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Crash ameaça criar crise global de aposentadoria

Em discurso na sexta, o presidente dos EUA, George Bush, falou sobre a preocupação crescente de “muitos de nossos cidadãos… sobre as suas contas de aposentadoria”. O crash financeiro global ameaça provocar uma crise nos sistemas de aposentadoria complementar pelo mundo, que estão perdendo valor com a queda do mercado de ações. Na sexta, a autoridade de pensão complementar no Chile alertou para a possibilidade de as pessoas terem de adiar seus planos de aposentadoria.
O colapso das Bolsas em todo o mundo está provocando perdas importantes nas carteiras de fundos de pensão e nas contas individuais de aposentadoria em quase todos os países. Na semana passada, o Escritório do Orçamento do Congresso dos EUA informou que os fundos de pensão, públicos e privados, e contas individuais de aposentadoria (formas populares de poupança no país) perderam US$ 2 trilhões nos últimos 15 meses, cerca de 20% do seu valor.
No Chile, os fundos mais “arriscados”, isto é, com um percentual maior de aplicação em renda variável, como ações, perderam 25% de seu valor este ano, até setembro. Perdas essas que se agravaram nos últimos dias.
Trabalhadores que estão prestes a se aposentar podem ter de repensar seus planos. Com a perda de valor da conta de aposentadoria ou da carteira do fundo de pensão, o benefício a ser recebido ficará menor. Caso o trabalhador espere, pode haver uma revalorização dos fundos e uma recomposição de valor das carteiras.
“Algumas pessoas vão adiar sua aposentadoria. Em especial quem está perto da aposentadoria pode perceber que não têm mais condições de se aposentar”, disse Peter Orszag, chefe do Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA.
Uma crise nas aposentadorias seria um problema particularmente grave nos EUA, onde a numerosa geração baby-boom (nascidos entre 1946 e 1964) começa a se aposentar. Segundo pesquisa Associated Press-GfK, metade dos americanos estão preocupados com a crise no sistema de pensão.
“Ao contrário dos executivos de Wall Street, as famílias americanas não têm um para-quedas dourado com o qual cair”, disse o deputado democrata George Miller. “É claro que a garantia de aposentadoria deles pode ser uma das maiores vítimas dessa crise financeira.”
Uma pesquisa da AARP, uma organização que defende os interesses de pessoas com mais de 50 anos nos EUA, informou que um em cada cinco trabalhadores nesse faixa já deixou de contribuir com seu plano de aposentadoria privada, devido à dificuldade de pagar gastos básicos, como alimentação e moradia. Isso também deve levar esses trabalhadores a se aposentar mais tarde. Ou então a receber benefício menor do que o esperado.
Há casos também de trabalhadores que estão sacando de suas contas antecipadamente, por necessidade ou temor de perdas ainda maiores. Nesses casos, porém, há perda relacionada à taxação.
A corretora imobiliária americana Denise Edwards, de 62 anos, já acredita que terá de trabalhar uma década além do previsto, devido ao prejuízo nas contas de aposentadoria dela e de seu marido. “Teremos de trabalhar o máximo possível”, afirmou.
Em 1980, 60% dos trabalhadores americanos estavam cobertos por planos de pensão de benefício definido, normalmente bancados pela empresa e pelo governo, e apenas 17% dependiam de planos com contribuição definida, isto é, aqueles nos quais o trabalhador contribui com seu próprio dinheiro, segundo o Center for Retirement Research, do Boston College. Já em 2004, o números tinham mudado radicalmente: 11% estavam em planos com benefício definido e 61% em planos com contribuição definida.
“Acho que essa catástrofe nos mercados financeiros ressalta quão vulnerável as pessoas ficam nesse tipo de plano”, disse Alicia Munnell, diretora do centro. “O bem-estar delas depende das oscilações do mercado. Elas podem ser muito responsáveis e ainda assim sair prejudicadas.”
O risco de uma crise de aposentadoria não está confinado aos EUA. Em vários países, fundos de pensão e investidores individuais aplicaram fortemente em ações.
“Perdi quase US$ 70 mil no último ano”, disse o vendedor aposentado japonês Motoki Tagawa, 62, à agência de notícias Bloomberg. “Lá se foi a minha aposentadoria.”
“Não aguento mais contar, todas as noites, quanto dinheiro perdi durante o dia”, disse o aposentado chinês Wu Jinmei, de 70, que aplicou suas economias, cerca de US$ 11.800, na Bolsa. “Nunca me senti tão mal.” A China não tem um sistema público de aposentadoria.
Os fundos de pensão do Chile sofreram suas piores perdas desde a crise da Ásia, uma década atrás, disse na sexta Alejandro Charme, superintendente do sistema de pensões do país. As perdas no ano até setembro vão de 25% a 0,2%, no caso de planos menos arriscados. Ele recomendou aos chilenos que não saquem de suas contas de aposentadoria e disse que seria “prudente” que quem está perto de se aposentar adie essa decisão.
Chan Siu-Man, de 52 anos, que trabalha numa indústria gráfica em Hong Kong, disse à agência Bloomberg ter perdido o equivalente a US$ 6 mil em sua conta de aposentadoria. Ele pretende agora migrar sua conta para um plano sem exposição ao mercado de ações. Ele afirmou que vai tirar menos férias e trabalhar durante feriados para compensar a perda.

Fonte: Valor

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