Copom mantém ritmo de alta para testar resistência da inflação
Para economistas ouvidos pelo g1, o aumento de 1 ponto percentual na taxa básica de juros, anunciado nesta quarta-feira (22) pelo Comitê de Política Monetária (Copom), não trouxe grande surpresa. A Selic passa para 6,25% ao ano, maior patamar desde julho de 2019.
Além de um aumento esperado, o Copom sinalizou uma nova elevação no mesmo patamar na próxima reunião, em 27 de outubro.
Para os diretores, essa tendência é a certa para que a inflação retorne às metas depois de 2021.
Neste ano, a meta de inflação foi abandonada. A projeção do Copom é de 8,3%, enquanto o teto é de 5,25%. O Copom considera que, no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e, simultaneamente, permitir que o Comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques, diz a nota.
Na carta, o Copom indica como riscos possíveis para a economia brasileiro um efeito de desaceleração de economias asiáticas, em especial a China, por conta da ação da variante delta da Covid-19, e de continuidade das surpresas inflacionárias recentes nos países em desenvolvimento.
A visão geral, contudo, não sofreu mudanças. O comitê indica que dados de atividade econômica seguem curso de recuperação e com visão positiva para o restante do ano. A divulgação do PIB do segundo trimestre, assim como os indicadores mais recentes, continua mostrando evolução positiva e não enseja mudança relevante para o cenário prospectivo, diz o Copom.
O Comitê diz ainda que, nos países desenvolvidos, os estímulos monetários e a reabertura das principais economias ainda sustentam um ambiente favorável para países emergentes e uma melhora é esperada para o segundo semestre.
Consistência
Segundo Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual digital, o Copom mostrou consistência e credibilidade neste mês ao afirmar que vai adotar uma postura mais contracionista. Ou seja, vai desincentivar o crédito. Mesmo com o aperto nos juros, não será possível colocar a inflação dentro da meta esse ano. 2021 já foi perdido. O horizonte agora é 2022 e 2023, analisou Frasson.
Na avaliação do economista, alguns pontos já pesam contra a redução das expectativas de inflação de 2022, entre eles a retirada dos estímulos monetários nos EUA, a criação de uma nova bandeira tarifária para a energia elétrica e o atual ambiente político e fiscal, que mantém o real depreciado.
André Perfeito, economista-chefe da Necton, concorda com Frasson e acrescenta que a demora para aprovação de reformas estruturais indica ao mercado que o Brasil não se esforça para atingir a meta fiscal.
Para Rodolfo Margato, economista da XP, o comitê deu alguns indicativos importantes de que está cauteloso com o cenário de inflação.
O primeiro e principal é a expectativa de IPCA para 2022 acima da meta de inflação. Nossa interpretação é de que isso é uma sinalização de aumento da Selic a um patamar mais próximo do previsto pelo boletim Focus, de 8,5% em 2022, diz o economista.
Margato também chama atenção ao fato de que houve ênfase ao problema de geração de energia, por conta da crise hídrica, e o Copom reforçou o impacto na inflação pela alteração de hipótese de vigência das bandeiras tarifárias.
A previsão dos diretores é de permanência da bandeira especial escassez hídrica no final deste ano e de bandeira vermelha patamar 2 nos meses de dezembro de 2022 e 2023.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, projetava aumento mais severo da Selic, de 1,25 ponto percentual na reunião desta quarta.
Para ele, o Comitê foi mais brando e manteve o padrão das demais reuniões, mas deixou a inflação de 2022 escapar da meta. Esperava uma reação mais enérgica, como o Copom vinha mostrando em reuniões pregressas justamente para controlar as expectativas de 2022, diz o economista.
Apesar de ainda ser um ritmo elevado, as surpresas foram maiores agora que na reunião anterior. O grau de incerteza segue muito elevado, afirma.
Fonte: NULL