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Consórcio da Odebrecht vence leilão do Madeira com um deságio de 35%

Com uma oferta inesperadamente baixa – R$ 78,90 o MWh – em relação ao preço teto de R$ 122,00, o consórcio liderado pela Odebrecht e Furnas tirou os concorrentes do páreo em poucos minutos e venceu ontem o leilão para erguer no Rio Madeira a hidrelétrica de Santo Antonio. Compõem ainda o consórcio a Andrade Gutierrez Participações, a Cemig e um fundo financeiro formado por Santander e Banif.
Da energia a ser gerada, 3,15 mil MW, 70% serão destinados ao mercado cativo das distribuidoras. Os 30% restantes poderão ser vendidos no mercado livre. Isso permitiu baixar a tarifa final para R$ 78,87, como era previsto pelas regras do edital. As 31 distribuidoras – mercado cativo – que participaram do leilão – pagarão R$ 32,18 bilhões pela energia da hidrelétrica em valores de hoje. O cálculo considera a tarifa e a quantidade de energia assegurada ao longo da duração do projeto, sem incluir a energia que será vendida no mercado livre.
A configuração final do grupo vencedor pode mudar com a entrada dos fundos de pensão Funcef (dos funcionários da Caixa Econômica Federal) e Petros (Petrobras).
Como a tarifa do consórcio Madeira Energia ficou muito abaixo dos outros dois lances – de R$ 98,05 (atribuído ao consórcio da Suez) e R$ 94,00 (ao da CPFL/Endesa) – o leilão não teve uma segunda rodada e acabou em sete minutos: iniciou às 12h39 e terminando às 12h46. O sistema não permite saber oficialmente qual a oferta do consórcio liderado pela Suez e Eletrosul nem a de Camargo Corrêa, Chesf, Endesa e CPFL. O lance do consórcio vencedor significou deságio de 35% sobre o teto.
O resultado foi comemorado pelas distribuidoras e por consumidores livres. O ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, disse ter se surpreendido e admitiu que o preço final foi muito menor que a aposta mais otimista entre os apostadores de um “bolão” organizado no MME. Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), comemorou o que chamou de “fim do modelo de transição e um marco do novo modelo do setor elétrico”. Tolmasquim também atribuiu à competição a redução da tarifa da energia no leilão de ontem. E admitiu que ele vai interferir nos cálculos da EPE para fixar os preços da hidrelétrica Jirau, também no Madeira, a ser licitada em 2008.
Hubner disse que sua aposta no “bolão” do MME era de um preço pouco abaixo de R$ 100,00. “Isso (o resultado) mostra que não sabemos o preço da energia no país. Conhecia-mos o preço dos equipamentos e de construção, mas não tínhamos boas usinas colocadas em leilão. Esse preço vai colocar um monte de interrogações para os projetos futuros”, afirmou.
O diretor de investimento em infra-estrutura da Odebrecht e porta-voz do consórcio Madeira Energia, Irineu Meireles, deu poucos detalhes sobre os parceiros com quem o grupo está negociando a venda dos 30% da energia. Também evitou falar do preço. Disse que negocia com produtores independentes e auto-produtores de energia. E indicou a possibilidade de adesão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de fundos de pensão, dizendo ainda que os sócios prevêem a abertura do capital da empresa que ganhou o leilão.
O presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, disse ao Valor que já aprovou, com a Petros, a adesão ao consórcio com participação de 10% a 15% do capital próprio investido pelos sócios. “Se eles nos quiserem, estamos prontos para aderir ao consórcio vencedor”, disse.
Segundo Lacerda, a participação mais provável é de 10% e supondo-se que os investidores privados entrem com capital de R$ 3 bilhões – o restante seria financiado pelo BNDES – a Funcef pode ficar com R$ 300 milhões e a Petros com outros R$ 300 milhões. Ele explicou que os fundos foram procurados pelos três consórcios que disputaram a licença mas decidiram entrar só depois do leilão. Agora, o negócio interessa aos dois fundos de pensão. “Somos investidores estratégicos de longo prazo e temos folga para investir em renda variável”, explicou Lacerda.
Meireles, da Odebrecht, informou que a tarifa de R$ 78,90 oferecida pelo consórcio prevê um custo de construção de R$ 10 bilhões. Mas fontes do mercado financeiro acharam o valor do investimento alto e a tarifa muito baixa, o que poderia resultar em uma taxa de risco elevada para o BNDES. A Cemig já manifestou intenção de elevar sua participação no consórcio dos atuais 10%. Para ficar com essa fatia, Furnas teve que abrir mão de parte dos 49% que detinha inicialmente, ficando com 39%. A explicação à época era que uma participação acionária adicional à de Furnas levaria as duas empresas estatais a ter mais de 50% do consórcio, descaracterizando o modelo de controle privado.
O leilão começou com quase três horas de atraso. A previsão anterior era para 10h mas a sede da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), foi invadida por volta das 6 horas da manhã por manifestantes do Movimento do Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que protestavam também contra a transposição do rio São Francisco.

Fonte: Valor

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