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Competição chega ao resseguro

Dois anos depois da abertura, IRB ainda lidera, mas já cedeu 20% do mercado e começa finalmente a dar sinais de maior competição, graças ao aumento da presença de resseguradoras estrangeiras no país. Um dos indícios é a queda de participação do IRB-Brasil Re no mercado local. A empresa, que teve o monopólio do setor por 69 anos e tinha 100% do mercado, previa perder espaço mais cedo para os concorrentes, mas por conta da crise, isso não ocorreu. Só agora é que sua fatia começa a encolher e está na casa dos 80%.
O setor de resseguros movimentou R$ 1,6 bilhão em prêmios este ano, até maio, segundo os primeiros números sobre esse mercado divulgados pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), que desde a abertura passou a ser o regulador e fiscalizador do setor de resseguros (antes a função era do IRB). Como essas são as primeiras estatísticas, não há base de comparação com 2008, período em que o mercado ainda estava em transição.
O resseguro é um contrato usado para diluir os riscos das seguradoras em grandes apólices, como navios, aviões, fábricas e plataformas de petróleo.
O IRB movimentou R$ 1,3 bilhão em prêmios este ano, mas agora não está mais sozinho. Várias resseguradoras estrangeiras resolveram apostar no mercado brasileiro. Com isso, o IRB, que completou 70 anos em abril, passou a ter competidores. No ano passado, a espanhola Mapfre Re, a alemã Munich Re e a americana XL resolveram abrir empresas no país. Ao todo, a Susep autorizou mais de 60 resseguradoras a operarem no país.
Além delas, o grupo nacional JM Malucelli também resolveu criar uma resseguradora própria.
Só a JM, focada em garantias, teve prêmios de quase R$ 100 milhões este ano, operando para o grupo e para terceiros. “Surpreendentemente, mesmo num ano de crise, estamos crescendo muito e com uma operação com rentabilidade invejável”, diz Alexandre Malucelli, vice-presidente da seguradora.
“Hoje somos o maior gerador de resseguros do ramo de seguro garantia da América Latina”, afirma o executivo.
Eduardo Nakao, presidente de IRB, avalia que o ressegurador ainda pode perder mais um pouco de espaço, algo como cinco pontos percentuais, mais vai seguir como principal empresa do mercado brasileiro, com parcela expressiva dos prêmios.
O executivo atribui à recente perda de participação ao fato de o IRB estar mais seletivo e criterioso para aceitar riscos, seja por conta da crise mundial, seja por causa de sinistros que teve no ano passado e que tiveram impacto em seu balanço.
Em 2008, houve aumento de 20% nos sinistros e este ano, pelo menos até abril, os números ainda são crescentes, diz Nakao. As enchentes em Santa Catarina, as chuvas de granizo em Minas Gerais e acidentes aéreos provocaram vários sinistros e deixaram o IRB em alerta. Segundo a Susep, de janeiro a maio, foram R$ 1,1 bilhão em sinistros no IRB, praticamente tudo o que o mercado registrou (R$ 1,134 bilhão).
Outro ponto que explica a perda de terreno pelo IRB, segundo Nakao, é que as resseguradoras estrangeiras precisam justificar à matriz os investimentos feitos no Brasil. Por isso, costumam ser mais agressivas.
Entre 15% e 18% do mercado de seguros brasileiro pertencem a grupos estrangeiros. São companhias como Allianz, Chubb, Ace e Mapfre, todas com matrizes lá fora. Muitos desses grupos trouxeram suas próprias resseguradoras para o país.
Quando o mercado abriu, Nakao previa que o IRB perderia 20% dos prêmios logo de cara.
Mas a crise acabou tendo influência nas operações. Grandes resseguradoras foram afetadas e frearam investimentos. “Pensamos que a perda de participação relativa fosse mais rápida. Mas aí veio a crise”, diz Nakao.
Com a crise, o resultado foi um aumento de preços no mercado mundial para o resseguro, entre 10% e 20%. Nakao diz que esse movimento de alta de taxas não parou ainda. Deve continuar no segundo semestre, mas em menor ritmo que nos últimos meses.
Em alguns casos, o aumento de preço foi acompanhado por cláusulas mais restritivas, restringindo, por exemplo, algumas coberturas.
No IRB, ainda como reflexo da abertura, Nakao conta que a tendência é a empresa reduzir o volume de retrocessão (quando um ressegurador repassa a outro parte do risco). Como o monopólio, de cada R$ 100 em prêmios, em média R$ 50 era repassado a terceiros.
No novo cenário, para cada R$ 80, deve ceder R$ 30 – ou seja, o volume que o IRB retém permanece o mesmo, mas o cedido cai.
Os números da Susep não refletem ainda o tamanho exato do mercado brasileiros de resseguros.
A razão é que a estatística considera apenas as resseguradoras locais (que abrem efetivamente empresas no Brasil). Não há o cálculo das resseguradoras admitidas, que operam por meio de escritório de representação.
São quase 20 companhias que têm direito a 40% dos prêmios gerados no mercado local.

Fonte: Valor

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