Construtoras disputam equipamentos
O ritmo frenético de lançamentos imobiliários, em especial no segmento residencial, neste ano de 2007, está fazendo com que as construtoras disputem de forma feroz as poucas máquinas e equipamentos voltadas para o setor que estão disponíveis no país. O maior gargalo concentra-se no maquinário pesado, onde o preço dos equipamentos não raro ultrapassa a casa do milhão de reais. Mas há escassez também de betoneiras, andaimes, gruas e uma grande variedade de equipamentos essenciais para a construção civil, cada vez mais industrializada.
O resultado direto deste desequilíbrio entre oferta e demanda é o aumento acelerado dos preços e um alongamento inédito dos contratos de locação. Empresas que antes contratavam os equipamentos poucos dias antes do início das obras, como a Company, já estão fechando contratos para projetos que só começarão no final do ano que vem. “A briga está acirrada por esses equipamentos, é uma situação até preocupante, e, por isso, planejamento é a saída”, diz Luiz Rogélio Tolosa, diretor-executivo da construtora e incorporadora.
Na outra ponta, as empresas que alugam esses equipamentos, não estão conseguindo dar conta da demanda. “A procura cresceu mais de 40% este ano”, diz Francisco Guerra, presidente do grupo Orguel, que reúne dez empresas e possui 70 tipos de equipamentos leves, médios e pesados para alugar e vender para as construtoras. Como consequência, a Orguel deve ampliar em 15% os preços neste ano e acredita que em 2008 incremente em mais 15%.
O bom desempenho está fazendo com que a Orguel comece a sonhar em trilhar o mesmo caminho de seus principais clientes. A companhia planeja oferecer seus papéis na Bolsa de Valores de São Paulo já em 2009. Nesse momento, o grupo inicia o processo de adaptação aos rigorosos princípios de governança corporativa para listar suas ações no Novo Mercado da Bovespa.
Tanto otimismo se explica também pela expansão dos contratos. Até antes da avalanche de abertura de capital das construtoras, os aluguéis de máquinas e equipamentos para os canteiros de obras eram feitos de forma individual. A Rossi Residencial, assim como a Company, raramente fechava contratos de locação superiores às obras em curso.
Mas isso mudou. Hoje a companhia desenvolve uma espécie de contrato de garantia com seus fornecedores de equipamentos, com um prazo mínimo de dois anos. Junto aos proprietários de gruas, andaimes e perfuratrizes, acerta um cronograma definido das obras, com data de início e prazo de utilização. Se não utilizar os equipamentos nesse período, paga pelo aluguel deles assim mesmo. “Mas em contrapartida, temos a garantia de que não faltará nada, estamos seguros”, afirma Alcides Gonçalves, diretor de engenharia da Rossi.
O desequilíbrio entre oferta e demanda que está mudando o jogo de forças nessa indústria é reflexo do crescimento abrupto das incorporadoras. Extremamente capitalizadas, as companhias que foram à bolsa correm para atender a expectativa de seus investidores. Só nesse semestre, as 17 empresas do setor com capital aberto fizeram lançamentos da ordem de R$ 6 bilhões, um volume 164% superior ao do ano passado. Juntas, essas companhias prometeram aos seus acionistas lançar um total de mais de R$ 20 bilhões em imóveis este ano.
Ao contrário dos fornecedores de insumos básicos, que vinham trabalhando com uma boa capacidade ociosa, as empresas de aluguel e venda de equipamentos foram pegas de surpresa. Historicamente pequenas, e sem capital disponível para os investimentos pesados na compra de novos maquinários, não conseguiram acompanhar a velocidade das construtoras e incorporadoras. Uma simples grua, por exemplo, custa algo próximo a R$ 700 mil. “Nunca houve um programa de investimentos contínuo, as máquinas estão velhas e as empresas ainda não tem como atender a toda essa demanda que surgiu”, diz Seiji Ikeda, presidente da Associação Brasileira das Empresas Locadoras de Bens Móveis.
As construtoras sabem disso, e, sem saída, acabam tendo que aceitar o aumento natural dos preços. “Sem capital farto não é fácil para essas empresas estarem no mesmo ritmo do mercado imobiliário”, afirma Wilson Pompílio, diretor-executivo da Racional Engenharia, que, desde o mês de março, viu o preço dos equipamentos destinados às fundações subir mais de 20%.
A tendência, acreditam construtores e fornecedores, é de que lentamente comece a se chegar a um equilíbrio. Com o alongamento dos contratos e a certeza de receita futura, muitas dessas companhias começam a ir às compras, algumas vezes no mercado externo.
A Locabens, especializada na locação de gruas e equipamentos específicos para a construção, vai investir cerca de R$ 15 milhões na aquisição de novas peças. O negócio principal da Locabens são as gruas. Esse ano a companhia já comprou 20 novas delas e, no ano que vem, deve adquirir, no mínimo, a mesma quantidade. “Há mercado, as construtoras precisam fazer obras com todo o dinheiro que conseguiram nos últimos anos”, diz um otimista Paulo Carvalho, diretor-geral da Locabens.
Para quem estava preparado para crescer, o momento é de comemoração. A Volkswagen, por exemplo, ampliou as vendas dos caminhões utilizados para a montagem de betoneiras e transporte de areia e de grãos em 60% neste ano. “Só no mês de julho vendemos a mesma coisa que no primeiro semestre de 2000, a demanda está muito acima de qualquer previsão”, diz Roberto Cortes, presidente da Volkswagen Caminhões. Ao contrário das locadoras de equipamentos, a Volkswagen diz estar preparada para manter o crescimento. Caminhões, ao menos, não faltarão às construtoras, garante a montadora alemã.
Fonte: Valor