento da economia tem aumentado as vendas de seguros e animado as companhias a investir e fazer negócios. A Susep projeta que o setor vá dobrar de tamanho até 2011, com a participação dos seguros no Produto Interno Bruto (PIB) saltando dos atuais 3% para 6%.
As projeções para este ano indicam que o setor vá crescer 13,5% e movimentar R$ 96 bilhões, incluindo seguros, previdência aberta e capitalização. Para 2009, o faturamento deve ultrapassar os R$ 100 bilhões e chegar a R$ 116 bilhões em 2010, segundo levantamento da Fenaseg (a federação nacional das seguradoras).
Para o especialista e consultor de seguros, Luiz de Campos Salles, o fato que mais chama atenção nessa nova onda de aquisições é a preocupação em garantir um canal de distribuição exclusivo. Segundo ele, havia um tabu que começa a ser quebrado que a seguradora não pode vender seguros nas agências dos bancos porque isso desagradaria os corretores.
No caso da Zurich, ela pagou R$ 50 milhões para ter acesso exclusivo as mais de 500 agências do Banco Mercantil do Brasil, o controlador da Minas Brasil. Com a aquisição, a Zurich passa a atuar no varejo, principalmente no ramo de autos. “São estruturas absolutamente complementares”, diz Pedro Purm, presidente da Zurich, seguradora que é focada em grandes riscos e trabalha com pouco mais de 200 corretores.
Já o Banco do Brasil comprou por um valor não divulgado 30% das ações da Aliança da Bahia na seguradora Aliança do Brasil, criada em 1997. O mercado estima que o valor tenha ficado entre R$ 600 milhões e R$ 700 milhões. O BB não confirma e diz que só comenta a operação após a aprovação da transação pela Susep.
As cinco seguradoras que o BB tem foram responsáveis por 20% (ou R$ 1,2 bilhão) dos ganhos do banco em 2007, que ficaram em R$ 5,6 bilhões. “A transação é positiva pois o BB deve se beneficiar das boas projeções para os negócios no setor de seguros brasileiro”, destaca um relatório da corretora do Unibanco, que recomenda a compra das ações do BB.
No caso da Metlife, a assessoria de imprensa da seguradora informa que, com a aquisição, a empresa vai passar a atuar em um novo ramo. No mercado comenta-se que pode ser o ramo dental, que a seguradora já comentou que tem interesse em operar. Desde que chegou ao Brasil, em 1999, a MetLife já comprou várias companhias. Entre elas, a América do Sul (2001), a Soma Seguradora (2004) e a carteira de vida da Zurich (2003). Em 2005, comprou mundialmente as operações de seguro do Citibank, que no Brasil se chamavam CitiInsurance.
No ano passado, a MetLife teve o primeiro lucro no país. Foram R$ 10 milhões em valores líquidos, frente a prejuízo de R$ 66 milhões em 2006, puxados pela aposta no seguro de proteção financeira para o crédito consignado. A sinistralidade das carteiras acabou surpreendendo a seguradora.
O crescimento do mercado tem despertado o interesse de empresas internacionais pelo país. Relatório divulgado ontem pela resseguradora Swiss Re mostra que o Brasil é líder em crescimento na América Latina no mercado de seguros de vida. O crescimento foi de 15,5% em 2007, frente a média de 11% da região. A média mundial foi de 5,4%. O volume de prêmios do Brasil foi de US$ 18 bilhões, também o maior da região. A expansão dos seguros na região vem sendo puxada pelo crescimento econômico e deve se manter em 2008, diz o relatório.
Já a abertura do resseguro, que tem maior impacto nas seguradoras que operam com grandes riscos, vai trazer “novos ares” para todo o setor, “contaminando positivamente com novidades”, avalia Campos Salles.
Fonte: Valor