Como DEI prepara líderes e profissionais para um contexto complexo e em constante transformação
Para alcançar o sucesso na inovação, é essencial adotar uma abordagem sistêmica e culturalmente transformadora em toda a empresa. A inovação não se limita apenas ao desenvolvimento pontual de novos produtos e serviços, mas deve permear a cultura e a estrutura organizacional. Nesse sentido, a gestão de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) desempenha um papel crucial na transformação cultural e estrutural das empresas. Então, por que é mais comum associar a inovação a departamentos e investimentos em tecnologia, por exemplo?
As empresas, com metas financeiras, prioridades estratégicas e lideranças focadas em atender às expectativas dos clientes e parceiros, muitas vezes negligenciam questões que vão além do âmbito dos resultados tradicionais de curto-prazo. É importante refletir: quando essas lideranças param para pensar e discutir questões que não estão diretamente relacionadas ao negócio, mas que são, sim, influenciadores desse cenário? Ou será que elas simplesmente ignoram que suas empresas, colaboradores e clientes estão inseridos em um contexto social mais amplo? Quantas são as empresas no mercado segurador que já conseguiram alinhar a diversidade e a inclusão com sua estratégia de negócios, impulsionando a inovação de maneira tangível para além da questão tecnológica?
Durante minha pesquisa sobre “O feminismo empresarial transnacional e o papel dos grupos de afinidade em empresas multinacionais”, como parte do Mestrado Profissional em Governança Global e Formulação de Políticas Internacionais da PUC-SP, concluí que ações de DEI, como os grupos de afinidade, são uma forma de preparar as lideranças e o ecossistema empresarial para lidar com inovações. Além da diversidade de perspectivas, experiências e conhecimentos impulsionarem a criatividade e a inovação nas empresas, as ações de DEI abrem uma porta que convida líderes e profissionais a desenvolver sua diversidade cognitiva e a variedade de pontos de vista ao serem expostos a ações de grupos de afinidade, por exemplo.
Ações de DEI tornam-se parte integrante do ecossistema de aprendizagem das organizações. Grupos de afinidade reúnem diversos atores, como colaboradores, lideranças comunitárias, especialistas no tema e acadêmicos, que representam uma fonte única de vitalidade, aprendizado e transformação. À medida que as organizações buscam se tornar mais globais, multiculturais e flexíveis, é fundamental estimular e valorizar esses agentes de mudança que impulsionarão um processo contínuo de transformação – que é questão de sobrevivência para as empresas, hoje em dia. São esses agentes de mudanças que vão ajudá-las a “tonificar o músculo da inovação”, digamos assim.
Na Liberty Seguros, em junho, como parte das ações do mês do orgulho LGBTQIAPN+, recebemos Gabriela Augusto, especialista em diversidade e inclusão, para uma conversa sobre os conceitos relacionados à sigla. Há algumas décadas não havia tantos debates relacionados a questões de sexo, orientação sexual e gênero, em especial no mundo corporativo. A começar porque a sociedade tinha majoritariamente uma visão binária do tema gênero. Hoje, o mundo está mais complexo, e é necessário que as companhias estejam expostas a temas de complexidade.
Quando trazemos temas de DEI para o dia a dia das empresas estamos preparando líderes e colaboradores a lidarem com contradições, ambiguidades e novas definições presentes na sociedade. Ainda mais importante, treinamos esses profissionais a “desaprender” – a colapsar velhas interpretações que tinham de um determinado tema. A capacidade de lidar e manejar complexidade é chave para a liderança nos dias de hoje, e aí entra DEI como uma ferramenta valiosa.
Portanto, as ações de DEI podem (e devem) ser fonte e método para mudanças transformacionais nas organizações, tornando-se parte integrante do ecossistema de inovação e gestão de mudança das empresas. As pessoas envolvidas em iniciativas que buscam promover uma transformação organizacional devem ser impulsionadas a trazer discussões que estão acontecendo “do lado de fora” da companhia, beneficiando a sustentabilidade da própria empresa também – para além da importância social do tema, que já é óbvia.