Companhias de TI buscam reduzir impacto ambiental
Os arredores do Moscone Center, o gigantesco centro de exposições da cidade de San Francisco, estão tingidos de vermelho, a cor predominante no logotipo da Oracle. Mas a atual edição do Oracle Open World, a conferência anual da companhia de software, bem poderia ter outra cor: verde.
A preocupação com a preservação do ambiente começa no próprio credenciamento das cerca de 43 mil pessoas inscritas no evento. Os cadernos com a programação da conferência – um calhamaço de 436 páginas – são feitos com papel reciclado, mas o participante tem a opção de abrir mão do livro e levar apenas um pen drive (um chaveiro que armazena dados) que traz as mesmas informações, com a vantagem de caber no bolso. “Going green” é como a Oracle batizou a iniciativa.
Essa disposição de “tornar-se verde” mostra que as companhias de tecnologia da informação (TI) estão mais preocupadas com a preservação ambiental, mas também reflete o fato de que – a despeito de não estarem no grupo das companhias poluidoras – há uma pressão econômica crescente para que seus produtos sejam mais “ambientalmente” corretos.
O foco dessa preocupação é a conservação de energia. “Entre os anos 2000 e 2006, a energia consumida pelos centros de dados (das companhias) dobrou”, disse Paul Otellini, executivo-chefe da Intel, ontem, durante sua apresentação no evento. Isso significa um custo crescente para as companhias, independentemente do setor em que atuam.
Em média, para cada dólar gasto em servidores, são gastos US$ 0,50 para resfriar os equipamentos, afirmou Otellini. Como o volume de dados usados pelas companhias não pára de crescer, o risco de o custo da energia tornar-se oneroso demais parece uma ameaça iminente.
Nos últimos 15 anos, isso de certa forma já vem ocorrendo, disse Otellini. Enquanto os gastos com TI permaneceram relativamente estáveis no período, as despesas com energia para manter os computadores em funcionamento aumentaram substancialmente. O problema, agora, é que com o acesso cada vez maior das pessoas à internet, a massa de informações que circula na rede coloca uma pressão adicional sobre as companhias.
Atualmente, meio trilhão de pesquisas são feitas anualmente em serviços de busca na web, dois bilhões de vídeos são vistos diariamente e cem mil blogs são criados todos os dias. Tudo isso tem um custo de energia – talvez invisível para o consumidor comum, mas muito conhecido dos diretores financeiros.
É por isso que oferecer dispositivos capazes de reduzir esses custos tornou-se um fator comercial importante para as companhias de TI, até como vantagem em relação aos concorrentes. A Intel já havia dado mostras desse interesse em junho, quando se juntou ao Google para lançar a iniciativa “Climate Servers”, que ontem ganhou a adesão da Oracle.
Na segunda-feira, a companhia de semicondutores reforçou a aposta ao lançar seu esperado chip Penryn. Desenhado para servidores – os computadores que administram os recursos em uma rede -, o Penryn é o primeiro lançamento da empresa na tecnologia de 45 nanômetros. O nanômetro é o bilionésimo do metro. As gerações anteriores eram de 65 nanômetros. Grosso modo, isso significa que os transistores embutidos no Penryn são menores. Por isso consomem menos energia e produzem menos calor. Segundo a Intel, o desempenho é 20 vezes superior, como um consumo de energia 30% menor.
As próprias companhias de TI estão provando de seus novos remédios. A Oracle adotou, no ano passado, servidores com uma geração recente dos chips Xeon, também da Intel, em seu programa Oracle University, que atende 350 mil estudantes em 56 países. O resultado é que o número de equipamentos foi reduzido em 70% e o consumo de energia caiu 47%. Em outra medida, a companhia adotou um processo para reciclar a água usada para resfriar seus computadores. “Economizamos 1 milhão de galões de água por ano”, informou Jurgen Rottler, vice-presidente executivo da Oracle.
Fonte: Valor