Copom cita ‘riscos fiscais’ para inflação e alta dos juros pode ser maior
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central informou que os “riscos fiscais” continuam pressionando as estimativas de alta da inflação e que, diante deste cenário, se justifica uma “política monetária mais contracionista do que a utilizada no cenário básico”. Isto é, indicando aumento maior dos juros em relação ao plano inicial.
As informações constam da ata da última reunião do Copom, feita na semana passada, publicada nesta terça-feira (28). Os “riscos fiscais” consistem nas dúvidas sobre as contas públicas e a falta de uma estratégia clara do governo para contar a alta da dívida.
Na reunião da semana passada, o Copom elevou a taxa básica de juros, a Selic, de 5,25% ao ano para 6,25% ao ano.
Conforme o Copom, as simulações de aumento dos juros sugerem que o ritmo atual será suficiente para “garantir a convergência da inflação para a meta em 2022”, mesmo considerando o “balanço de riscos”. No último dia 16, o governo federal aumentou de 5,90% para 7,90% a projeção de inflação em 2021. A expectativa se distanciou ainda mais do centro da meta (3,75%) e também do teto (5,25%).
Com isso, o governo admitiu novamente que a meta deve ser descumprida. Para o Copom, a manutenção do atual ritmo de alta da Selic, associada ao “aumento da magnitude do ciclo de ajuste da política monetária no para patamar significativamente contracionista”, seria a estratégia “mais apropriada” para assegurar a “convergência da inflação” para as metas de 2022 e 2023.
Na ata, o BC confirmou a sinalização de um novo aumento de um ponto percentual, para 7,25% ao ano, em sua próxima reunião, no fim de outubro.
A expectativa dos economistas dos bancos, segundo pesquisa realizada na semana passada pelo Banco Central, é de que a taxa Selic continue avançando nos próximos meses, e que atinja 8,25% ao ano em 2021 e 8,5% ao final de 2022.
O principal instrumento do Banco Central para conter a propagação da alta de preços é a taxa básica de juros, definida com base no sistema de metas de inflação.
Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic; e a reduz quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas predeterminadas.
Para 2021, a meta central de inflação é de 3,75%. Pelo sistema vigente no país, será considerada cumprida se ficar entre 2,25% e 5,25%.
Neste momento, o BC já está olhando para a meta de inflação de 2022 para definir os juros. No próximo ano, a meta central de inflação é de 3,50% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%.
Riscos fiscais
Segundo analistas, os chamados “riscos fiscais” também têm pressionado os juros neste ano, assim como a taxa de câmbio.
O risco fiscal aumentou, segundo economistas, por conta de dúvidas relacionadas com o financiamento da ampliação do Bolsa Família em 2022.
A área econômica propôs parcelar precatórios para abrir espaço no teto de gastos para direcionar mais recursos para o programa social – o que foi criticado por analistas. Entretanto, as negociações com o Congresso apontam para a fixação de um limite anual de pagamentos.
Na proposta discutida com o Legislativo, a ideia é permitir uma negociação dos precatórios de mais alto valor entre o governo e credores, permitindo um encontro de contas.
Crescimento do PIB
O Banco Central também informou que manteve, na ata do Copom, a visão de uma “retomada robusta” do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo semestre deste ano, na medida em que os efeitos da vacinação sejam sentidos de forma mais abrangente.
Para 2022, o BC considerou que o crescimento da economia será beneficiado por três fatores: pela continuação da recuperação do mercado de trabalho e do setor de serviços; pelo desempenho de setores menos ligados ao ciclo de negócios, como agropecuária e indústria extrativa; e por resquícios do processo de normalização da economia conforme a crise sanitária melhora.
Para este ano, os economistas do mercado financeiro estimam uma alta de 5,04% para o PIB e, para 2022, projetam uma desaceleração, com um crescimento menor: de 1,57%.
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