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Cresce aposta em Copom agressivo

A política monetária tem sua trajetória definida no Brasil e é de juro em baixa mais acelerada já na semana que vem, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central promove a reunião de abertura de 2017. Para alguns economistas do mercado e chefes de tesourarias bancárias, a Selic segue rumo a um dígito até dezembro deste ano. Para a maioria, porém, essa aterrissagem estará garantida até o final de 2018.

A ampla dispersão de projeções sugere que o ritmo e o tamanho do corte da Selic ainda dividem opiniões. O Copom tem afirmado que a calibragem da taxa básica depende do comportamento da inflação e da atividade. E o mercado registrou. Não à toa, o resultado da produção industrial de novembro, divulgado ontem pelo IBGE, bem aquém do esperado por especialistas, provocou a revisão das estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) do 4º trimestre de 2016.

A atividade desaquecida além do previsto comprometerá ou anulará o carregamento de dados para a atividade deste novo ano. Essa constatação já patrocinou um repentino ajuste nas projeções para o corte da taxa Selic nesta primeira reunião do ano. Apostas no mercado futuro de juros e expectativas de especialistas encerraram a quinta-feira concentradas em corte de 0,50 ponto, de 13,75% para 13,25% neste mês – mas algumas casas puxaram a projeção de corte a 0,75 ponto ontem à tarde.

A economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, por exemplo, que já considerava correto o Copom acelerar o corte da Selic para 0,75 ponto, confirmou ontem à tarde a elevação de sua própria projeção de redução, de 0,50 para 0,75 ponto. “Tive a impressão de que o BC gostaria de ser mais gradual, mas agora penso que a mudança que estamos vendo nas projeções para o PIB do 4º trimestre – resultantes da produção industrial e também de outros indicadores – vai sensibilizar o BC de que o custo para desinflacionar a economia está ficando altíssimo.”

Outras duas instituições financeiras que alteraram ontem suas previsões para o corte da Selic neste Copom, de 0,50 ponto para 0,75 ponto percentual, foram o Banco Fibra e o Itaú Unibanco.

Nos últimos quatro dias, o Valor consultou 38 economistas sobre as perspectivas para a Selic, e 72% descreveram um ajuste gradual de juro, mas corte mais intenso em 2017 – estimado em 3,50 pontos na BM&FBovespa e de 3,75 a 4,0 pontos pelos analistas. Até 2018, a Selic poderá recuar quase 5 pontos, o que terá efeito positivo na atividade que mingua há sete trimestres e empurra o Copom para flexibilização monetária maior. Dos 38 economistas que responderam à pesquisa do Valor, 32 esperam corte da Selic em 0,50 ponto na próxima semana, de 13,75% a 13,25%, e 6 projetam 0,75 ponto de baixa, o que levaria a taxa a 13%.

Em dois movimentos sequenciais do Comitê, em outubro e novembro, a Selic encolheu 0,50 ponto, livrando-se de um engessamento que durou um ano e cinco meses, a 14,25%. Sua manutenção nesse patamar, o mais elevado em uma década, ajudou a ancorar as expectativas inflacionárias, inclusive, por inibir uma reação do nível de atividade.

A curva de juros na BM&F ontem chegou a elevar a 30% a probabilidade de o Copom ser mais agressivo na semana que vem, uma vez que a produção industrial de novembro afastou eventuais riscos para a inflação. Pesquisa do Valor mostrou que 56% dos analistas consultados estimam que o IPCA tenha variação entre 4,1% a 4,77% este ano; para 60% deles, a inflação oficial estará cravada em 4,50% no ano que vem. Detalhe: 40% dos entrevistados reconhecem que o indicador oscilará de 3,4% a 4,4% em 2018 – um ano de eleições. Ninguém vê a taxa acima do centro da meta.

Solange, da ARX, alerta para a ampliação do hiato do produto, para a desinflação significativa (inclusive de itens mais relacionados à demanda) e para expectativas de inflação cada vez mais ancoradas na meta. “Acompanhamos avanços significativos nos últimos meses na área fiscal, com aprovação da PEC do Teto de Gastos e as perspectivas são positivas para a reforma da previdência. É fato que o cenário externo está repleto de incerteza, mas a taxa de câmbio saiu de R$ 3,40 para R$ 3,20 na última reunião.”

Sérgio Goldenstein, sócio diretor da Flag Asset Management e ex-chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do Banco Central (Demab), lembra que o Copom sinalizou, na última ata, a intenção de intensificar o ritmo de flexibilização monetária e lembra que dados recentes reforçaram o cenário de fraqueza da atividade e de desaceleração significativa do IPCA. O economista pondera que o excesso de cautela do BC deverá resultar em corte de 0,50 ponto na Selic neste mês, mas a decisão mais adequada seria 0,75 ponto. Goldenstein reconhece a convergência de inflação para a meta e destaca que os juros reais estão em patamar muito alto, representando um forte fator restritivo para a retomada da atividade.

Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi, espera corte de 0,75 ponto na Selic e avalia que o juro nominal está muito acima de qualquer avaliação de juro neutro. “A taxa nominal atualmente inibe ainda mais a reestruturação de enormes passivos das empresas e das famílias. Indiretamente, essa dificuldade retarda a recuperação de condições de retomada da economia, o que também afeta o fluxo de arrecadação tributária.”

Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim, projetando corte de 0,50 ponto e vê a Selic declinando até 9,75% em dezembro, mas acredita que o Copom voltará a aumentar o juro em 2018, quando deverá alcançar 10,50%. “A reversão de tendência considera a manutenção do juro de mercado abaixo do ´neutro´, que estimamos possa estar ao redor de 10%. Esse descompasso também é um estímulo de política monetária.” Ele pondera que, neste momento de crise, PIB abaixo do potencial e inflação com chance de ser inferior à meta, é possível colocar os juros abaixo do “neutro”. Mas com a volta da economia para o seu potencial, em 2018 e 2019, e com inflação na meta, os juros poderiam voltar à faixa “neutra”.

A modulação da Selic, caindo a um dígito no fim deste ano e voltando a dois dígitos no próximo, descreve um ciclo monetário, diz Padovani, “com afrouxamento no período de fragilidade econômica e normalização em momentos de retomada consistente da economia.”

Fonte: Valor

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