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Companhia de seguros é mesmo um bom negócio?

É significativo o interesse de investidores estrangeiros e brasileiros em comprar ou fundar uma seguradora em nosso país. Como a imagem do produto “seguro” perante o grande público não é das melhores, esse interesse pode parecer um tanto descabido. Entretanto, quem acompanha de perto o setor sabe que ele pode ser um ótimo investimento, com retornos extremamente interessantes.
Vamos explorar o menos conhecido dos componentes do lucro (ou prejuízo) de uma seguradora, quantificando sua contribuição. Uma parte da atividade de uma sociedade seguradora pode ser entendida como um fundo de investimento alavancado, isto é, um fundo onde o capital dos aplicadores é complementado com recursos obtidos por empréstimos feitos junto a terceiros. Sob este ponto de vista, os “cotistas” deste fundo são os acionistas da empresa, e os segurados atuam como “lenders”, ou seja, que “emprestam” os prêmios pagos pela apólice à seguradora.
Tradicionalmente, o resultado de uma seguradora é determinado por dois fatores. O primeiro é a soma dos prêmios, menos o pagamento dos sinistros e despesas, que chamaremos de “resultado operacional”. O segundo é o resultado dos investimentos feitos pela empresa, que provém de duas bases: a parte do patrimônio líquido não imobilizado na operação securitária e a parcela do resultado obtido com o investimento dos prêmios, enquanto eles não são necessários para pagar sinistros e outras despesas. Esta última (que é, na verdade, o tema principal deste artigo) é precisamente a operação de alavancagem a que já me referi e que entendo ter potencial para gerar uma parcela respeitável do resultado do investimento total da companhia. Se o acionista está certo ao afirmar que o investimento de seu capital nada tem a ver com a atividade de seguros, o mesmo não é correto quando se fala nos investimentos gerados pela alavancagem dos prêmios.
O chamado “resultado de investimentos do seguro” (em contraposição ao “resultado de investimentos do capital”) pode ser significativo. Em uma seguradora que trabalhe com uma relação 1:1 entre prêmio e patrimônio líquido, se o resultado operacional for zero, o “resultado financeiro do seguro” será de 4% do patrimônio líquido, enquanto o resultado financeiro da parte livre do patrimônio líquido será igual a 4,5% dessa base. Constata-se então que a contribuição do resultado de investimentos do seguro ao total do resultado de investimentos será quase igual à sua metade.
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O investimento na área pode dar bom retorno, obedecidos os critérios técnicos
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A contribuição do “resultado dos investimentos do seguro” chega a representar de 4% a 10% do patrimônio líquido das seguradoras em que a soma das despesas não ultrapassa o valor dos prêmios, variando em função do “resultado operacional” e da relação “prêmios” divididos pelo “patrimônio líquido”, podendo chegar a mais de 52% do resultado total dos investimentos.
Todos estes valores dependem, evidentemente, da taxa de retorno dos investimentos, sejam eles os de prêmio de seguro ou da parcela livre do patrimônio líquido. Nos números aqui referidos trabalhou-se com uma taxa de retorno de 9% ao ano. E todos esses valores foram extraídos de um trabalho mais extenso do autor. Resumindo, a geração de valor no negócio de seguro pode ser dividida em três componentes, expostos a seguir:1) A captação de prêmios e administração do pagamento de sinistros. Isto gera o resultado operacional, que é o valor total do prêmio menos a soma das despesas.
2) O resultado da “alavancagem”, ou seja, o investimento do valor dos prêmios enquanto não é gasto na própria atividade (pagamento de sinistros). Este é um resultado da atividade da seguradora geralmente ignorado, por estar embutido no resultado dos investimentos.
3) O investimento da parcela do patrimônio líquido, que não está imobilizado por causa do funcionamento da seguradora, e que certamente nada tem a ver com a avaliação do resultado do negócio chamado “seguro”.
O resultado da “alavancagem” é facilmente quantificável e pode ser muito relevante, na medida em que está ligado exclusivamente às receitas e despesas do negócio e seu fluxo. A compreensão da existência dos três componentes do resultado e de seus mecanismos deve influenciar decisivamente qualquer análise estratégica sobre a decisão de comprar outra seguradora ou de trabalhar para aumentar o market share de uma já existente.

Fonte: Gazeta Mercantil

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